segunda-feira, 16 de julho de 2012

A "Alfama" School of Economics tal como ela é

Rui Alpalhão oferece aqui uma excelente descrição da mentalidade dos "doutorados" na Alfama School of Economics.
Alfama, foto retirada daqui
“Ver televisão em Portugal no início do Verão de 2012 é reconfortante. É certo que as notícias sobre a conjuntura são, de um modo geral, algo preocupantes: desemprego maciço, insolvências diárias, greves, cimeiras europeias inconclusivas, ocasionalmente um manifestante irado polindo o "capot" de uma viatura governamental.
Alguns, mais impressionáveis, terão procurado refúgio nas proezas da equipa nacional no Euro 2012, e defrontaram-se com uma trave maldosa que excluiu da peleja as bonitas camisolas invocativas da cruz templária. Não há que desesperar, e não é devido ao Mundial 2014, onde é de crer que a equipa nacional continue a ser conduzida com ambições limitadas a fazer "boa figura" e aparecer nos jogos a eliminar. É devido aos comentários económicos que os canais portugueses oferecem. Salvo honrosas excepções, todos têm a solução para o problema que atravessamos, e oferecem-na barato (o preço da assinatura dos canais por cabo, ou, felicidade suprema, a borla nos canais abertos).
Neófitos como Merkl e Schäuble não percebem nada do assunto, e com a sua ignorância teimam em lançar a Europa, e sobretudo Portugal, nas trevas. São maus. Por pura maldade, não querem abrir a torneira do Banco Central Europeu, quando para o comentador televisivo português é óbvio, entra pelos olhos, que com a torneira aberta se retoma o crescimento, na Europa, em Portugal, na Tasmânia e na Papua Nova Guiné. Desaparece o desemprego, acabam as insolvências, o Bruno Alves acerta na baliza, o "penalty" guardado religiosamente para o CR7 acontece. Tudo com o simples abrir de uma torneira. Qual ciclo económico, qual quê.
Há neste consenso algo de comovente, e de suprema confiança no Homem. Se se inventou a electricidade, se viajou à Lua, se encontrou o bosão de Higgs e a cura para a calvície está iminente, então não se sabe como dominar uma coisa básica como o ciclo económico? Que disparate, claro que se sabe, ou seja, os comentadores televisivos sabem, ou, pelo menos, acham convictamente que sabem.
(…)”
Texto: Rui Alpalhão, Jornal de Negócios, 16-7-2012, via Miguel Noronha, O Insurgente

Um comentário:

  1. Excelente! I think que não são as opiniões sobre Economia (compreendo as diferenças) que toldam o ambiente, mas é a intenção e o veneno que elas trazem, e é a maioria!

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-