domingo, 16 de maio de 2021

[O cão tabagista conversou com…] Luís Serpa: “Vergonhosa, catastrófica, mentirosa, fraudulenta e corrupta.”

Nome completo:
Luís Miguel Oliveira Santos Serpa

Nome de Guerra: Nenhum

Onde e quando nasceu?
Lisboa, 1957.

Onde estudou?
Escola primária: Salesianos do Estoril.
Liceu: Liceu Salazar, Lourenço Marques.
Escola náutica Infante D. Henrique, Paço d'Arcos.

Onde passou a infância e juventude?
Em Portugal até aos 8 anos, em Moçambique dos 8 aos 17.

Por óbvio, o Liceu Salazar mudou o nome… para Liceu Samora Machel?
Creio que sim, mas eu já lá não estava. Acabei o sétimo ano em 1974.

Errei por pouco…


O que levou os seus pais a se mudarem para Lourenço Marques?
Antes de Lourenço Marques estivemos em Quelimane.

O motivo da ida para Moçambique foi a minha mãe estar farta das ausências prolongadas do meu pai, na altura capitão de um rebocador de alto-mar. Chegava a ficar nove a dez meses fora!

Teve, a senhora sua mãe, muita razão! 😉
Qual (ou quais) acontecimento marcou a sua infância e juventude?

a) Positivamente: 
Em 1966, a viagem no PRÍNCIPE PERFEITO de Lisboa para Moçambique;


Em 1973, a oferta pelo meu pai de um pequeno veleiro (um Vaurien, para os que conhecem) a que dei o nome de ADN.

b) Negativamente: 
Os anos em Quelimane, de 1967 a 1971, em que frequentei um colégio que odiava profundamente. 
A vinda para Portugal, em 1974, um trauma de que levei muitos anos a recompor-me. 

Qual a razão (ou razões) que o levavam a odiar esse colégio?
Foram muitas e durante muito tempo. Foi um período que me marcou muito, cuja única vantagem foi afastar-me de vez e radicalmente da religião (era um colégio de padres).

Compreendo… foi o DRAMA dos “retornados”… um acontecimento histórico ao qual, se bem me parece, Portugal (leia-se governo e establishment) jogam para as calendas…
Você continuou os seus estudos em Portugal?
Sim, fui para a escola Náutica Infante D. Henrique, contra a vontade do meu pai. Mas era a única que não exigia o ano propedêutico.

E aí, você se sentiu bem ou mal recebido pelos seus colegas da Metrópole? 
Fui muito mal recebido, mas os meus colegas estavam prenhes de razão. Eu não me integrava, não queria integrar-me, ignorava-os e eles, claro, não viam isso com bons olhos. Os meus primeiros anos em Portugal foram um período muito difícil da minha vida e isso transparecia.

Quando começou a trabalhar?
Essa pergunta tem várias respostas possíveis. Na marinha mercante, em dezembro de 1976. Antes disso, na náutica de recreio, fui skipper de uma lancha a motor durante uns seis meses; antes disso ainda, fiz - como monitor - algumas colónias de férias para crianças de bairro de lata; e antes disso ainda dei aulas de vela.


Certo. Então, atualmente, trabalha em que área?
Trabalho maioritariamente na área da náutica de recreio. Acessoriamente, escrevo - não é bem um trabalho, porque não é remunerado, se bem que dê trabalho - e estou ativo socialmente.

Por exemplo, estou a organizar um debate sobre a Comunicação social: liberdade de expressão e responsabilidade social.

Em 28 de maio? Já está na barra lateral desta revista.


Por favor, dê mais detalhes sobre o Debate: qual (ou quais) canal transmitirá, a inscrição é gratuita… 
Ora bem, vamos por partes:

a) A inscrição é gratuita;

b) Deve ser solicitada enviando um e-mail para debate_com.social@autonoma.pt;

c) Vai ser via Zoom e - a confirmar ainda - via Facebook;

d) Via Zoom, as pessoas poderão fazer perguntas escritas.

Por que e desde quando se interessa por Política? 
Desde que sei ler? Porque sendo tudo o que sou, sou fundamental e basicamente um ser social.

Não entendi. Bilhões de pessoas por este mundo afora são seres sociais (considerando que estes sejam indivíduos que vivem em sociedade, quer dizer, são cidadãos, muito lembrados nas vésperas de eleições) e não se interessam por Política… 
Talvez «social» não seja a palavra certa, então. Está a fazer-me pensar numa coisa na qual não é frequente eu pensar... Interesso-me por política desde muito novo porque... Talvez devido à importância que a liberdade tem para mim, à minha repugnância por ordens, regras e leis com as quais não concordo (e não com a existência de leis e regras, que considero necessárias).

E mesmo esse «não concordo» tem considerandos: não concordo com leis iníquas, leis injustas, leis cujos efeitos perversos sejam piores do que aquilo que elas querem regular. Ou seja, há um aspecto moral e outro pragmático na minha abordagem às leis.

