Jonah Goldberg
É na questão do ambientalismo,
mais que em qualquer outro lugar, que a ideia da Direção Errada se expressa de
forma mais incisiva, tanto no nacional-socialismo quanto no pensamento liberal
moderno. Como muitos já observaram, o ambientalismo moderno está permeado por
negras visões rousseaunianas sobre a doença da civilização ocidental. O homem
perdeu sua harmonia com a natureza, seu modo de vida é inautêntico, corruptor,
inatural.
Talvez o mais destacado expoente dessa visão seja o ubíquo Al Gore [foto], sem dúvida o mais popular liberal na América. Como escreve ele em seu totalmente pós-moderno manifesto, Earth in the balance (A Terra em balanço): “Nós nos envolvemos com as sedutoras ferramentas e tecnologias da civilização industrial, mas isso apenas cria novos problemas à medida que nos tornamos crescentemente isolados uns dos outros e desconectados de nossas raízes.”
Gore, obstinadamente santifica
a natureza, argumentando que fomos “amputados” de nossos selves
autênticos. “A efervescência e o frenesi da civilização industrial mascaram
nosso profundo anseio por aquela comunhão com o mundo que pode elevar nossos
espíritos e preencher nossos sentidos com a riqueza e a imediaticidade da própria
vida.”
Sem dúvida, pode-se encontrar
afirmações semelhantes entre todos os tipos de românticos, inclusive Henry
David Thoreau. Mas lembremo-nos de que o fascismo alemão nasceu de uma revolta
romântica contra a industrialização que espelhava, filosoficamente, aspectos de
transcendentalismo. A diferença é que, enquanto Thoreau buscava separar-se da
modernidade, Gore busca traduzir sua animosidade romântica contra a modernidade
em um programa de governo.
(…)
No entanto, em última instância, o que há de fascista no ambientalismo não são suas etéreas e obscuras suposições metafísicas a respeito do infortúnio existencial do homem. Em vez disso, seu ingrediente fascista mais tangível é o fato de ser um inestimável “mecanismo de crise”. Al Gore conscientemente insiste em que o aquecimento global é a crise definidora de nossos tempos.
Céticos são chamados de
traidores, negadores do Holocausto, instrumentos dos “interesses do carbono”. Alternativamente,
ambientalistas progressistas apresentam-se no papel de samaritanos protetores.
Quando Gore compareceu perante o Congresso no início de 2007, declarou que o
mundo está com “febre” e explicou que, quando seu bebê tem febre, você e
explicou que, quando seu bebê tem febre, você “toma providências”. Você faz o
que quer que o seu médico diga.
Não há tempo para debate,
nenhum espaço para discussões. Precisamos ir “além da política”. Em termos
práticos, isso significa que precisamos nos render ao Estado-babá global e
criar o tipo de “ditadura econômica pelo qual anseiam os progressistas.
A beleza do aquecimento global
é que ele comparece em tudo o que fazemos – o que comemos, o que usamos, aonde
vamos. Nossas “pegadas de carbono” são a medida do homem. A habilidade do
ambientalismo de fornecer significado é o que deve nos interessar aqui. Quase
todos os ambientalistas comprometidos subscrevem alguma variante da tese da
Direção Errada.
Nesse aspecto, Gore é mais
eloquente que a maioria. Ele entra em êxtase quando fala sobre a necessidade de
se alcançar autenticidade e significado por meio da ação coletiva; ele usa uma
infindável série de metáforas violentas sobre como as pessoas devem “lutar na
resistência” contra o regime putativamente nazista responsável pelo novo
Holocausto do aquecimento global (novamente, na esquerda, o inimigo é sempre um
nazista).
Gore culpa Platão ou Descartes
ou Francis Bacon, alternadamente, de serem os machos brancos que, como
verdadeiras serpentes, tentaram a humanidade e a fizeram tomar a direção errada
e sair do passado edênico. O que se requer agora é que reunamos nossos
intelectos, nossos impulsos espirituais e nossos instintos animais num novo
equilíbrio holístico. Nada poderia ser mais fascista.
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