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Ilustração: Ique |
A poucos segundos da hora da
verdade, os amigos repetem que José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo
Tribunal Federal, ainda não decidiu se participará do julgamento do mensalão
Augusto Nunes
A folha corrida do advogado
recomenda aos berros que se declare impedido: quem passou quase 15 anos
trabalhando para o PT, servindo a José Dirceu ou dando razão a Lula está
desqualificado para julgar com isenção velhos companheiros. A agenda das
últimas semanas grita que Dias Toffoli optou por afrontar os fatos e demitir a
sensatez: a sequência de encontros com advogados de mensaleiros avisa que o
mais jovem integrante do Supremo não vai cair fora do caso.
Na tarde de 25 de junho, por
exemplo, ele recebeu em seu gabinete o amigo José Luiz de Oliveira Lima, que há
sete anos cuida da defesa de José Dirceu. O site do STF comunicou que, como nos
demais encontros mantidos com doutores a serviço dos réus, os dois trocaram
ideias sobre a AP 470, codinome em juridiquês do processo que começará a ser
julgado em 2 de agosto. Se sobrou tempo, talvez tenham evocado episódios que os
juntou na mesma trincheira.
Em 2005, por exemplo, quando
foi contratado para tentar evitar a cassação do mandato do deputado José
Dirceu, o visitante contou com a ajuda de Toffoli, que acabara de deixar o
empregão na Casa Civil em companhia do chefe despejado. No processo do
mensalão, Oliveira Lima já atuou em parceria com a advogada Roberta Maria
Rangel, então namorada do ministro com quem vive há quase um ano.
“O ministro Dias Toffoli já
julgou dois agravos regimentais nessa ação penal 470″, animou-se nesta
segunda-feira Marcelo Leonardo, advogado do publicitário Marcos Valério.
“Então, ele já se reconheceu habilitado a julgar”. O defensor do
diretor-financeiro da quadrilha do mensalão teima em pleitear o impedimento do
relator Joaquim Barbosa, mas nunca viu motivos para que Toffoli se afastasse.
Faz sentido. O doutor quer um ministro fora por achar que condenará seu
cliente. Quer outro dentro por ter certeza de que absolverá todo mundo.
Tal convicção se ampara no
passado recente. Paulista de Marília, diplomado em 1990 pela Faculdade do Largo
de São Francisco, Toffoli sonhava com a vida de juiz de direito. Tentou o
ingresso na magistratura nos concursos promovidos em 1994 e 1995, Duas reprovações
consecutivas, ambas na primeira fase dos exames, aconselharam Toffoli a
conformar-se com a carreira de advogado do PT, anabolizada pela ficha de
inscrição no partido. Nem desconfiou que começara a percorrer uma curtíssima
trilha que o levaria ao Supremo Tribunal Federal.
Nos anos seguintes, foi
consultor jurídico da CUT, assessor parlamentar do PT na Assembleia Legislativa
de São Paulo, assessor jurídico da liderança do PT na Câmara dos Deputados,
subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência e, a partir de
março de 2007, chefe da Advocacia Geral da União. Em outubro de 2009, Lula
entendeu que deveria premiar com uma toga o aplicado companheiro que também
chefiara a equipe jurídica do candidato nas campanhas presidenciais de 1998,
2002 e 2006.
Sem saber o suficiente para
virar juiz de primeira instância, Toffoli tinha 42 anos quando se viu premiado
com um cargo reservado pela Constituição a gente provida de “notável saber
jurídico”. No País do Futebol, a torcida brasileira condenaria à morte na forca
um treinador que ousasse transformar em titular da Seleção um jogador da
categoria sub-20 reprovado em duas tentativas de subir para o time principal.
No Brasil Maravilha, o presidente da República escalou um advogado para jogar
no STF a favor do governo. Lula já deixou o Planalto, mas faz questão de ver
seu pupilo em campo na final do campeonato que faz questão de ganhar.
Sabe-se desde o Dia da Criação
que, para ser justa, uma decisão não pode agredir os fatos. Sabe-se desde a
inauguração do primeiro tribunal que toda sentença judicial deve amparar-se nos
autos do processo. Não pode subordinar-se a vínculos partidários, laços
afetivos ou dívidas de gratidão. Caso insista em viciar o julgamento mais
importante da história do Brasil com o voto que endossará a institucionalização
da impunidade, Toffoli será reduzido a uma prova ambulante da tentativa de
aparelhar o Supremo empreendida durante a passagem do PT pelo coração do poder.
Em princípio, o ministro
ficará onde está mais 25 anos, até a aposentadoria compulsória em 2037.
A Era Lula acabará bem antes.
Se errar na encruzilhada, vai
percorrer durante muito tempo, e sem padrinhos poderosos por perto, o caminho
da desonra.
É um caminho sem volta.
Título e Texto: Augusto Nunes, Direto ao Ponto, 18-7-2012, via Resistência Democrática
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