Um dos livros que mais me marcou, jovem adulto, foi o Ensaio sobre a Liberdade, de John Stuart Mill. A limitação do poder político sempre foi importante, para mim. Para mais, leitor ávido de Nietzsche, via quase como uma obrigação desobedecer - tem razão em chamar-me a atenção sobre as insuficiências do «social».

No fundo, sou bastante individualista e a política em mim é uma luta não pela sociedade, mas pela minha liberdade, pelo direito de ser eu a definir a minha vida, o meu espaço. Direito esse extensível a todos e a cada um, naturalmente.

Simpatiza ou milita em algum partido político?
Sim, simpatizo com a Iniciativa Liberal. Fui membro, mas por pouco tempo, pois não concordei com algo que o partido fez. Creio que sou demasiado individualista para pertencer a um partido...

Você também é blogueiro?
Sim, há dezessete anos e meio: donvivo.blogspot.com


Falando em liberdade de expressão, você considera que a imprensa portuguesa tem plena liberdade? 
Penso que sim, que tem. Usa-a mal, na minha opinião - pelo menos durante esta crise da Covid-19 usou-a bastante mal. Mas restringi-la está, para mim, fora de questão.

A propósito, qual a sua opinião sobre a decisão da Câmara de Lisboa: (Praça do Império em Belém vai ser alterada e brasões ‘colonialistas’ vão desaparecer)? 


É uma mistura de demagogia, irresponsabilidade e cedência ao zeitgeist. Nada que surpreenda muito num autarca do PS.

Falando em PS, como avalia a governança desse partido à frente da República Portuguesa?
Vergonhosa, catastrófica, mentirosa, fraudulenta e corrupta. António Costa consegue o prodígio de ser quase tão mau como o Sócrates. Ou pior, porque é dissimulado e sabe mentir. Sócrates sabia-se ao que vinha. Costa mente melhor.

Nossa! Que paulada, hein? 
Sim, é. Um período negro na história de Portugal: um presidente palhaço, um primeiro-ministro incompetente, aldrabão e demagogo, um presidente da Assembleia da República cuja inteligência anda ao nível da das galinhas e um dirigente do principal partido da oposição cujo maior sonho na vida é ser subordinado do dito primeiro-ministro.

E sobre a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa? 
Estaria melhor num circo, mas teria de ser um circo de segunda categoria.

Conhece o Brasil?
Sobretudo o Nordeste; dentro deste, sobretudo São Luis do Maranhão.

Estive no Rio uns meses, em 76; e uns dias já muito depois disso, passei uma semana em São Paulo - gostei muito da cidade - estive em Paraty...

Fiz uma viagem por terra de São Luís à Guiana Francesa. Conheço partes do Brasil. Tenho aí grandes amigos e aí passei maravilhosos momentos. Mas acho um inferno para trabalhar (pelo menos o Nordeste, que é onde trabalhei).

Acompanha a atualidade brasileira?
Pouco. Leio os posts anti e pró-Bolsonaro que me chegam ao feed do Facebook. Tenho uma relação ambígua com o Brasil: gosto muito de aí ir - ia com alguma frequência - mas não gostaria de aí viver. Detesto a burocracia, a política... Sobretudo, o que me magoa no Brasil é o desperdício.

Um dia escrevi que é preciso querer muito para fazer do Brasil um país pobre e esse desperdício de riquezas, as assimetrias sociais que vêm, única e simplesmente, das escolhas políticas é-me doloroso.

Depois, claro, há sempre as coisas maravilhosas, abençoadas por Deus e bonitas por natureza...

Para dizer toda a verdade: estou ansioso por voltar ao Brasil.


Cara, não vou revelar as minhas opiniões sobre o primeiro-ministro e o presidente de Portugal por medo da RTP – a do Nicolau do lacinho –, a ERC, o Costa – do Expresso –, o Paulo Baldaia – do DN –, peçam a minha cabeça, quer dizer, a do Cão…
Verdade. Incompreensível, frustrante e revoltante saber que no Brasil “terra em que se plantando tudo dá” ainda existam bolsões de pobreza absoluta… 
O sistema brasileiro só protege os donos das empresas. Não é bom para mais ninguém. Mas os esquerdistas gostam. Verdade seja dita: são filhos dos donos.

Você disse anteriormente ter se “afastado de vez e radicalmente” da religião. Isso significa que você é ateu?
Sim. Completa e irremediavelmente ateu.

E sobre o ataque do Hamas a Israel desde Gaza? 
Mesmo sabendo que há erros do lado israelita, sou inamovivelmente a favor de Israel. Prefiro sociedades laicas a sociedades teocráticas, sociedades livres a ditaduras, estados de direito a estados corruptos.

Uma pergunta que não foi feita?
O seu livro está vendendo bem? Resposta: Não. Antes da Covid ia vendendo - não tinha de me envergonhar. Agora não. Parou.

E do que trata o seu livro?
O livro - Avenida da Liberdade nº 1, editado pela Bookbuilders - é uma compilação dos textos do meu blogue, Don Vivo, que mantenho desde 2003. Este primeiro volume vai de 2003 a 2007.

A derradeira mensagem: 
Comprem o meu livro! Quero publicar o segundo.

Obrigado, Luís! 😉

Conversas anteriores: 

2 comentários:

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