segunda-feira, 30 de setembro de 2013

[O cão tabagista conversou com…] Jonathas Filho: “a vida tem certas ironias que, perguntadas, só fazem sentido muito depois”

Meu nome completo é Jonathas Ribeiro Antunes Filho, natural de Rio de Janeiro, Brasil, nascido no subúrbio de Anchieta, RJ, em 03 de Setembro de 1945. Aos meus sete anos nossa família mudou-se para a Glória, e do prédio onde morava eu via os pousos de DC-3, Skandias, Curtis Comanders, C-82, DC-4, Convairs e outros aviões.

Fiz todo o primário, agora 1º grau, na Escola 3-2 Deodoro, na Glória, RJ, e após passar no Exame de Admissão em 3 colégios, fui estudar no Colégio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, RJ, no início, na parte diurna e, posteriormente, na noturna, pois comecei a trabalhar cedo numa loja de passagens chamada Aerolândia (seria outro sinal?), na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Santa Luzia, no Centro. Trabalhei também na G.E e na Siga Turismo, de onde saí para "sentar praça" na Aeronáutica. Fiz toda a fase de recrutamento na Escola de Aeronáutica, hoje Academia da Força Aérea, no Campo dos Afonsos, RJ. Após o recrutamento fui terminar de servir a Pátria no Instituto de Seleção Controle e Pesquisa, hoje CEMAL, que ainda estava localizado no prédio do Ministério da Aeronáutica, próximo ao SDU. Mais outro sinal? 

4º ano primário
Dei "baixa", mas como precisava colaborar com as despesas de casa, não retornei aos estudos. Morando naquela época na Glória, não era tão complicado sair cedo para trabalhar em Copacabana numa loja de departamentos, na seção de Crédito & Cadastro. Por ter faltado numa quarta-feira de Cinzas, fui defenestrado e fui trabalhar no escritório de uma empresa no centro de nome Interama Representações, no Edifício Avenida Central. Insatisfeito com o salário fui trabalhar no Santapaula Quitandinha Clube, cuja sede era em São Paulo mas tinha essa filial aqui. Fui muitas vezes trabalhar no Quitandinha, em Petrópolis, e posteriormente, com o lançamento de um Plano de aquisição de veículos tipo consórcio, fui convidado a subgerenciá-lo.

Um dia, um cliente que eu tinha ajudado na aquisição de um carro, me perguntou se eu não queria sair da mesmice e abandonar a rotina. Era um flight engineer dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, que depois foi para a Transbrasil onde saiu Comandante de B-767 e se aposentou pelo Aerus. É meu amigo de longa data, e numa das últimas manifestações eu o encontrei e tiramos fotos juntos. Quanto ao convite dele, não disse que sim ou que não, mas guardei o impresso com a proposta, a qual preenchi e enviei posteriormente para a Escola de Comissários da Cruzeiro do Sul. Dias depois, fui chamado para uma entrevista de avaliação, na Urca, no mesmo prédio onde posteriormente também dei expediente. Fui avaliado que poderia fazer os exames médicos na Aeronáutica; os fiz e fui considerado "apto para o fim a que se destina”. Comecei o curso de três meses no final de 1969, fui aprovado pelo antigo D.A.C. em 1º lugar e comecei a "voar" no princípio de 1970.

Qual foi o seu primeiro voo?
Fiz um CWB (Curitiba) bate e volta, na minha tripulação estava uma comissária que foi minha colega de curso, que em 1972 casou-se comigo e continua me servindo breakfast com ovos mexidos há mais de 41 anos. Meu nome de guerra na Cruzeiro era só Jonathas, pois o número de tripulantes era bem pequeno se comparado com o número desses profissionais na Pioneira. 

Que equipamentos voou na Cruzeiro?
Voei YS11-A, Caravelle VI-R, B-727-100, B-737-200, DC-9 Super 80 e Airbus A-300-B4.


