quarta-feira, 7 de novembro de 2018

[O cão tabagista conversou com... ] Daniel Torres: “O enfermeiro atua em todo o ciclo de vida desde o nascimento até à morte, é aquela pessoa que está sempre lá. E é isso que me quero tornar...”

Nome completo: Daniel Filipe Pereira Torres

Nome de Guerra: Daniel

Onde e quando nasceu?
Nasci em 18 de Janeiro de 1997, em Lisboa.

Onde estudou e estuda?
Neste momento, frequento o quarto ano da licenciatura de Enfermagem na Universidade Católica de Lisboa.

Quantos anos de curso?
O curso são quatro anos e neste momento estou a frequentar o último ano.

Por que optou por Enfermagem?
Optei pela enfermagem pela arte de cuidar dos outros, por ser uma profissão que se rege por preservar a dignidade humana, quer seja na saúde ou na doença.

O enfermeiro atua em todo o ciclo de vida desde o nascimento até à morte, é aquela pessoa que está sempre lá. E é isso que me quero tornar, quero ser uma pessoa que cuide dos outros com qualidade, informando, avaliando, realizando técnicas, tudo o que seja necessário para a melhoria da qualidade de saúde daquele utente.

Não lhe impressiona assistir à dor dos outros, feridas muito feias, etc.?
No início impressiona mais, agora já estou mais habituado, no entanto, não vou dizer que seja fácil lidar com o sofrimento dos outros, é uma situação muito difícil. Mas o importante é termos consciência que o que estamos a fazer é para o melhor daquela pessoa e/ou da sua família.

Presumo que a Universidade tenha proporcionado estágios...
Sim, a Universidade Católica é muito boa nesse aspecto. Neste momento, estou a realizar o meu décimo estágio, que desta vez é no Hospital Santa Maria, no Serviço de Neurologia, mas já realizei estágios com crianças, adultos, idosos e em vários hospitais desde privados a públicos.

Qual foi o estágio que mais lhe marcou, seja positiva ou negativamente?
Pergunta extremamente difícil. Sinto que todos os meus estágios me marcaram, quer de uma forma positiva ou negativa, por isso é difícil escolher apenas um.

Mas, se tivesse que escolher um, seria o estágio no Serviço de Psiquiatria no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, mais conhecido como Amadora-Sintra [foto abaixo], pois tive a noção que a saúde mental de qualquer pessoa não é valorizada, comparativamente com a saúde física, e tem a mesma ou mais importância que esta.


A maioria da sociedade pensa que os problemas psicológicos só acontecem a pessoas mais fracas, mas não! Pode acontecer a qualquer um, e eu neste estágio tive a oportunidade de ver médicos, dentistas, engenheiros, professores e muitos outros, internados com problemas psiquiátricos. A diminuição da saúde mental pode acontecer a qualquer um!

Entendo...
Que tipo de cuidados esses doentes psiquiátricos necessitam da enfermagem?
Precisam de muito apoio psicológico, necessitam de bastantes cuidados terapêuticos (medicamentos), e precisam que seja estimulada o cérebro para desmistificar algumas ideias delirantes que eles têm.

O que é (ou o que foi) o Gas-TAGUS
O GasTAGUS significa Grupo de Ação Social do TagusPark e reconhecem-se como uma organização sem fins lucrativos que combate o aumento das desigualdades socioeconômicas e do distanciamento social, empobrecimento dos laços comunitários e alheamento da realidade política e social.

Eu iniciei o voluntariado nesta organização há cerca de um ano atrás. Realizei várias atividades de voluntariado nacional, formações, eventos de angariação de fundos e por fim realizei no mês de agosto uma missão humanitária na ilha de São Tomé.

Ué? Então, o GasTAGUS nada tem a ver com a faculdade de enfermagem...
Exatamente. O GasTAGUS e a Faculdade de Enfermagem são independentes. Inscrevi-me no GasTAGUS depois de ter assistido a uma palestra de uma ex-voluntária e depois decidi inscrever-me.

Entendi. Especificamente, que ações ele promove/empreende?
O GASTagus tem como principal objetivo" Promoção da cidadania ativa na juventude portuguesa através de voluntariado local e internacional". Mas mais informações estão presentes no site deles.


O Grupo de Ação Social do Tagus (GASTagus) é uma ONGD que desenvolve projetos na área da educação e cooperação para o desenvolvimento.

A missão do GASTagus é alertar e incentivar a juventude para a descoberta e promoção da dignidade da pessoa humana através da realização de atividades de voluntariado em Portugal, em África e no Brasil.

O GASTagus iniciou as suas atividades em 2008, fundado em parceria com o LAGE2 no IST - Taguspark, e já enviou cento e vinte e duas equipas para missões de voluntariado em África e no Brasil durante o mês de agosto, de 2009 a 2017.

No restante período do ano, os voluntários recebem uma formação intensa e realizam voluntariado em diferentes instituições da zona de Lisboa.

Então, onde você esteve agora em agosto?
Eu estive numa missão de voluntariado durante um mês na ilha de São Tomé, mais especificamente na cidade de Bombom. 


