Em novembro de
1984, por não enxergar diferenças entre Paulo Maluf e Tancredo Neves, o
Partido dos Trabalhadores optou pela abstenção no Colégio Eleitoral
que escolheria o primeiro presidente civil depois do ciclo dos generais. Em
janeiro de 1985, por entenderem que não se tratava de um confronto entre
iguais, três parlamentares do PT ─ Airton Soares, José Eudes
e Bete Mendes ─ votaram em Tancredo. Foram expulsos pela direção.
Em 1988, num discurso em
Aracaju, o deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva qualificou o presidente
José Sarney de “o grande ladrão da Nova República”. No mesmo ano, a
bancada do PT na Constituinte rejeitou o texto da nova Constituição.
Em 1989, derrotados no
primeiro turno da eleição presidencial, Ulysses Guimarães, candidato
do PMDB, e Mário Covas, do PSDB, declararam que ficariam ao lado
de Lula na batalha final contra Fernando Collor. Imediatamente
recusado, o apoio acabou aceito por insistência dos parceiros
repudiados. Num comício em frente do estádio do Pacaembu, Ulysses e
Covas apareceram no palanque ao lado do candidato do PT. Foram
vaiados pela plateia companheira.
![]() |
Foto: DR |
Em 1993, a ex-prefeita
Luiza Erundina, uma das fundadoras do partido, aceitou o convite do
presidente Itamar Franco para assumir o comando de um ministério. Foi expulsa.
Em 1994, ainda no governo de Itamar Franco, os parlamentares do PT
lutaram com ferocidade para impedir a aprovação do Plano
Real. No mesmo ano, transformaram a revogação da providencial mudança
de rota na economia numa das bandeiras da campanha presidencial.
Entre o começo de janeiro de
1995 e o fim de dezembro de 2002, a bancada do PT votou contra
todos os projetos, medidas e ideias encaminhados ao Legislativo pelo
governo Fernando Henrique Cardoso. Todos, sem exceção. Uma das propostas mais
intensamente combatidas foi a que instituiu a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Em janeiro de 1999, mal
iniciado o segundo mandato de Fernando Henrique, o deputado Tarso
Genro, em nome do PT, propôs a deposição do presidente reeleito e a
convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O lançamento da
campanha com o mote “Fora FHC!” foi justificado por acusações, desacompanhadas
de provas, que Tarso enfeixou num artigo publicado pela Folha de
S. Paulo. Trecho: Hoje, acrescento que o presidente está
pessoalmente responsabilizado por amparar um grupo fora da lei, que controla as
finanças do Estado e subordina o trabalho e o capital do país ao enriquecimento
ilegítimo de uns poucos. Alguns bancos lucraram em janeiro (evidentemente, por
ter informações privilegiadas) US$ 1,3 bilhão, valor que não lucraram em todo o
ano passado!
O que diriam Tarso, Lula e o
resto da companheirada se tal acusação, perfeitamente aplicável ao atual
chefe de governo, fosse subscrita por alguém do PSDB, do DEM ou do
PPS? Coisa de traidor da pátria, inimigo da nação, gente que aposta
no quanto pior, melhor, estariam berrando todos. “Tem gente que torce pra
que tudo dê errado”, retomaria Lula a ladainha entoada há quase sete anos.
Faz sentido. Desde a
ressurreição da democracia brasileira, a ação do PT oposicionista foi
permanentemente orientada por sentimentos menores, miúdos, mesquinhos. É
compreensível que os Altos Companheiros acreditem que todos os políticos
são movidos pelo mesmo combustível de baixíssima qualidade.
Desfigurado pela metamorfose
nauseante, o chefe de governo não teria sossego se o intratável
chefe da oposição ainda existisse. O condutor do rebanho não tem semelhanças
com o Lula do século passado, mas continua ouvindo o som dos balidos
aprovadores. O caçador de gatunos hoje é padroeiro da quadrilha
federal. O parlamentar que recusou a conciliação proposta por
Tancredo é o presidente que se reconcilia com qualquer abjeção
desfrutável. O moralizador da República presidiu e abafou o escândalo
incomparável do mensalão.
Mas não admite sequer criticas
formuladas sem aspereza pelo antecessor que atacava com virulência. É
inveja, Lula deu de gritar agora. O espelho reflete o
contrário. Nenhum homem culto prefere ser ignorante, nenhum homem
educado sonha com a grosseria, gente honrada não quer conversa
com delinquentes.
Lula não esquece que foi
derrotado por FHC duas vezes, ambas no primeiro turno. E sabe
que o vencedor nunca inveja o vencido.
Título e Texto: Augusto Nunes
Colaboração: Peter Wilm
Rosenfeld
Edição: JP
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-