E quando foi para a Varig?
Em 1975, a FRB – Fundação Ruben Berta, holding de várias empresas incluindo a Varig, comprou a Cruzeiro. Mas não começamos a voar juntos como foi veiculado. No princípio foram demitidos os colegas mais novos da Cruzeiro e admitidos na Varig no dia seguinte. Restaram aqueles com mais tempo, e fomos ficando sem trilhos (voos que a Varig adicionava à sua rede), e nessa época eu fui convidado para dar instrução a bordo, tanto nos aviões Varig como nos da Cruzeiro, nos voos de B-707 e posteriormente no A-300 e B-767-300.
Todos os comissários mais antigos da Cruzeiro foram demitidos num dia de julho de 1985 e admitidos no dia seguinte, na Varig, com a matrícula 59 mil. Meu nome de guerra passou a ser Jonathas Filho



Como foi a adaptação à Varig?
Durante todo o período de entrosamento, para ser sincero, sofremos uma espécie de preconceito, pois tínhamos sido da Cruzeiro et pour cause considerados menos capazes do que os "nativos" variguianos. Mas isso não partia de quem voava DC-10 ou B-747. Era de uma turma de "garotos e garotas jovens com apenas alguns meses de praia" que voavam A-300 e B-767, pois ainda sem saber o porquê da nossa passagem para a Varig temiam pelos seus empregos dado ao número e à contingência. Incrível, mas tinha gente que foi admitida em dezembro de 1985 que tinha tal preconceito e era até mais nova que nós na própria Varig. Cochichava-se: ele é matrícula 59.000, ex-Cruzeiro.

Já na Varig como foi a sua carreira?
Nessa época fui convidado pelo Sr. Sérgio Prates, Diretor do Serviço de Bordo, para ser Assistente Técnico dos Equipamentos B-767 e A-300, no prédio do SDU (Santos Dumont) e posteriormente no prédio da Urca. Lá trabalhei com os gerentes de HV-Gerência do Comissariado de Voo: Sr. NORTON Osório, Dona ALICE Editha KLAUS, Clement CLIMIS Theodoridis e REIS MOREIRA, quando retornei à linha. Apesar de trabalhar em HV, fazia dois ou três voos mensais, quando isso era possível, e voava na função. Comecei a estudar coreano e fiz uma primeira prova dez meses depois tirando nota 5,5 e não fui para a pretendida Rota LAX. Estudei mais, em casa, nos pernoites, com fitas cassete, vi filmes coreanos, até música gospel coreana cantei. Mais quatro meses fiz outra prova e tirei 7 que me guindou à Rota LAX, e ainda assim continuei estudando. 


Em 1989 me inscrevi para o Baseamento de Los Angeles e para lá fui em 1º de Maio de 1990 para passar 3 anos. Minha família foi comigo, incluindo a minha doce Warm of Tropical Sun, uma "cã" Schnnauzzer maravilhosa que nos fez companhia por 13 anos. Morei em Torrance nesse tempo. Minha filha estudou e trabalhou lá e meu filho fez o High School também. Eu tinha um amigo coreano, Mr. Park, na Jefferson School, onde fiz o "Americanization Course" e ele precisava de algumas dicas de inglês e eu de coreano, daí a amizade propiciada pela afinidade. Quando voltamos para o Rio de Janeiro, em maio de 1993, minha filha ficou em Los Angeles e hoje está formada pela University of Long Beach como Master Doctor of Dance, trabalhando, casada e com dois netos meus de 10 e 7 years old. Meu filho voltou antes e fez Artes Plásticas na UFRJ. Casou, separou, mas tem uma filha que é a jóia da Coroa: talentosa e inteligente, uma criatura ímpar.

