terça-feira, 17 de novembro de 2020

Direita frágil

Os escribas do "manifesto" têm uma subconsciente, mas inaudita falta de respeito pelos eleitores. Tratam-nos como incapazes de discernir autonomamente as boas das más opções políticas. 

Telmo Azevedo Fernandes 

O borrão que foi feito publicar no esquerda.net de papel não me merece extensos comentários, porque o seu conteúdo é simplório e muito pouco assertivo. Dito de outro modo, é um pântano de ideias. 

A iniciativa revela não tanto uma subjugação à narrativa da esquerda, nem tampouco um tique de jactância e suposta superioridade moral, nem mesmo a parolice da húbris dos auto-ungidos. Coisas bastante mais básicas e, por isso mesmo preocupantes, denuncia este manifesto

Desde logo a dificuldade em lidar com a concorrência de ideias, a livre iniciativa política e a maior eficiência e eficácia das propostas partidárias. 

As generalizações serão certamente injustas para alguns, mas como o “manifesto” foi escrito no coletivo, afirmo que os subscritores parecem ter uma enorme dificuldade em empreender no panorama político nacional por não conseguirem identificar mais rápido e melhor do que outros as oportunidades no mercado eleitoral. Têm uma reação parecida com aqueles que fazem críticas aos especuladores económicos por anteciparem as condições futuras do mercado. Seria preferível aos partidos não colocar no mercado eleitoral as propostas políticas de que as pessoas necessitam e a que os eleitores estão dispostos a dar o seu voto? 

Esta inaptidão e a decadência das propostas partidárias a que sempre estiveram habituados os subscritores do manifesto leva a que a única via possível para adiar a sua inexorável irrelevância seja a de criar barreiras à entrada. Como não seria democraticamente aceitável proibir por via legal o surgimento de challengers, procuram criar artificialmente um cordão sanitário virtual, que afaste os líderes e agremiações que desafiem o velho status quo

Finalmente, os escribas têm uma subconsciente, mas inaudita falta de respeito pelos eleitores. Tratam-nos como incapazes de discernir autonomamente as boas das más opções políticas, assim como transparece a falta de consideração que têm pela capacidade cognitiva dos portugueses. Além disso, os autores presumem a incultura democrática dos cidadãos e, daí, entenderem ser necessário protegê-los de ser confrontados com as questões da res publica, amparo para o qual diligentemente se oferecem os signatários do texto que apareceu no Público. 

Resumindo e concluindo: têm ideias não liberais. 

Título e Texto: Telmo Azevedo Fernandes, Observador, 17-11-2020 

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