Cronista sai num dia chuvoso e encontra a
história de um milagre
Alvaro Tallarico
Foi numa terça-feira chuvosa, daquele tipo que carioca nenhum gosta de sair de casa. Um certo frio pairava sobre aquela manhã. Faltava um buraco qualquer no céu para que eu pudesse ver meu amado sol. Assim mesmo, saí de casa na missão de estar presente na cabine de imprensa do filme “Fátima – A história de um milagre”, que foca em Lúcia, que teria recebido a visita de um anjo e de Nossa Senhora no ano de 1917 junto com seus primos Francisco e Jacinta. Os famosos três pastorinhos de Fátima.
Coloquei minha máscara negra
na boca, peguei o guarda-chuva e caminhei até o metrô. Lembrei de um primo que
odeia guarda-chuva. Não carrega de jeito nenhum, prefere se molhar. Meu casaco
esportivo com Itália escrito comprado em um brechó me acompanhava como um manto
azul. Para o frio carioca estava bom. As poças d’água se espalhavam pelas ruas,
mas não eram páreo para minha bota comprada numa promoção na cidade de
Aparecida do Norte.
De alguma forma, a fé já caminhava no meu inconsciente e nas minhas roupas. Cheguei em Botafogo alguns minutos antes do início do filme, entrei no cinema e escolhi o meu lugar. Fui teletransportado para 1917, ano das aparições de Nossa Senhora para os pastorinhos. Época trágica e triste quando a Europa sofria com a Primeira Guerra Mundial. Aquelas crianças serviram para espalhar uma mensagem de fé e paz. A partir daqueles acontecimentos na Cova de Iria, que começaram em 13 de maio e seguiram até 13 de outubro de 1917, com o milagre do sol, o local deixou de ser vila e virou cidade, cresceu, ficou famoso mundialmente, virou ponto de peregrinação e turismo religioso. Antes da pandemia, aproximadamente seis milhões de pessoas por ano visitavam o local, o qual abriga um dos maiores santuários marianos do mundo.
Foto: Vitor Grando, dezembro de 2017 |
Fátima é uma cidade situada na Serra de Aire, sede da freguesia do município de Ourém, na província da Beira Litoral. Já estive lá. Passei pelos lugares onde o Anjo da Paz teria aparecido, e onde a Virgem Maria se manifestou. Encontrei peregrinos e muitos brasileiros excursionando. Todo o tipo de pedaço de corpo feito com cera estava por lá para agradecer promessas atendidas. Velas e mais velas eram acesas. Tinha todo um caminho específico para pessoas que seguiam de joelho em prova de gratidão.
Afinal, o filme trouxe
lembranças e me fez entender um pouco melhor a fé e suas batalhas. Naquele dia
chuvoso, um buraco no céu nublado então se abriu. Fascinante.
Título e Texto: Alvaro
Tallarico, Diário do Rio, 5-10-2021
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Pode alguém pensar: Fátima sim, mas “Milagre do Sol”, jamais?
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