Voltei a voar na Rota Lax e em 1994 fui solicitado para ir pra Hong Kong para passar seis meses. Adorei. Minha mulher me acompanhou nesse baseamento também. Conheci aquela parte da China, fui a Lantau Island, fui à Tailândia de G.C. curtir a Ilha de Phuket, fui a Sun City na Africa do Sul…

Num dos voos, de Joanesburgo para Hong Kong, o querido Herculano teve uma síncope indo ao óbito em poucos segundos. Eu passava por ele no momento e prestei os primeiros socorros juntamente com o Comissário Wei, com massagem cardíaca e respiração boca a boca, igual ao procedimento que anualmente fazíamos nas reciclagens do CTC. Tudo em vão. Mais tarde, vim a saber que o coração do Herculano "rasgou, rompeu-se" o que pode ter sido causado pela pressão exagerada em um dos átrios, conforme nos disse posteriormente o despacho de Bangkok.

Retornei desse baseamento e meses depois fui para o mini-baseamento em LAX. Aluguei um pequeno studio em Redondo Beach perto da casa da minha filha, e assim nem aluguei ou comprei carro pois usava o dela enquanto ela trabalhava. Nessa época, eu e minha mulher nos divertimos mais pois as "crianças" não eram mais crianças e não estavam presas à saia da mãe.
Retornei em 31 de Dezembro de 1995 e novamente à Rota LAX. Como já tinha tempo suficiente para me aposentar pelo Aerus (já estava aposentado pelo INSS há alguns anos) pensei que seria uma boa oportunidade voltar a estudar e fazer uma faculdade, talvez Medicina, who knows? Voei mais um mês e tive de pedir demissão pois não quiseram fazer o acordo do Programa de Aposentadoria Voluntária da Varig para me aposentar pelo Aerus, o que ocorreu em 31 de Janeiro de 1996.

Tem alguma (ou algumas) lembrança relevante de pernoite que queira dividir conosco?
Que me desculpem alguns colegas que, mesmo em voos com pernoites de dias inativos, se encerravam em seus leitos e só eram vistos na apresentação para o voo de retorno. Alguns diziam que o sono os “alimentava”.
Particularmente, eu tenho muitas recordações de pernoites, recheados de alegria, diversão e outras situações que exponho a seguir.  

Os voos com dias inativos, ainda na fase em que eu voava na Cruzeiro, principalmente Belém e Manaus, onde o almoço e o jantar eram sempre uma verdadeira reunião de amigos que se entretinham por horas, conversando e contando casos. Manaus, no princípio da Zona Franca, era sempre um convite para se adquirir uma camisa Lacoste, um relógio Seiko, uma câmera Olympus ou um tênis All Star, dentre outras novidades.
Ponto especial para o Tambaqui excelentemente preparado no Hotel Amazonas.

Belém tinha a feira do Ver-o-Peso onde nós comprávamos Dourados, Filhotes, e outros peixes para fazer na brasa ou em caldeirada no Hotel Selton. Nesse hotel, além da piscina havia uma quadra de areia com rede para jogarmos vôlei, e isso sempre foi uma das melhores diversões matinais em Belém.
Em Recife ou Fortaleza, as praias caprichosamente nos levavam a consumir peixes fritos e cervejas, ali mesmo, debaixo da barraca, na areia.

Em Buenos Aires, ainda no Caravelle da Cruzeiro, os pernoites eram muito especiais em termos de carne e “bife de chorizo y papas fritas” era o pedido normal de todo tripulante. Ir à “La Boca”, bairro boêmio e escutar um “tangozo” e vê-lo dançado por exímios dançarinos era o “must”.
Na fase internacional, os inativos em Miami, nos primeiros voos de Airbus, passavam-se 3 dias e muitos foram consumidos em visitas à Disneyworld, ao Sea Aquarium, em Miami Beach, Ball Harbour, Fort Lauderdale, Key West e outros lugares. Posso dizer que a Flórida é linda. 

Nos dias inativos em Montreal, na fase do B-767-300ER, era super interessante. Uma cidade subterrânea onde o frio e a neve não são convidados. Restaurantes, lojas, boates, cinemas, supermercados, tem de tudo lá em baixo incluindo igrejas. O povo canadense além de hospitaleiro é alegre e solidário. A piscina aquecida no último andar do Sheraton era uma delícia.

