terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

[O cão tabagista conversou com...] Pedro Caldas: “O Brasil precisa, com urgência, de um choque de capitalismo e de um governo que desarme o marxismo cultural, que o está asfixiando."

Arquivo pessoal
Nome completo: Pedro Frederico Caldas

Nome de Guerra: Pedro, mas parentes e amigos costumam me chamar de Fred.

Onde e quando nasceu?
No distrito de Castelo Novo, município de Ilhéus, estado da Bahia, em 9 de outubro de 1945.

Onde estudou?
Primário, em várias escolas;
Secundário: Ginásio Firmino Alves e Escola Técnica de Comércio, ambos em Itabuna (Ba); Direito na Faculdade de Direito da Universidade Estadual Santa Cruz (Bahia) e na Faculdade Nacional de Direito (Rio de Janeiro); Mestrado na Escola de Direito da Universidade Católica de São Paulo (SP)

Onde passou a infância e juventude?

Bahia e Rio de Janeiro, com um breve intervalo no Estado do Espírito Santo.

Qual (ou quais) acontecimento marcou a sua infância e juventude?
A necessidade de trabalhar muito cedo. Aos treze anos saí da casa de meus pais, que já estavam há alguns anos no Rio de Janeiro, e voltei para Itabuna, onde trabalhava durante o dia e estudava à noite. Morava como minha avó materna, muito querida, e alguns tios ainda solteiros.

Quando começou a trabalhar?
Formalmente, como já dito, aos treze anos. Trabalhava numa fábrica de confecções de um tio, em Itabuna.

E depois?
Depois de trabalhar na fábrica de confecções de um tio, trabalhei por cerca de um ano no jornal Diário de Itabuna e cheguei a escrever um "quiz show" para a Rádio Jornal de Itabuna FM, do mesmo grupo.

No jornal fui revisor e repórter. Em seguida, ingressei, por concurso público, no Banco do Brasil.

Esse ingresso no Banco do Brasil não se deu de imediato porque, tendo passado no concurso ainda muito jovem, o banco exigiu que eu fizesse primeiro o serviço militar. Após a conclusão do serviço militar foi que efetivamente ingressei no quadro de funcionários do Banco do Brasil.

Tinha então que idade?
Em outubro de 1964, ainda fazendo o serviço militar, completei 19 anos e, em janeiro de 1965 tomei posse no Banco do Brasil, na cidade Coaraci, distante mais de quarenta quilômetros de Itabuna.

E ficou trabalhando no Banco do Brasil até...?
Trabalhei no Banco do Brasil de janeiro de 1965 a junho de 1990. Aí há uma longa história para ser contada.

Ops! Somos 325, já sentados, esperando sorver essa longa história...
Acho que não sou um bom entrevistado. Li algumas entrevistas feitas por você. Todas de pessoas interessantes que tiveram altos e baixos, percorreram mundo trabalhando, encarregaram-se dos mais diversos trabalhos, em países os mais diferentes. Enquanto isso, minha trajetória foi basicamente linear. Linear porque decidi, lá atrás, o que queria ser e persegui esse alvo com muita determinação.

Entrei no Banco do Brasil tangido pelas dificuldades financeiras. Precisava de um trabalho que pagasse bem e que não fosse a tempo integral. Com essas duas vantagens (dinheiro e tempo) poderia estudar direito, meta por mim estabelecida quando ainda estava no ginásio. Ingressar no banco não demandava nada mais do que meu esforço e sacrifício pessoal. Era algo que não dependia da sorte nem da decisão de terceiros.

Assim, trabalhando oito horas por dia numa fábrica de confecções e estudando à noite, dormia pouco, praticamente não descansava nos fins de semana e, nessa base, encontrei tempo para estudar para o concurso do banco, disputadíssimo, pois tinha que ultrapassar os que tinham tempo e já vinham de uma formação melhor.

Além de todo esse estudo voltado para o empenho em passar de ano e conseguir um bom emprego, conseguia esticar a noite e acordar de madrugada para ler, ler muito ciências que nada tinham a ver com aquelas metas traçadas.

Esse esforço para adquirir alguma cultura fora dos currículos escolares vai pavimentando e dando densidade ao futuro exercício da minha profissão. Essa parte de meus estudos foi fundamental para eu sair dos fundos de uma fábrica de confecções e entrar no jornalismo, através de um episódio bem interessante. Como você vê, não há emoção nem coisas bombásticas em minha vida.

