A culpa das sondagens
é da burguesia. É de o PS ser hoje um partido burguês que vê o mundo e os
eleitores do interior da sua redoma de altos quadros da administração, dos
institutos, das fundações.
Dizem os títulos que “Seguro culpa Costa pela descida do PS nas sondagens”. Mas não, a culpa não é de
António Costa. Dizem outros títulos “Costa: sondagem revela necessidade de mudança” mas valha a verdade que a culpa
também não é de Seguro. Apetece dizer que a culpa é do socialismo que enquanto
ideologia assente na distribuição do dinheiro dos outros não encontra o seu
caminho nestes tempos em que o dinheiro próprio acabou e o dos outros implica
juros. Mas também isso não é suficiente enquanto explicação. Aliás não é
impossível construir um discurso socialista sobre justiça fiscal, estado
social… Assim os socialistas o quisessem.
Mas voltemos à culpa ou,
melhor dizendo, ao estado de estupefacção dos socialistas pelo facto de, caso
as legislativas tivessem lugar agora, a coligação governamental sair vitoriosa.
A culpa deste resultado é da burguesia. Não da burguesia que vota no PSD ou no
CDS. Em primeiro lugar porque não é certo que a burguesia vote maioritariamente
nesses dois partidos e sobretudo porque os votos da burguesia não são
suficientes para ganhar eleições. Já a visão burguesa do mundo pode ser mais
que suficiente para que se percam. E é esse o maior problema do PS e de muitos
dos seus congéneres europeus: tornaram-se partidos burgueses.
(…)
Texto: Helena Matos, Observador,
13-07-2014
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