Na rota LAX, em Los Angeles, aprendi a dirigir como “gente educada no trânsito”. Os inativos aconteciam vez ou outra mas, na maioria das vezes, era chegar, tomar banho, ir à Fourth  Street fazer compras, comer no Sizzler, ir a Hollywood ou na Rodeo Drive, jantar e dormir para estar “inteiro” na volta para o GIG ou SAO.

El Segundo, Los Angeles
Acionado na reserva, fiz alguns voos para cidades europeias mas sem qualquer situação relevante para mencionar.
No baseamento em Los Angeles, os pernoites sempre eram a garantia de alegria, pois tínhamos inativos em Narita e Tóquio e posteriormente em Nagoia. 

Castelo de Nagoia
Além dos magníficos Templos, o metrô de Tóquio, cuja malha é imensa, só não nos levou à Lua. Até ir ao mercado era uma diversão. Tudo limpo, arrumado e espaçoso como uma sala de cirurgia. As lojas, um requinte. Tem estações de metrô em tudo que é lugar. Tem bairros que só vendem tecidos, linhas, botões, agulhas e correlatos. Em Akihabara, só eletrônicos, desde pequenas resistências simples até chips diminutos, além das aparelhagens de áudio & vídeo e foto, cada vez menores. Tem um que é só de brinquedos, uma verdadeira loucura para crianças e adultos. E é claro, Shinjuco... o bairro da noite com muitas casas de diversões, boates, cinemas e bares. 

O Grande Buda de Kamakura (Kamakura Daibutsu)
Em Joanesburgo, durante o Baseamento HKG tínhamos dias inativos e conhecemos Sun City que fica afastada umas 3 horas de JNB e muitos foram ao National Park Kruger Safari ver os animais ao vivo e soltos. Conheci Soweto, a maior favela do mundo criada pela segregação racial. 

Em Joanesburgo, presenciei com a minha mulher, sentado à mesa do restaurante do Hotel em que pernoitávamos, uma cena de discriminação racial praticada mesmo após a eleição de Nelson Mandela como Presidente da República Sul-africana. Um senhor negro não sul-africano e sua acompanhante (me parecia esposa), ele num elegante terno e ela com um vestido que poderia ter sido produzido por um grande estilista internacional, sentaram-se à mesa ao lado da nossa e no segundo seguinte, um garçom, também negro, lhes sussurrou que não poderiam sentar ali, pois era uma área reservada só para brancos e lhes encaminhou para um local externo com mesas e cadeiras. O local designado estava totalmente vazio. Fiquei estarrecido, envergonhado e decepcionado. Minha mulher idem pois pensava que o apartheid era coisa do passado, mas ainda estava vigente... e como.

No baseamento Hong Kong ficamos no Hotel Panda, em Kowloon, e conheci bastantes coisas, vários templos, sendo o “Ten Thousand Bhudas” o que mais me chamou a atenção; o mercado de peixes (vivos) mais interessante que eu vi com todas as espécies exóticas de animais marinhos que jamais pensei que existissem; a Temple Street uma espécie de camelódromo muito grande onde alfaiates fazem ternos em uma hora e onde se vende de tudo; a rua dos pássaros ornamentais e gaiolas artesanais lindíssimas; o metrô que depois que sai da parte continental tem uma parte submersa de mais ou menos 10 minutos, que nos leva até à ilha de Hong Kong com imensos arranha-céus de uma arquitetura futurista.