Todas as vidas são emocionantes, com ‘bombas’ ou sem ‘bombas’, podes crer!
Então, você ingressa, por concurso, no Banco do Brasil, e, paralelamente, vai estudando Direito e Jornalismo, é isso?
Conte aí, por favor, como se deu a sua entrada no jornalismo...
Não estudei jornalismo. Acho que nos anos sessenta nem havia tal curso. A história é a seguinte: lá pelos meus 16 para 17 anos, trabalhava duro numa fábrica de confecções, na cidade de Itabuna (BA), aviamentava fardos de roupa, varria, limpava privada, etc. Trabalho duro, mas no meio de uma turma boa, gente simples, além de alguns estimados parentes.

by José Nilo

Todo mundo trabalhava muito e havia grande fraternidade. Tinha no ginásio uma atuação acima da média. Além de bom aluno, era um líder político estudantil. Era presidente do Grêmio Literário José Bastos.

Um professor, ex-padre, homem de grande cultura, uma legenda nos meios educacionais itabunenses, Nestor Passos, vendo meu desempenho, convidou-me para fazer uma palestra no Rotary Clube de Itabuna. Fiz a palestra de improviso. Minha fala causou grande impacto entre os membros do clube, uma entidade sabidamente composta pelos líderes das mais diversas atividades, congregando os homens mais importantes e mais influentes da comunidade.

Esses senhores procuraram saber quem eu era, e, na sequência, alguns deles, fizeram uma visita ao meu local de trabalho, empresa de propriedade do marido de uma tia, pessoa excelente e de quem tenho as melhores recordações até hoje. Viram que eu fazia trabalho braçal e disseram a meu tio que eles se encarregariam de arranjar uma colocação com o nível que eles consideravam eu tinha.

Um deles, talvez o maior empresário de então, estava assumindo um jornal tradicional da cidade, o Diário de Itabuna. Aceitei o convite e fui trabalhar no jornal, na condição, após os testes, de revisor e repórter. Por lá fiquei cerca de um ano, até ingressar no Banco do Brasil.

Perfeito. Então, paralelamente vai estudando Direito?
Como disse, passei no concurso do banco, mas era muito jovem. Para surpresa de muitos, tive uma boa colocação dos que passaram no Estado da Bahia, por isso fui logo chamado. Muito ingênuo e incapaz de uma mentira tática disse que morava em Itabuna, quando poderia ter dado um endereço em uma cidade vizinha. Como Itabuna tinha serviço militar (Tiro de Guerra 126), disseram que só me dariam posse após servir o Exército, fato que retardou um ano a minha posse e me deixou numa pindaíba de dar gosto. Assim, só entrei no banco em janeiro de 1965, tendo sido designado para uma pequena cidade vizinha (a cerca de quarenta quilômetros), de nome Coaraci, com cerca de quinze mil habitantes, onde permaneci por quase dois anos.

Aqui cabe um parêntese. Eu tinha iniciado o curso Científico. A minha certeza que faria Direito, fez-me sair do Científico, já no segundo mês, para ingressar em uma escola técnica de comércio para fazer contabilidade. Esta escola era o endereço certo da mocidade de Itabuna que não queria muita coisa com o estudo. Para não passar, você tinha que se esforçar muito. Foi a escolha mais inteligente que fiz.

Como ela não me tomava tempo, mesmo estando em Coaraci, da metade do curso em diante ia a Itabuna praticamente para fazer as provas. Sobrou-me tempo para estudar as matérias mais afins ao meu pretendido curso de direito. Assim, quando entrei na faculdade de direito já tinha aumentado de forma significativa a minha bagagem cultural.

Como subproduto, o conhecimento das regras contábeis me foi de muita utilidade pela vida afora. Acho de bom alvitre, já que minha vida foi o mundo dos estudos, abrirmos um período para um breve relato de minha iniciação cultural, quando ainda muito jovem.

Abra, por favor.
As andanças de minha família pelo interior da Bahia, uma mudança para o estado do Espírito Santo e, em seguida, uma mudança para o Estado do Rio de Janeiro, deixou-me um atraso de cerca de três anos no curso primário, sem nunca ter perdido um ano.

De treze para quatorze anos de idade, deixei a casa de meus pais e retornei a Itabuna para morar com minha queridíssima avó materna e alguns tios, com o propósito de trabalhar na tal fábrica de confecções. Para tirar o atraso, fui estudar no curso da professora, gente muito boa, Celina Braga Bacelar. Ela preparava para o exame de admissão ao ginásio.

Assim, de cambulhada, durante um ano de estudo, sempre à noite, que de dia trabalhava oito horas, consegui ser apto, segundo os critérios pragmáticos da professora Celina, ao exame de admissão. Isto significa que consegui, em um só ano, queimar três etapas (terceiro, quarto e quinto anos primários).