Bonito nome de cidade. Quais foram as ações empreendidas e executadas em Bombom?
Nós, um grupo de seis voluntários tínhamos várias funções.
Na parte da manhã, dávamos aulas a crianças dos 7 aos 12 anos, de português, matemática, ciências, história, geografia. Claro que eram dois voluntários para cerca de cinquenta crianças. Isto tudo numa sala muito pequena ou ao ar livre.

Depois do almoço dávamos aulas mais exigentes a crianças dos 12 aos 15 anos, falando também da sexualidade, saúde, entre outros temas.

Ao final do dia dávamos formações a adultos, na área do empreendedorismo, saúde, ambiente, direitos humanos.


Resumidamente, era isto o que fazíamos, mas fazíamos muito mais, nós vivíamos a comunidade! Estávamos com as crianças quase até irmos dormir e acordávamos já com elas à porta...


Que emocionante! Parece que estou vendo a alegria dessas crianças...
Mas, o que acontece lá depois do vosso regresso?
Em setembro algumas dessas crianças voltam para a escola, onde o ensino está muito degradado, um professor que, muitas vezes, nem sequer está bem formado para 50/60 crianças. Encontrei crianças com 8/9 anos que não sabiam ler nem escrever...


Qual o sentimento maior que você sentia quando lá estava?
O sentimento principal era mesmo o amor, quer pelas crianças quer pela comunidade que nos acolheu tão bem! Viviam a vida leve-leve, mas com muito amor para dar.


E agora, depois do regresso?
Não sei se voltarei em missão, mas é algo que gostaria muito de repetir, sendo que desta vez gostaria de estar mais dedicado a área da saúde, desde a prevenção e promoção de saúde, aos cuidados diretos à população, à formação dos profissionais de saúde.


O que pretende fazer após a conclusão do curso?
Ainda é uma incógnita, neste momento empenho-me em finalizar o curso com o melhor aproveitamento acadêmico. Depois de acabar, espero conseguir encontrar um trabalho num serviço hospitalar que goste, para ganhar experiência profissional, e depois disso, posso começar a pensar em voos mais altos.

Qual a sua opinião sobre o que viu em São Tomé?
Vi em São Tomé, um país lindíssimo, com paisagens paradisíacas e com recursos naturais abundantes! A cultura leve-leve, de aproveitar cada dia e cada momento é contagiante; a população vive esta cultura, sempre com tranquilidade e pacificidade na realização das suas atividades.


Infelizmente, quando se fala em educação e saúde, já não é tão favorável, haja vista as escolas serem reduzidas e pequenas, com um professor para cada sessenta alunos, e muitos dos professores sem formação na área.

Quando um país não consegue formar com qualidade as suas crianças desde o princípio, dificilmente conseguem pessoas qualificadas para as variadas profissões no futuro.

Relativamente à saúde, a falta da prevenção de doenças é enorme; e apesar da adesão da vacinação que tem sido uma luta enorme do governo de São Tomé, a população continua com água não própria para consumo. A higiene pública é quase nula, com porcos, galinhas, cães, mosquitos, tudo a partilhar o mesmo espaço com a comunidade, o que só permite ainda mais a propagação dos microrganismos.

Para além da falta de formação também existente nos profissionais de saúde, a falta de recursos materiais também não permite bons cuidados de saúde, desde ter que utilizar as mesmas luvas o dia inteiro, com sangue ou sem sangue, contaminando todos os utentes e todo o espaço abrangente, a ter que reutilizar seringas, agulhas, etc...

A derradeira mensagem:
Queria deixar aqui a mensagem que todos nós podemos fazer voluntariado, quer seja nacionalmente, quer seja internacionalmente, e que para além de estamos a mudar outras vidas para melhor, estamos a desenvolver-nos e a crescer enquanto pessoa.

Aprendi imenso, durante este mês, vi novas realidades, alarguei os meus horizontes e compreendi novas perspectivas. É uma aventura... mas valeu muito a pena!


Muito obrigado, Daniel!



Conversas anteriores:

3 comentários:

  1. Nossos parabéns ao Daniel , que abraçou a missão de acolher e dar atenção aos semelhantes através do nobre ofício da enfermagem ! O mundo precisa cada vez mais de pessoas com esse perfil. Aqui no Rio, trabalhei entre 1997 e final de 2000 na Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro como Relações Públicas da entidade , e sei muito bem o valor das equipes de enfermagem . Nós, seres humanos ( os animais , também...), precisamos de carinho, afeto e atenção . Jamais arrede o pé do seu objetivo, Daniel ; pise fundo e siga em frente com a bênção do Altíssimo, que lhe orientará em todas as ocasiões .
    Minha mulher e eu contribuímos há um bom tempo com os "Médicos sem fronteiras" e nos sentimos muito felizes, sabendo que tem muitos como você fazendo a diferença sem olhar a cor , gênero, raça ou nacionalidade .

    Grande abraço.

    Sidnei Oliveira
    Assistido AERUS - RJ

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  2. Parabéns pela Entrevista! O Importante é a vida! Abs,

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  3. Parabéns Daniel!
    São pessoas como você que o mundo necessita. Sua dignidade cresce com sua dedicação ao próximo! Saúde e muito sucesso para nesta profissão que abraçou!
    Deus o abençoe!

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