Uma cultura completamente diferente, milhões de pessoas disputando o espaço para dormir, verdadeiros edifícios dormitórios, vários moradores por unidade se revezando em turnos, pois quem trabalha muito cedo dorme durante a tarde, quem trabalha à tarde só vai dormir na cama daquele que saiu para trabalhar à noite.
Culturas diferentes, alimentos diferentes, vidas diferentes. Numa oportunidade, vimos uma mulher entrar numa lojinha que parecia um pequeno galinheiro e vimos o que ela pediu em chinês. Era um lagarto vivo de mais ou menos trinta centímetros que o “açougueiro” pegou dentro de uma jaula, cortou-lhe a cabeça, o rabo e as pernas, embrulhou num papel e entregou o resto do corpo do bicho à mulher que sequer piscou. Ela pagou, agradeceu e saiu. Eu e minha mulher ficamos boquiabertos e fomos comer um fast-food no MacDonald’s próximo.
A maioria dos restaurantes tem patos laqueados que parecem ter sido aplainados por uma motoniveladora. As meias-bandas de porcos “reluzentes” já assados também ficam expostas nas portas dos restaurantes. Comi umas vezes e é muito agradável o sabor. As comidas ocidentais são caras e yakisoba é sempre uma solução.

Abraçou outra atividade depois da aposentadoria?
Voltei a estudar, mas a vida tem certas ironias que, perguntadas, só fazem sentido muito depois. Circunstâncias à parte, tive de voltar a trabalhar, em 2006 meus ganhos do Aerus caíram drasticamente e resolvi não estudar mais. Ficamos, eu e minha mulher, sem um plano de saúde decente que nos permitisse internações se necessárias fossem. Até o momento, graças a Deus e à nossa natureza, não precisamos. Passei a fazer academia, malhando de segunda a sexta na musculação e corrida em esteira. Voltei aos estudos, mas via internet e pelos livros que me agreguem conhecimento. Parei definitivamente de trabalhar em 2010, pois o que eu fazia era por demais estressante, e antes de morrer de enfarte preferi reduzir o meu orçamento mensal ao máximo para poder ainda ter alguma paz nessa minha caminhada. Como diria Lulu Santos, "vamos nos permitir", certo?

Inegavelmente, a situação financeira de qualquer aposentado comum, fica a cada dia mais difícil, com o custo de vida inflacionado e desproporcional à receita de cada um, o que nos impede de ter uma velhice digna. Apesar das vicissitudes, em especial o que nos ocorre em detrimento à falta das complementações do Aerus, graças a Deus e à Natureza tenho tido saúde, força e perseverança nessa procura incessante por dias melhores. Isso tudo com semblante alegre carregado de sorrisos, como se eu estivesse a 13.000 metros de altitude, servindo o Jantar na First Class de um Jumbo da Varig.

Você se aposentou em 1996. Como acompanhou, depois, o desfalecer da Empresa?
Por morar na Ilha do Governador, onde mora uma grande quantidade de ex-variguianos colegas de voo e aeroviários, vivemos nos encontrando por acaso em supermercados, em lojas, até em consultórios médicos e feiras. Nesse “vai e vem” do dia a dia nós temos o prazer de conversar e intercambiar informações. Assim sendo, fomos pouco a pouco nos informando ou por esses encontros ou por e-mails que sempre trocávamos.

Um fato à parte: em 2002, quando eu aguardava o atendimento no consultório de um cardiologista, uma colega de voo, coreana, que voou várias vezes comigo na Rota LAX, lá apareceu para uma consulta acompanhada pelo marido. Ela me apresentou a ele e conversamos “amenidades” até que ele me perguntou se eu era participante do Aerus. Disse-lhe que sim e ele confidenciou-me que tinha “mandado” que ela, a esposa, saísse do Aerus o mais rapidamente possível e que retirasse os valores que lhe tinham sido descontados, pois o fundo de pensão estava literalmente quebrado. Semanas atrás, naquela época, eu havia recebido via correio um folheto do Aerus com o resultado de auditoria executada por profissionais de uma empresa de âmbito internacional, e por isso achei que ele devia ter “avaliado” muito mal as informações que foram passadas para ele. Eu sabia que a Varig enfrentava uma crise, mas isso era cíclico na Varig, vez por outra a palavra crise aparecia para ser utilizada como “barganha”, principalmente quando próximas estavam as negociações de reajustes salariais e/ou dissídios coletivos da categoria.
Até aí tudo bem, mas o Aerus estava bem, segundo os Auditores. Lembro disso até hoje e serviu-me de “mote” para escrever sobre as maquiagens da realidade. Quanto deve ter “custado” essa Auditoria? Alguém sabe? Alguém viu?