Fiz o exame de admissão ao ginásio, que era duro, e consegui passar nas últimas posições. Ingressei no Ginásio Firmino Alves, que, além de gratuito, funcionava à noite. O primeiro ano foi duro. Suplantei um risco de ser reprovado, mas, aplicando todo o tempo disponível ao estudo, suplantei lacunas educacionais e consegui passar. Depois desse ano difícil, passei ao primeiro pelotão dos bons alunos durante o resto da minha vida de estudos.

Na verdade, com toda a lacuna causada pela falta de um regular estudo primário, minhas constantes leituras, desde os nove anos, quando li meus dois primeiros romances (‘O Guarani’ e ‘Majupira’), alçaram-me, ao mesmo tempo, a uma condição cultural superior à média mais alta dos estudantes primários.

Já no segundo ano de ginásio, comecei a me envolver com a política estudantil, assumi a liderança do Ginásio Firmino Alves e fui eleito presidente do Grêmio Literário José Bastos. Dizia-se que eu era um bom orador.

Naquela época, início dos anos sessenta, o embate ideológico no meio estudantil era grande. Alinhei-me com a turma da esquerda. Vivia com outros estudantes bem mais velhos, normalmente três anos, ao menos, mais velhos. No período que cobre o ginásio até à Escola Técnica de Comércio, dentre inúmeras obras, li o ‘Capital’ (Marx), ‘Minha Luta’ (Hitler) e muitos outros livros. Era uma voracidade eclética.  Entrei em contato com o Marxismo Cultural e li quase toda a obra de Eric Fromm (‘Meu Encontro com Marx’ e Freud, ‘Medo à liberdade’, ‘Psicanálise da Sociedade Contemporânea’, ‘O Dogma de Cristo’...). Tratava-se de uma mente robusta no campo da ciência política e da psicanálise, que me empurrou para outras leituras.

No meio de toda essa inquietação intelectual, houve algo interessante, que me jogou num ecletismo sadio e expandiu as fronteiras de meu conhecimento para um terreno enciclopédico. Na fábrica do meu tio, numa prateleira do alto, havia umas caixas de livros nunca lidos. Tratava-se de uma obra enciclopédica, creio que em onze grandes volumes, de grande prestígio cultural, à época, intitulada Tesouro da Juventude.  Meu tio aquiesceu que eu levasse de um a um para ler em casa.

Quando chegava à noite da escola, lia sob um quebra-luz, até à meia-noite. A maior parte desse tempo dedicava a estudos extracurriculares, que se estendiam aos sábados à tarde e aos domingos. Acordava sempre às cinco horas da madrugada, sentava-me em uma cadeira de lona embaixo da luz de um poste, no passeio da casa de minha avó, onde dei cabo de toda a enciclopédia.

Além do natural conhecimento enciclopédico, embora descontada muita coisa de difícil entendimento, li todos os clássicos da literatura universal, de forma reduzida, ao sabor dos textos enciclopédicos, mas sempre observando os importantes apontamentos dos que faziam as resenhas. Assim, a história e a geografia universais e um leque do repositório do conhecimento desfilaram perante meus olhos. A leitura de toda essa enciclopédia me ejetou a domínios do conhecimento universal que normalmente as pessoas não palmilham. Deixou-me em condições de percorrer vários deles no curso de minha existência. Eis aí, em apertada síntese, o que posso chamar de minha iniciação cultural, já nos albores de minha juventude.

Permita-me a carona jactante, me revi nesta sua reposta, não só no alinhamento com a turma da esquerda – no meu caso, com o comunismo – mas, principalmente, com a fome de leitura. Noventa por cento do que sei hoje devo aos muitos livros e jornais e revistas que li.
Fechando o parêntese, podemos chegar a 1990, ano em que você se aposenta do Banco do Brasil?
De Coaraci, consegui, usando de intempestiva ousadia, ser transferido, quando transferências estavam proibidas, salvo se do interesse da instituição, para Ilhéus, onde estava localizada a faculdade de Direito. Aí, as coisas ficaram fáceis: de manhã ia para a faculdade e trabalhava, no banco, das 13 às 19h.

Passava a noite estudando e acordava, como sempre, às cinco da matina, para ler e estudar. Escusado dizer que os sábados e domingos também eram, em grande parte, devotado ao estudo.

Depois consegui uma transferência para trabalhar no Rio de Janeiro e, lá, ingressei na Faculdade Nacional de Direito (Largo do Caco). Vindo do interior, tive, até para a minha surpresa, um desempenho excepcional em uma instituição de renome. O fato de ter sido sempre um autodidata, fazia dos locais onde morava, cercado de livros, a "minha universidade".

