quinta-feira, 11 de agosto de 2022

[Daqui e Dali] Só veem o que quer que vejam

Humberto Pinho da Silva

É sabido que o povo não tem parecer. Não passa de mero repetidor do que ouve. Acredita sem investigar. Crê na velha imprensa, e pensa consoante ela quer que pense.

Era assim no passado e é ainda no presente.

Com bom grado aceita qualquer parecer ou ideia, desde que seja repetida com frequência e venha ao encontro de seus desejos e instintos.

Basta que lhe digam: lá fora, as elites pensam assim, para as massas acéfalas, acreditem piamente.

Em geral não veem o que observam, mas somente o que querem que veja; pensam o que as figuras públicas querem que pensem. Pensam que pensam, mas não pensam.

Em: " Notas Contemporâneas", Eça refere-se a conhecido pintor parisiense, que lhe disse: - "A multidão vê falso" – e continuou: - "Vê: em Portugal sobretudo pela aceitação passiva das opiniões impostas, pelo apagamento das faculdades críticas, por preguiça de exame – o público vê como lhe dizem que é. Se amanhã o Diário de Notícias ou outro órgão estimado, declara que o Hotel Aliança, ao Chiado, é uma maravilhosa catedral gótica, e insiste isto, no local e no folhetim – e numa semana, o publico virá fazer no Largo do Loreto semicírculos estáticos, e verá, positivamente verá as ogivas, as rosáceas, as torres, as maravilhosas esculturas do Hotel Aliança."

O parecer do vulgo é inconstante: pensa, vê e ouve, o que os fazedores de opinião, querem que pensem, vejam e ouçam.

As elites levam o povo, que é favorável a certa causa, ser amanhã – levado por demagogos, ter opinião contrária.

Não foi Cristo condenado, apesar do povo ser-lhe favorável, a ponto de O proclamarem Messias, e a autoridade romana dizer: que não encontrou motivo para O condenar?!

Bastou sacerdotes hipócritas falarem ao povo, para este mudar de opinião.

Disseram: o povo quer... e quis mesmo...

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, julho de 2022

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