Voltando ao acompanhamento do “apagar das luzes”, a minha lista de contatos de e-mail não é extensa, mas diariamente trocava correspondências eletrônicas com colegas da Varig, no Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo, Paraná, Sorocaba, Manaus, Belém e de outras cidades no Brasil afora, assim como em Los Angeles e em Paris. Com o advento das redes sociais, estendemos isso de forma exponencial, e hoje em dia quase todos os internautas acabam tendo um “milhão” de amigos around the world, recebendo ou transmitindo informações quase que imediatas ao acontecimento, tipo assim: “aqui está chovendo e aí em Lisboa, como está?”


Sempre acompanhei de perto o que ocorria na Varig, independente de ter as minhas três passagens GC que utilizava para viajar, principalmente para Los Angeles, onde minha filha reside. Infelizmente isso acabou em 2006. Mesmo que eu não estivesse focado no caso assuntos como este normalmente nos “procuram”, principalmente se você, apesar de afastado, ainda mantém uma relação muito próxima e estreita com o trabalho que executava. Me preocupava e me entristecia assistir a tudo o que aconteceu e ser impotente, não poder fazer nada, a não ser esperar que melhoras ocorressem. Quando soube que um grupo de colegas se propuseram a comprar a Varig e isso não ter sido aceito, me doeu terrivelmente. Depois vi a empresa ser “vendida” a preço de bananas podres para um grupo denominado pela própria imprensa como “abutres”, para depois ser revendida a outra empresa congênere.

Mas, muita coisa ainda não aparecia, não era mencionado na imprensa e mesmo para aqueles que estiveram em cima do epicentro desse “terremoto”, pouca coisa importante foi conhecida naquela época. Até hoje em dia, muita coisa ainda não ficou esclarecida. Como sempre, podemos saber muito, mas jamais saberemos tudo!

Recentemente, em Julho de 2013, a revista Piauí, na sua edição nº 82, publicou “A disputa que matou a Varig” que conta minuciosamente todos os ventos ascendentes e descendentes, raios e trovões, CBs e o mau funcionamento dos instrumentos dos painéis no cockpit que levaram a nossa kirida VARIG a gritar mayday, mayday, mayday...

O pessoal que deveria cuidar de todo esse “espaço aéreo” sequer instruiu os rádios-faróis que sinalizassem e/ou informassem as situações de alerta ou o incerta. Não emitiram um som, um aviso.


Quem é (foi) esse pessoal que deveria cuidar de todo esse “espaço aéreo”?
Não vou me estender em considerações sobre a Administração da Varig logo após a grande crise do petróleo em 1979.
A questão do salvamento da Varig sempre esteve ligada a interesses políticos e não a considerações técnicas, mesmo ela sendo empresa de bandeira, cuja função estratégica era muito maior do que as dívidas que ela tinha. Hoje, as perdas de divisas atingem bilhões de dólares anuais que poderiam estar entrando no país e não indo para outros mercados internacionais.
Sendo breve, quem, ou melhor, “quens”: São todos aqueles que tinham o poder de adotar medidas e/ou ter considerados e aceitos os acordos propostos para resolver a situação que era clamorosa e iminente... não tomaram quaisquer atitudes com o intuito de salvar a Varig.