Depois, voltei a morar em Itabuna para iniciar minha vida profissional como advogado. Associei-me a um profundo amigo da juventude, que já se tinha formado um ano antes, e começamos uma promissora advocacia. Esse querido amigo, compadre três vezes (eu, padrinho do casamento dele; ele, padrinho de meu casamento; e ainda eu, padrinho de batismo da única filha dele), é de uma inteligência brilhante.

Durante os anos acadêmicos, em Ilhéus, ele já casado, nos reuníamos constantemente para debater sobre ciência jurídica e outros campos do conhecimento. Assim continuamos durante os cinco anos que advogamos em conjunto. No primeiro ano de advocacia já ganhava três vezes mais do que no banco. Formado em 1971, já em 1975 ingressava no quadro de advogados do banco, onde permaneci até me aposentar, por tempo de serviço, ainda muito jovem, porque trabalhava desde os doze anos. Fui nomeado chefe do núcleo jurídico do banco, para o Sul da Bahia, com sede em Itabuna, responsável por todos os advogados do banco naquela região.

Sempre mantive a minha banca privada de advocacia e ensinei Direito Civil, na faculdade em que estudei, de 1978 a 1989. Em 1990, com a aposentadoria no banco, mudei para São Paulo (SP) onde fiz pós-graduação e advoguei até me mudar para os Estados Unidos. Eis, em apertada síntese, o histórico de uma vida banal e linear. Bem verdade que muita coisa aconteceu durante todos esses anos, período em que tive vários trabalhos publicados, fiz incontáveis conferências, adquiri várias propriedades rurais, hotel e outras cositas más. Dos títulos que amealhei durante uma vida ativíssima, o que mais me encanta é o de vagabundo, atividade que exerço empurrado por uma doce preguiça baiana. 

EM TEMPO: Ainda jovem, curei-me de uma doença deformadora chamada de "esquerdismo". Embora casado com o Direito, mantive a Economia, durante todos esses anos, como amante. Por muitas leituras, abracei-me a duas escolas do pensamento econômico liberal: a Escola Austríaca e a Escola de Chicago.

No plano político, passei a conviver com o pensamento dos conservadores, Edmund Burke, e, agora, vivo de braços dados com os conservadores americanos, pertenço ao Partido Republicano e sou membro do advisory board presidencial. Recebo do partido frequentes consultas sobre a orientação geral das políticas governamentais.


As minhas respostas e as de muitos outros que pertencem a esse board, dão as balizas para a atuação do governo. Nunca pleiteei e jamais pleitearei qualquer cargo. Só ajo pro bonus. Este País me recebeu de braços abertos, acolheu-me como um nacional, e tenho muito orgulho de ser um de seus filhos.

Tenho estudado muito a história, a economia, a geografia e os costumes americanos. Trata-se de um país único em toda a história das nações.

O baiano é mesmo preguiçoso?
Se o baiano é preguiçoso ou não, pouco me importa. Uso isso como uma verdade evidente para me proteger dos que me querem trabalhando. As pessoas normalmente associam trabalho com remuneração, ou seja, suor do próprio rosto como meio de sustento. Talvez por atavismo para ficar sempre na maldição lançada por Deus a Adão. É dizer, você pode passar o dia todo em atividade, entretanto, se a ação não se dirige ao ganho pecuniário para a manutenção do indigitado, é como se não houvesse a ação. Assim, eu me proclamo baiano e evito dar maiores explicações para o meu estado atual de só fazer o que gosto e o que me dá na telha, sem horários predeterminados e sem disciplina. Octium cum dignitatem, objeto de minha crônica a ser publicada no domingo, 17 de fevereiro, pelo famoso, impreterível e universal "Cão que Fuma", o único órgão que tem coragem de espalhar minhas bobagens pelo universo cibernético.

Quando e por que se mandou para os EUA?
Como vim parar nestas plagas...  Tenho dois filhos e uma filha, a Thiana. Minha querida Thiana começou a namorar com um americano nova-iorquino, residente na Flórida, quando estava cursando Direito em São Paulo. Depois de algum tempo, esse jovem americano, meu genro, Rick Meyerson, manifestando a intenção de um futuro casamento, pediu-me que ela continuasse os estudos nos Estados Unidos. Respondi que se ele quisesse se casar que viesse para o Brasil, pois não consentiria a saída dela enquanto não concluísse a universidade.

Como o amor é um sentimento forte, ele, que já cursara o bacharelado aqui (college), por ela insuflado, fez alguns cursos dirigidos ao mercado financeiro e, ao cabo, conseguiu ser contratado por uma empresa americana com filial em São Paulo. Tive que providenciar o casamento civil às pressas para que ele obtivesse o visto de trabalho no Brasil.

