segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Perdido nas senhas

Eu tenho umas duas dezenas — e tudo tem de estar na cabeça 

Walcyr Carrasco 

Senhas! Tantas, tantas! Suponho que as empresas perdem milhões por causa delas. Não digo que é culpa dos hackers. Simplesmente porque a gente perde a paciência e desiste da compra on-line — já que senhas não reconhecidas tornaram-se parte da vida. É o meu caso com a Amazon Brasil. Cada vez que entro no site e vou pagar, recebo um aviso que a senha não é válida. Só que está certa. Mesmo assim, sou obrigado a redefini-la. Enviam um código para meu e-mail, e perco uns vinte minutos no mínimo para criar a nova. É um inferno, porque cada vez exigem senhas mais complexas. E menos duradouras. 

Um amigo acaba de receber um aviso da faculdade dizendo que sua senha expirou. Como assim, expirou? Ele não sabe se é tentativa de golpe ou pedido da faculdade mesmo. 

Dá medo, porque há quadrilhas especializadas em roubar senhas. Em razão disso, cada vez mais aumentam as exigências para a criação de senhas seguras. 

Surgiram sites de gerenciamento de senhas, como o Lumiun.  Esses sites exigem misturas de números e letras, às vezes uma maiúscula. 

O ideal é usar no mínimo catorze caracteres. Advertência: jamais utilizar nomes, palavras reais, datas importantes, número de documentos… Sugere alterá-las a cada noventa dias. Pior. 

Ninguém usa uma só para tudo, é arriscado. Eu tenho umas duas dezenas. Apple Store, TVs por streaming, meu próprio computador, banco, cartões… Tudo tem de estar na minha cabeça! Suspeito que hospitais psiquiátricos já reservam vagas para pacientes com stress causado pelo excesso e complicação das senhas. Horror: se dá algum problema, não há para quem ligar. Tudo é digital. 

Fui fazer compras on-line e descobri que alguém havia cadastrado meu CPF em outro e-mail. É impossível resolver porque enviavam códigos de segurança para um e-mail desconhecido. Algumas empresas, como o Magalu, responderam à reclamação, verificaram e tudo o.k. Outras, como a Nike, igualam-se a paredes de concreto. São tão preciosas que quadrilhas se especializaram em roubá-las. Outro dia o Instagram de meu irmão foi invadido e virou um site de prostitutas russas! 

“Arrumei uma caderneta de papel, dos tempos analógicos. Se troco, rabisco em cima”

 Alguém entrou no meu Face e fica pedindo a senha. Não boto. E o Face trava! 

Recebo também supostos avisos do Instagram para confirmar meu cadastro. Uma amiga botou os dados e roubaram seu Insta.  Foi um custo recuperar! É tenso. 

Em alguns lugares, errou a senha três vezes, perde o cartão! 

Mas, como eu disse, são tantas! É fácil confundi-­las! Ainda mais porque sempre sou obrigado a mudar alguma.

Arrumei uma caderneta de papel, típica dos tempos analógicos.  Iguais às que se usava uns trinta, quarenta anos atrás para telefones, aniversários… Anotei todas as minhas senhas, devidamente identificadas. Se troco, rabisco em cima e boto a nova do lado. É uma solução antiga.  

Mas se eu anotasse no celular, ou no computador, precisaria de senha para abrir. E se esquecesse? Na caderneta, encontro todas as senhas importantes. Tão mais simples! Sei que estou ficando velho. Mas às vezes sinto saudade do tempo da caneta e do papel… 

Título e Texto: Walcyr Carrasco, VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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