Henrique Raposo
É a esquerda que precisa de Salazar.
Os nossos queridos progressistas e revolucionários de cadeirão precisam
de ver um Salazar em cada esquina, caso contrário ficariam sem nada para dizer.
Estamos em 2012, mas a esquerda só consegue atacar a direita com acusações de
salazarismo. Não há contra-argumentos, só aquela acusação que procura matar a
discussão à nascença. O reductio ad Salazar tem o seu quê de
cómico, mas também tem um efeito dramático: impede um debate adulto e europeu
sobre a tal refundação do contrato social.
Exemplos? Nuno Crato quer, e bem, desenvolver o ensino profissional em Portugal, seguindo o modelo de países como a Holanda, Áustria e, sobretudo, Alemanha .
Resposta da esquerda? O governo quer regressar ao tempo da segregação
salazarista entre liceus e escolas técnicas. Será que a Alemanha e a
Holanda são salazaristas? Quando se procura trazer para Portugal um debate sobre a saúde assente em bases alemães, holandesas e até obâmicas , o dr. Arnaut e companhia iniciam
a gritaria da "destruição do SNS" e do "desejo do regresso ao
antigamente". Acontece o mesmo com a segurança social.Quando se tenta dizer que Portugal tem de evoluir para um sistema de capitalização individual das reformas, aparece logo a
ventania da "destruição da segurança social e do estado social" (já
agora, este sistema de segurança social é basicamente o mesmo do tempo de
Salazar e Marcello, mas não digam nada a ninguém). E Isabel Jonet? Abro um
revista e uma historiadora garante-me que Jonet é a representação moderna de um
clube de senhoras salazaristas. Claro. Nem podia ser outra coisa.
A esquerda precisa de Salazar
para esconder a sua ausência de ideias, para tapar o seu espírito
reaccionário, para legitimar a sua incapacidade de falar com a direita em pé de
igualdade. O narizinho empinado da espécie exige uma presunção de superioridade
moral, exige uma direita sem legitimidade para propor ideias. Salazar morreu há
42 anos, mas o ditador está em todas as esquinas para fazer a manutenção
daquele narizinho fofo.
Título e Texto: Henrique Raposo, Expresso,
16-11-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-