Cinco anos depois e porque a empresa onde o Rick trabalhava estava encerrando suas atividades no Brasil, ele, já sem o emprego, decidiu que era melhor voltar para o mercado americano, apoiado pelo entusiasmo dela por tal decisão. Assim, mudaram para cá.

Nos dois primeiros anos, fizemos, eu e minha mulher, viagens constantes aos Estados Unidos. Como não criei filha para queimar feijão, decidimos, eu e Nêga, vir passar aqui uns três anos para cuidar do neto Daniel, possibilitando a Thiana voltar à universidade para se habilitar a advogar nos Estados Unidos. Após ela tirar a carteira da ordem dos advogados de Nova Iorque (Bar Association) e estar no pleno exercício de sua profissão, decidimos retornar ao Brasil.

Aventura, FL, EUA

Aqui faço um esclarecimento. Durante esse período, ia praticamente todo mês ao Brasil, trabalhava alguns dias, e retornava. Chegamos a fixar residência no Rio, onde tinha um apartamento. Passados três meses, vimos que para ela continuar trabalhando teria que colocar o Daniel o dia todo na escola. Aí, como sei que isso é um massacre para qualquer criança, retornamos aos Estados Unidos, sob meu juramento, perante Nêga, que encerraria essa história de viajar todo mês ao Brasil para trabalhar por alguns dias.  

Quem começa a viver por alguns anos nesta terra não quer mais voltar, por mais que as saudades de parentes e amigos seja grande. Assim, já cidadãos americanos, fixamos definitivamente residência por aqui. Todo ano vamos ao Brasil e todos os anos, meus filhos André e Tales, com as respectivas famílias, vêm passar férias conosco.

Neste arranjo, mantemos a família unida e em constante congraçamento. Nossa casa virou uma espécie de consulado brasileiro na Flórida. Sempre acolhemos os parentes e os amigos. Nesse arranjo, a vida de baiano, que supõe casa cheia, centrou praça na Flórida, em torno dos lindos canais desta região paradisíaca. Para encerrar, faço um registro interessante. Meus filhos, minhas noras, minha filha e meu genro são, todos, advogados, ou seja, uma família cem por cento perigosa.

Por que acha advogados “perigosos”? Pelo que viu fazer e ouviu falar José Eduardo Cardozo?
Advogados, quanto mais hábeis, mais perigosos. Podem mudar a natureza dos fatos.

Como chegou ao cão que fuma?
Por seu intermédio, você entrou em contato comigo indagando se poderia publicar um artigo. Disse-lhe que tudo que eu escrevia e publicava no Face podia ser publicado. Esse era o meu propósito ao escrever, alcançar o maior número de pessoas possível. Disse-lhe que já tinha publicado cerca de cem textos e que poderiam ser publicados. Pelo menos os que eram atemporais. Combinamos que eu enviaria e você decidiria se publicaria ou não.

Como analisa a realidade socioeconômica e política do Brasil?
Quanto à realidade brasileira, os diagnósticos estão postos, mas, ordinariamente, todas as camadas da população, principalmente pela imensa ignorância dos postulados econômicos, relutam em tomar os remédios amargos. Preferem viver num constante amargor.

Quando alguma medida é tomada, geralmente não o é por inteiro, só a dose necessária para não deixar o doente morrer. Muita gente das altas camadas da elite não quer a solução porque perderia uma fração das vantagens que de que desfruta. Outros mais, por equívocos ideológicos.

A equipe econômica do atual governo sabe exatamente o que deve ser feito. A dúvida é se conseguirá dobrar os interesses em jogo. Dos aliados porque não querem perder algumas vantagens, dos adversários, porque temem que o governo dê certo, consiga ganhar as próximas eleições e, com o sucesso assegurado, evite que a esquerda retorne ao poder. Isso é um pesadelo para a esquerda que jogará todas as cartas nas piores das hipóteses.

Tenho na ponta da língua a lista do que deve ser feito, mas repito que essa equipe econômica, a mais notável que já vi em qualquer governo, sabe de tudo também.

Votou na última eleição presidencial?
Depois de ponderar toda a situação eleitoral, decidi votar no Bolsonaro. Escrevi um texto de seis páginas justificando o meu voto. Seria interessante publicar esse texto, mesmo passada a eleição, porque ele continua, a meu ver, atualíssimo. Votei no Consulado Brasileiro em Miami. Parece que Bolsonaro teve noventa e dois por cento dos votos

(NdE: Jair Bolsonaro teve, em Chicago, 1 216 votos = 69,72%; em Miami, 10 441 votos = 91,04% [O outro candidato recebeu 1 028 votos = 8,96%]; em Nova Iorque, 6 811 = 76,39%)
Pode enviar o texto, por favor.


