sexta-feira, 17 de junho de 2022

A abjeta politização das mortes no Amazonas

Responsabilizar Bolsonaro pela morte de duas pessoas numa “terra de ninguém” é a coisa mais torpe que esse pessoal fez até aqui, e olha que a concorrência é acirrada

Rodrigo Constantino

A Polícia Federal confirmou na noite desta quarta-feira (15) que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram assassinados. Os dois estavam desaparecidos na região do Vale do Javari, no Amazonas, desde o dia 5 de junho. Em coletiva de imprensa, o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, informou que os restos mortais dos dois foram encontrados após Amarildo da Costa Pereira, conhecido como “Pelado”, confessar a participação nos homicídios.

Em depoimento, Amarildo afirmou que ajudou a enterrar os corpos do jornalista e do indigenista brasileiro, que teriam sido mortos a tiros. Ele disse que não efetuou os disparos e também não ouviu os tiros. O suspeito afirmou ainda que Bruno trabalhava para combater a pesca ilegal na região, e este teria sido o motivo do crime. Amarildo teria dito aos policiais que os corpos de Dom e Bruno foram queimados, esquartejados e enterrados.

Que os parentes e os amigos dos dois possam encontrar algum conforto espiritual neste momento dramático. A investigação policial foi bem célere, ainda mais em se tratando de uma região inóspita, com floresta densa, dominada por inúmeros grupos criminosos. A outra suspeita, além da pesca ilegal, recai sobre o narcotráfico, incluindo traficantes peruanos que atuam naquela área. É um local com muitas riquezas naturais, mas sem nenhum desenvolvimento social. A presença do Estado é parca, ou seja, é aquilo que chamamos popularmente de “terra sem lei”.

Leonardo Coutinho escreveu uma coluna na Gazeta do Povo resgatando as impressões de Euclides da Cunha quando esteve naquela região, concluindo que a violência no local é endêmica e atravessa o tempo. Coutinho explica: “A Amazônia que o jornalista viu segue muito parecida 123 anos depois. Naquela época, eram os seringueiros que apartavam e matavam índios para liberar a floresta para a extração do látex. Assim como essa prática sinistra, caucheiros, regatões e outros personagens da expansão pioneira da fronteira já não existem. Eles foram substituídos por garimpeiros, grileiros, pescadores ilegais e, principalmente, os traficantes”.

São várias causas para essa situação, claro. Mas o cerne da questão é a ausência do Estado e um modelo de exploração predatória em vez de sustentável e calcada na propriedade privada. Coutinho comenta: “Todos, ou quase todos, os esforços de ocupação e de ‘desenvolvimento’ da Amazônia passam pelo extrativismo. A inexplicável insistência em um modelo econômico sustentado pela exploração da floresta — seja de forma predatória, seja de maneira ‘sustentável’. Uma ilusão que não só condena a região à pobreza, mas também ao crime e a todo tipo de ilegalidades relacionadas ao modelo econômico imposto à região, que, em essência, se resume a explorar a floresta e seus recursos”.

Nesse cenário, a disputa pelo poder e pelas riquezas se dá por meio da violência ilegal, já que não há nada semelhante ao Estado de Direito. É análogo ao que acontece nas favelas cariocas, com um “Estado” paralelo criado pelo narcotráfico ou por milícias. Um debate sério sobre como mudar essa realidade triste passa pela criação de um mecanismo adequado de incentivos, para que a exploração seja racional, e as disputas se deem por meio do sistema legal. É mais fácil falar do que fazer, mas casos como o do faroeste norte-americano demonstram ser possível esse caminho.

A esquerda, porém, não quer saber de nada disso. Com sua visão romântica de mundo, ela parte da premissa absurda que o capitalismo é o problema, que “preservar” uma floresta quase da dimensão da Europa seria a melhor solução para o planeta — e para o povo do Amazonas. O atual governo adotou uma postura bem diferente, focando nos indivíduos, lembrando que os cerca de 20 milhões de amazonenses possuem o pior IDH do país, e que esse modelo “progressista”, que trata índios como mascotes numa espécie de zoológico humano, atende apenas aos interesses de membros de ONGs que ficam jantando em Paris para debater o assunto.

