Aparecido Raimundo de Souza
Quase meia noite. Ninguém na rua. Só
a indefesa e pobre criatura, frágil e
desprotegida, em pé, olhando o vazio da noite estrelada, feito um fantasma
errante. Na mão esquerda, uma sacola de
plástico, onde, talvez, só tivesse o cartão do SUS, ou o passe livre...
Aquele assalto seria mel na
chupeta. Ah, seria! O meliante não
pensou duas vezes. Sequer se deu ao trabalho de espiar se vinha alguém. Partiu
pra cima. Se aproximou, de mansinho, e encostou o revolver trinta e oito no
ouvido do infeliz. Não teve tempo sequer de dizer ao ancião: “Perdeu, perdeu”.
Tampouco se deu ao prazer mórbido de
repetir a batida e repisada frase: “passa tudo, vovô, ou terei que mandar a sua
pessoa visitar Papai do céu mais cedo...”.
Em vista do inesperado, tremendo e
assustado, o ancião se deixou cair como uma folha desprendida de uma árvore invisível ao sabor
de um vento ameno, em meio à calçada fria.
Sofreu, na hora, se soube depois, um
ataque fulminante do coração. Por conta própria, o idoso simplesmente bateu com
as doze. Nos seus olhos, apesar do susto e do terror momentâneo, uma calma
silenciosa deixava transparecer que partia feliz.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza. De Sertãozinho, Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
15-10-2021
Colunas anteriores:
Gatos espelhados versus jacarés famintos
Como portal para outra dimensão
Hora do rush
[Aparecido rasga o verbo] Pivô
Três por quatro
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-