Tem saudades do Brasil?
Não dá para ter saudades porque viajo bastante ao Brasil e recebo parentes e amigos do Brasil com grande frequência. Do jeitinho e da malandragem brasileiros não tenho nenhuma saudade.
Quando retorno me farto na comidinha. Mas aqui temos toda a comida brasileira, em restaurantes ou provida pela mesa de Nêga.

No Brasil, adoro o Rio e Salvador. O Rio a mais linda do mundo, Salvador, uma das. Fico muito em São Paulo onde estão meus dois filhos. Gosto também bastante de São Paulo, mas toda megalópole se parece em alguma proporção. Quando vou a New York passear, visito uma São Paulo mais rica, mais organizada e mais metropolitana, uma espécie de esquina do mundo.

O Brasil tem futuro?
Se tem! O Brasil tem futuro, sim, basta vencer as resistências à modernização da economia, a adoção de políticas econômicas liberais, e desmontar um estado que só é usufruído por elites corporativas.

O Brasil precisa, com urgência, de um choque de capitalismo e de um governo que desarme o Marxismo Cultural, que o está asfixiando.

A equipe econômica atual é muito boa, basicamente composta de economistas vinculados à Escola de Chicago. Nunca devemos nos esquecer de que temos de assumir a mística do trabalho e a valorização de qualquer trabalho, acabar com essa distinção herdada da nobreza colonial de que há trabalho de segunda ou terceira categoria. No particular, devemos nos mirar no exemplo norte-americano: a mística do trabalho (menos para mim, claro, que sou preguiçoso) e do sucesso.

Em resposta anterior, você revela que votou em Donald Trump. A julgar pelo que se lê nas ONGs “jornalísticas” de Portugal e Brasil, na francesa ‘Le Monde’, na espanhola ‘El País Brasil e na inglesa ‘BBC Brasil’... sobre a estupidez, a maldade, etc. de Trump você deve estar arrependido, não? (Aliás, o mesmíssimo arrependimento, também a julgar pelo publicado sobre Bolsonaro nas ONGs acima citadas, deve estar acometendo-o...) 😊

A campanha anti-Trump é uma das coisas mais sórdidas que já vi em minha vida. The New York Times, Washington Post, CNN e as principais redes de televisão deixaram de ser imprensa para serem partidos de oposição. Trump teve resistências, inclusive por parte de alguns caciques do Partido Republicano. Foi visto como um outsider que não pediu licença e estava assumindo a máquina partidária detida pelo establishment.

Acontece que nos Estados Unidos os programas de rádio dos conservadores equilibram a luta. Só um deles, Rush Limbaugh, é ouvido por mais de cinco milhões de pessoas, durante três horas.
Muitos outros, como Larry Helder, Sean Hannity, Laura Ingraham, Dan Bongino e muitos, muitos outros, desmascaram todo o santo dia as fake news.

Por outro lado, Trump é seguido no twitter por cerca de cinquenta milhões de pessoas. A última pesquisa do Rasmussen dá a ele a aprovação de 52%, seis pontos acima da de Obama, o queridinho da mídia e do mundo, aplaudido por toda a esquerda, ao completar os primeiros dois anos de governo.

Trump vem cumprindo todos os compromissos de campanha, a economia está bombando, no período foram criados cinco milhões e trezentos mil empregos, cerca de cinco milhões saíram dos programas de assistência, o mercado de trabalho está quente, nunca se registrou tão baixo desemprego entre negros e hispânicos, os salários estão subindo com consistência, foi feito o maior corte de impostos da história.

Foram criados mais de quinhentos mil empregos na indústria, setor que só registrava perda de empregos nos últimos dezoito anos, etc. etc.  Está revisando acordos comerciais deletérios aos interesses americanos, botando os países europeus para gastarem mais com a OTAN, de cujos encargos os Estados Unidos respondiam por 70% para dar proteção à Europa.

Já nomeou dos ministros conservadores para a Suprema Corte, homens que lerão a constituição como está escrita, fora inúmeros juízes federais e membros dos circuitos federais, dando uma espanada na esquerdalhada que pululava nesses cargos.

Os regulamentos que travavam a iniciativa empresarial estão sendo abolidos ou amenizados. Enfim, trata-se de um dos maiores governos da história americana, até aqui. A questão do muro é uma batalha travada quase todos os dias. Agora ele decretou emergência nacional na fronteira sul para poder usar verbas contingenciais para a construção do muro, com vistas a conter a entrada de setenta por cento dos opioides, do contrabando, de bandidos travestidos de imigrantes e de uma coorte de imigrantes ilegais. Isso deve virar uma batalha judicial a ser decidida pela Suprema Corte, onde ele já tem maioria de votos para tais programas.