Quando a missionária Dorothy Stang foi morta, com sete tiros, em 2005, ninguém achou prudente culpar o então presidente Lula pelo episódio

Essa mudança provocou imediata reação, já que são muitos interesses em jogo, e o governo Bolsonaro fechou torneiras para recursos que alimentam essas ONGs. Há muita gente que vive da exploração dessa miséria, e que encontra no discurso ambientalista radical um atalho para o sucesso financeiro. Daí a revolta com o atual presidente. Mas essa turma esconde isso com um discurso sensacionalista, como se o presidente estivesse ao lado dos criminosos da região, e não se importasse com os índios. Para quem tem uma visão estética de mundo, tudo que importa é a narrativa, a imagem.

E essa turma viu no desaparecimento do indigenista e do jornalista uma oportunidade de ouro para atacar uma vez mais Bolsonaro. Antes de a polícia desvendar o caso, o presidente do STF, o ministro Luiz Fux, anunciou a criação de um grupo de trabalho para monitorar o episódio do desaparecimento da dupla. A frente vai contar com a presença do ator e diretor Wagner Moura, defensor da extrema esquerda. Também integram a frente de trabalho do CNJ o fotógrafo Sebastião Salgado, a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha e a juíza auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça Lívia Cristina Marques Peres. É tudo um grande teatro!

Mas pior do que tentar tirar um proveito de imagem com o caso é acusar o presidente pelo sumiço ou pela morte dos dois. E teve jornalista que fez exatamente isso! Responsabilizar Bolsonaro pela morte de duas pessoas numa “terra de ninguém” como a Amazônia é a coisa mais abjeta que esse pessoal fez até aqui, e olha que a concorrência é acirrada. São os mesmos que culpam o presidente por cada morte na pandemia, ignorando as mortes em igual proporção na vizinha Argentina, governada por um lulista.

São abutres que sambam em cima de cadáveres, que nem sequer esperam o sangue esfriar e já sobem em corpos sem vida para fazer palanque eleitoral. É prova de total falta de empatia. Muitos tentaram forçar uma associação com o caso da vereadora do Psol, Marielle Franco, insinuando que Bolsonaro seria um assassino. Até onde vai a ambição dessa gente pelo poder? Não há nenhum limite ético para seus objetivos políticos? Seus “nobres” fins justificam quaisquer meios, por mais podres que sejam? São perguntas retóricas. Sabemos as respostas. A esquerda radical é capaz de tudo. Celso Daniel que o diga.

Em suma, podemos e devemos debater sobre como levar mais prosperidade e segurança para a Região Amazônica. Como liberal, estou convencido de que a receita “progressista” é uma desgraça. Concordo com a conclusão de Leonardo Coutinho no texto mencionado acima: “A ausência do Estado, combinada com o ilusionismo do ambientalismo ongueiro, é o pano de fundo da tragédia. Enquanto isso não mudar, a Amazônia e os amazônidas seguirão à margem da história”.

Mas, mesmo discordando totalmente da luta do indigenista e da ideologia do jornalista, que foram assassinados, óbvio que todos sentimos a perda e lamentamos o ocorrido. O que não é razoável é ignorar o perigo que eles sabiam estar correndo. E o que é muito menos aceitável ainda é, de alguma forma, tentar responsabilizar o atual governo pelas mortes. Quando a missionária Dorothy Stang foi morta, com sete tiros, em 2005, ninguém achou prudente culpar o então presidente Lula pelo episódio. É simplesmente abjeta a politização das mortes na Amazônia.

Título e Texto:  Rodrigo Constantino, Revista Oeste, nº 117, 17-6-2022

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3 comentários:

  1. Um grosso comenta. 63000 pessoas desapareceram no Brasil em 2021. Muitas morrem nas favelas e seus corpos jamais são encontrados mortos pelo crime organizado. Pior nós pagamos pela procura. Fossem esses mortos no Rio não falariam nada.

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