quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Fascismo verde

Jonah Goldberg

É na questão do ambientalismo, mais que em qualquer outro lugar, que a ideia da Direção Errada se expressa de forma mais incisiva, tanto no nacional-socialismo quanto no pensamento liberal moderno. Como muitos já observaram, o ambientalismo moderno está permeado por negras visões rousseaunianas sobre a doença da civilização ocidental. O homem perdeu sua harmonia com a natureza, seu modo de vida é inautêntico, corruptor, inatural.

Talvez o mais destacado expoente dessa visão seja o ubíquo Al Gore [foto], sem dúvida o mais popular liberal na América. Como escreve ele em seu totalmente pós-moderno manifesto, Earth in the balance (A Terra em balanço): “Nós nos envolvemos com as sedutoras ferramentas e tecnologias da civilização industrial, mas isso apenas cria novos problemas à medida que nos tornamos crescentemente isolados uns dos outros e desconectados de nossas raízes.”

Gore, obstinadamente santifica a natureza, argumentando que fomos “amputados” de nossos selves autênticos. “A efervescência e o frenesi da civilização industrial mascaram nosso profundo anseio por aquela comunhão com o mundo que pode elevar nossos espíritos e preencher nossos sentidos com a riqueza e a imediaticidade da própria vida.”

Sem dúvida, pode-se encontrar afirmações semelhantes entre todos os tipos de românticos, inclusive Henry David Thoreau. Mas lembremo-nos de que o fascismo alemão nasceu de uma revolta romântica contra a industrialização que espelhava, filosoficamente, aspectos de transcendentalismo. A diferença é que, enquanto Thoreau buscava separar-se da modernidade, Gore busca traduzir sua animosidade romântica contra a modernidade em um programa de governo.

(…)

No entanto, em última instância, o que há de fascista no ambientalismo não são suas etéreas e obscuras suposições metafísicas a respeito do infortúnio existencial do homem. Em vez disso, seu ingrediente fascista mais tangível é o fato de ser um inestimável “mecanismo de crise”. Al Gore conscientemente insiste em que o aquecimento global é a crise definidora de nossos tempos.

Céticos são chamados de traidores, negadores do Holocausto, instrumentos dos “interesses do carbono”. Alternativamente, ambientalistas progressistas apresentam-se no papel de samaritanos protetores. Quando Gore compareceu perante o Congresso no início de 2007, declarou que o mundo está com “febre” e explicou que, quando seu bebê tem febre, você e explicou que, quando seu bebê tem febre, você “toma providências”. Você faz o que quer que o seu médico diga.

Não há tempo para debate, nenhum espaço para discussões. Precisamos ir “além da política”. Em termos práticos, isso significa que precisamos nos render ao Estado-babá global e criar o tipo de “ditadura econômica pelo qual anseiam os progressistas.

A beleza do aquecimento global é que ele comparece em tudo o que fazemos – o que comemos, o que usamos, aonde vamos. Nossas “pegadas de carbono” são a medida do homem. A habilidade do ambientalismo de fornecer significado é o que deve nos interessar aqui. Quase todos os ambientalistas comprometidos subscrevem alguma variante da tese da Direção Errada.

Nesse aspecto, Gore é mais eloquente que a maioria. Ele entra em êxtase quando fala sobre a necessidade de se alcançar autenticidade e significado por meio da ação coletiva; ele usa uma infindável série de metáforas violentas sobre como as pessoas devem “lutar na resistência” contra o regime putativamente nazista responsável pelo novo Holocausto do aquecimento global (novamente, na esquerda, o inimigo é sempre um nazista).

Gore culpa Platão ou Descartes ou Francis Bacon, alternadamente, de serem os machos brancos que, como verdadeiras serpentes, tentaram a humanidade e a fizeram tomar a direção errada e sair do passado edênico. O que se requer agora é que reunamos nossos intelectos, nossos impulsos espirituais e nossos instintos animais num novo equilíbrio holístico. Nada poderia ser mais fascista.

Título e Texto: Jonah Goldberg, in “Fascismo de Esquerda – a história secreta do esquerdismo americano”, Editora Record 2009, páginas 426 e 427
Digitação: JP, 5-10-2022

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