Quanto ao governo de Bolsonaro, minhas expectativas são alvissareiras, por dois motivos. O primeiro é em torno de um time de craques na economia, os chicagoans de Paulo Guedes, uma equipe afinadíssima com o liberalismo econômico cujo templo é a escola de economia de Chicago, a mais consistente do mundo.

O segundo é a assunção de políticas conservadoras com vistas a desmontar o Marxismo Cultural que estava entranhado na vida brasileira, vendido ao pobre povo como algo moderno e modernizante.

Tenho travado algumas batalhas no facebook, mas a esquerda é muito fraca de argumentos

Tudo o que me marcam procuro demolir a golpes de lógica e da verdade objetiva. Essa turminha não dá nem para ser um bom aperitivo. Como sempre, a esquerda é a mestra das promessas sem compromisso com os resultados. Acho muito fácil desmontar os argumentos deles. Além do mais, são, de ordinário, primários em economia. Desmontar os argumentos deles é como tomar pirulito de criança.

As publicações via internet e os blogues conservadores são de uma consistência doutrinária ímpar. Aqui está cheio de "Cão que Fuma" de linha ideológica bem demarcada.

Os jornais eletrônicos penetraram na opinião pública, para não falar nos doutrinadores de direita. Aqui, global warming é discutido por cientistas dissidentes através de livros de densidade científica, blogs, artigos e o escambau. Como sou vivamente interessado no tema, já li vários livros e acompanho alguns blogs de cientistas como Roy Spencer.

“As publicações via internet e os blogues conservadores são de uma consistência doutrinária ímpar.”
É fato, pelo pouco que observo e sigo. E ainda bem.
Em Portugal, não existe oposição! No Brasil, um pouco mais, mas ainda envergonhada... é compreensível. Afinal, foi mais de um século de doutrinação e propaganda marxista!

Vide a “última crise” do Bebianno. Este vira herói e sai dizendo que Bolsonaro é louco... Aliás, a bem da verdade, nem sei se ele, realmente, afirmou isso. Mas, as “jornalistas” e os “colunistas”, todos, poderosas e poderosos que se acham, nos informam que os militares não tomaram café, o sobrinho de Bolsonaro foi ao Planalto cinquenta e oito vezes, os filhos de Bolsonaro são bastardos... vão chegar, como chegaram ao Trump, a nos revelar que... Bolsonaro tem pinto pequeno!! Disgusting!

São sim. No Brasil não temos nada parecido. No Brasil não há partido de direita. Em todos os países desenvolvidos há. Mas no Brasil a esquerda chama a direita, os conservadores, de fascistas. Precisamos acabar com esse rótulo caricato. Parece-me que o único é Olavo de Carvalho, um grande intelectual da direita.

Olavo de Carvalho, justamente um nome execrado pelos comentaristas, jornalistas e isentões...
Conheço pessoalmente Olavo de Carvalho, uma mente privilegiada.

Pedro, qual é a sua opinião sobre os recorrentes tiroteios nos EUA? Me refiro, não a atos terroristas comprovados, mas a esses surtos individuais com o mais recente EUA: Tiroteio em fábrica deixa 5 mortos além do atirador?


Meu caro amigo, a mente humana é mais desconhecida do que o solo da lua e as regiões abissais dos oceanos. O louco daqui possui mais dinheiro e mais condições de comprar armas de grande letalidade. Mas, por exemplo, o Unabomber nunca usou arma de fogo, usou explosivos.

Na Noruega, país desarmado, um maluco de ideias nazistas, matou mais de cem pessoas em uma ilha onde as vítimas simplesmente se divertiam. O fato é que esses facínoras passariam em qualquer teste psicotécnico. O louco inteligente sabe muito bem responder às perguntas dos testes psicotécnicos para burlar o diagnóstico.

O número de vítimas dos chamados massacres, se somadas, não representam um número de grandeza.

Outra característica é que os massacres ocorrem em lugares livres de armas, como escolas, templos, locais de reza e meditação, ou festas de congraçamento cristão.

Na porta da boate gay de Orlando, via-se logo o cartaz de proibição de entrar com arma.

Onde houve tentativa de massacre e era permitido o porte de arma, o maluco foi logo neutralizado, isso já aconteceu aqui e na Austrália.

Tenho um amigo americano, de família irlandesa, que só anda com um 38 cano curto. Vem aqui para casa armado. Perguntado por que sempre anda armado, respondeu que não vê a hora de estar no local de um ataque terrorista para passar fogo no cabra.