3 comentários:

  1. Prezado Editor - Jim Pereira
    Prezado Jonathas Filho

    Inicialmente aceitem minhas desculpas por estar somente hoje estar comentando a entrevista do Jonathas e, isso por conta de um problema técnico em meu computador que troquei a "Placa Mãe, Processador, Memoria e amanhã vou ter que comprar um Gabinete Novo, porquanto, segundo o Técnico a Fonte Foi pro brejo.
    Como recurso dei de mão no Laptop e instalei os demais equipamentos que me permitiram fazer ler e comentar a publicação da "Entrevista do Jonathas Filho".
    Que riqueza de detalhes, quantas saudades, quantas coincidências, enfim quanta alegria em me manisfestar a respeito.
    Jonathas Filho é de minha época, iniciei em 1957 na Superintendência dos Serviços de Bordo, quando o Titular era o Sr. Damião Ferreira Kluwe e o Sergio Prates, Chefe do Escritório da SSB no Aeroporto Salgado Filho - POA. Eu era um simples Encarregado de Materiais de Cabine dos Super Constellation e conheci dezenas de Comissários de Bordo, dentre eles Paulino, os irmão Jelson e Gilson Becker ( este desaparecido na queda de uma aeronave no Mar das Antilhas) Sylvio Muniz, Terezinha, Margareth, Tania e por ai a fora.Em 1959 fui transferido para CGH e testemunhei a "compra" do Consorcio Real Aerovias Brasil, Panair do Brasil, Cruzeiro do Sul e outras, a VARIG era uma das Maiores Empresas do Mundo.
    Bom, não vou contar a minha historia que começou em 1957 e finalizou em 1993, mas todos os citados pelo Jonathas foram meus companheiros, pois na Varig ate Dezembro de 1968 fui Titular Sub-Departamento de Comissariado de Terra da RAN (Rede Aerea Nacional), quando na RAI (Rede Aerea Internacional) o Titular foi o JEAN ROUSSELET que anteriormente era Comissario de Bordo.
    Nas minhas andanças pelo Brasil a fora, certamente muito encontrei o Jonathas, que é obvio voou com meu sobrinho Marco Antonio Maximo da Silva (Marqui) e com minha filha Edith Schuler ambos estiveram baseados em Los Angeles. Creio ser da época do Ilustre Entrevistado Jonathas Filho quando meu sobrinho foi Chefe dos Comissários(as) em CGH em substituição ao competente e Velho Amigo ADÃO.
    Junto com minha Esposa Líbia, participamos de muitas manifestações de apoio aos Aposentados e Pensionistas do AERUS, sendo o Grande divulgador o Amigo José Paulo de Resende, As fotos e Youtube das Manifestações comprovarão nossa presença, inclusive acariciando as duas Cadelinhas na potente Moto do Jonathas.
    Encerrando meu breve comentário parabenizo o Entrevistador e o Entrevistado, pois, me deram o privilegio de recordar boas passagens do tempo que passou. Ah! Também sou morador na Ilha do Governador desde 1973
    Fiquem bem sempre e que nossa luta seja vitoriosa.

    Nelson Schuler, 76 anos
    Aeroviário Aposentado - Participante do Fundo AERUS
    Plano I - SATA - Brasileiro Indignado.

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  2. Jonathas Filho
    Kirido Nelson Schuler, obrigado pelo que escreveste, o que com muita alegria li e reli. Voei muitas vezes com o Marc e algumas com a Edith mas, sempre com boas recordações. Mais uma vez, obrigado pelas palavras carinhosas. Grande abraço fraterno.
    Jonathas Filho.

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  3. Querido Jonathas Filho,

    Eu que tenho agradecer por me ter proporcionado fazer um viajem ao tempo e relembrar bons momentos vividos no convívio de tantas Pessoas com o Sentimento do bem querer e exemplares Profissionais da Classe Aeronáutica, sejam eles de terra ou do ar, Civis ou Militares.
    Me permito classificar tua Entrevista, como SENSACIONAL e ainda o Editor como um exemplo de perseverança em manter viva a historia da Aviação Comercial Brasileira.
    Abraços para todos

    Nelson Schuler, 76 anos
    Aeroviário Aposentado - Participante do Fundo AERUS
    Plano I - SATA - Brasileiro Indignado.

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