O americano normalmente tem um arsenal em casa, quando nada uma arma boa. Só um maluco para tentar entrar na casa de um americano para assaltar. Eu, para me sentir americano, comprei uma Glock de 16 tiros, arma, no Brasil, privativa das forças armadas e da polícia federal.


Meu neto, que vai fazer 15 anos em maio, atira desde os 12/13 anos e, além de grande pescador, é bom caçador. Ano passado foi a uma reserva caçar javalis, abateu dois com dois tiros.

Arma, por aqui, é um grande símbolo. Se alguém tentasse invadir os EUA, só na Virgínia teria que enfrentar uma milícia de mais de novecentos mil homens fortemente armados. Se alguém tentasse implantar um regime socialista aqui, como o que fizeram na Venezuela, teria que enfrentar trezentos milhões de armas. Há, ainda, um fato incontroverso: arma não passa de um meio, quem mata é uma pessoa.

Se você entrar no site do FBI você vai ter todo tipo de estatística sobre arma de fogo. Se entrar no site da NFR (National Rifle Association) vai encontrar estudos completos.

No Brasil, por não ter arma de fogo, um cara matou, acho, que seis crianças com faca. Acredito que o psicopata daí é pobre, não pôde comprar uma arma.

O cara que matou bastante gente, atirando da janela de um quarto em Las Vegas, era um homem tranquilo, maduro, de vida exemplar e dono de uma fortuna de cinquenta milhões de dólares.

Não há um padrão comportamental do psicopata. Normalmente são pessoas muito inteligentes e capazes de grande dissimulação.

Não falei sobre os terroristas, os loucos religiosos, falei mesmo sobre o louco sem propósitos religiosos ou políticos.

A pergunta que não foi feita:
Sobre possíveis perguntas, confio mais em seu tino jornalístico.

A derradeira mensagem:
Minha mensagem aos leitores é que continuem prestigiando esse bravo e inusitado Cão que fuma. O que estou preocupado é que escrevi muito rápido e ao correr da pena, resultando um texto passível de expurgo de algumas ou muitas erronias. Não sei como fazer isso no próprio texto do e-mail. Assim, ou você me manda o texto final para que eu possa introduzir algumas alterações, ou você mesmo faz o expurgo. Confio no seu taco.
Um abração.
Pedro

Ficou ótimo! Muito obrigado, Pedro!

Conversas anteriores:

7 comentários:

  1. Excelente! Impecável! Quando eu crescer, ou se um dia crescer, quero ser assim! Quem o conhece como eu, sabe que o nosso FRED é tudo isso e muito, muito mais! E já por um bom tempo, temos a felicidade de ler semanalmente suas crônicas. Só faltou dizer, Fred, que você faz parte da "New Castle Letters Academy" com muita honra. Forte Abraço e mais uma vez, nossos parabéns!!!! Ernesto Bezerra, Salvador/BA.

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    Respostas
    1. pedro frederico caldas20 de fevereiro de 2019 às 22:43

      É verdade, esqueci esse meu grande título. Mas respondi a todas questões envergando o meu fardão acadêmico.

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    2. pedro frederico caldas20 de fevereiro de 2019 às 22:45

      Meu caro Galdeano, sua generosidade só não é maior do que sua modéstia. Também aprendi muito com você, caro amigo. Foi e continua sendo um prazer enorme reencontra-lo no espaço cibernético. Um abração.

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  2. Tenho a honra de desfrutar da amizade de Pedro Frederico Caldas há quase trinta anos, dez dos quais iniciados em 1991 quando ingressei no banco onde ele era o Diretor do Departamento Jurídico. A distância entre o seu eruditismo e o meu é tão grande quanto o prazer de desfrutar de momentos agradáveis em sua sala, ouvindo-o discorrer com propiedade ímpar acerca dos mais variados temas. Pedro, um "rato de livrarias", investia boa parte do seu almoço nas visitas recorrentes a duas das principais livrarias de São Paulo, localizadas num lendário edifício, no outro lado da não menos importante avenida que sediava o banco. Deixei o banco no início dos anos 2000, sob a balburdia do Bug do Milênio, e desde então estive privado dessa fonte de sabedoria que é Pedro Caldas, até que este fantástico Face Book, há pouco tempo atrás nos reaproximou, ainda que virtualmente, onde voltei a deliciar-me do seu virtuosismo através dos inúmeros textos aqui publicados, culminando com esta reveladora entrevista para o Cão que Fuma. Obrigado a todos e a você, Pedro, por nos brindar com tamanha sabedoria.

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  3. Excelente texto ; excelente história de vida ! Parabéns ao entrevistado.

    Sidnei Oliveira
    Aposentado AERUS - RJ

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