José Manuel
O DC-10 era um avião maravilhoso e nos trouxe grandes alegrias, tanto empresarialmente, à VARIG, como conforto aos passageiros e, por que não dizer?, a toda a tripulação tanto técnica como de serviço, com seus avanços tecnológicos para a época.
Aeroporto de Zurique |
Apesar de sua silhueta pesada,
por conta daquela turbina enorme na cauda, era um avião super avançado com
facilidades a todos e uma confiabilidade ímpar em segurança, demonstrada ao
longo dos anos em que permaneceu ativo na empresa, tanto na configuração
full-pax ou cargueiro, na VARIGLOG.
Toda aeronave, voa com Nose UP
em voo de cruzeiro, o que pode variar de 1 a 5 graus, a fim de aumentar a
sustentação nas asas, mas aquele nosso gordão já foi chegando com o nariz em pé
mesmo, afinal viria mudar todo o perfil da aviação comercial no Brasil. Para
melhor!
Literalmente um avião com
nariz em pé!
Logo após a decolagem era
impossível se levantar dos jump-seats das portas 4LR e se dirigir ao nariz do
avião, pois a ladeira era muito forte e difícil de vencer.
Já em voo de cruzeiro
"nivelado graduado", os comissários sofriam para puxar os meal-carts,
o que com o tempo resultou em alguns problemas ortopédicos a alguns tripulantes
de cabine.
Em 9 de novembro de 1986, num
show aéreo no aeroporto de Jacarepaguá, três bravos e experientes tripulantes
da VARIG, o Comandante Derito, o Comandante Waltemath, ambos infelizmente in
memoriam, mais o engenheiro de voo Airson, colocaram tanto o DC-10, como a
própria VARIG, nos anais da história ao acrobaticamente, fazerem uma passagem
baixa memorável, com "260 toneladas" a menos de dez metros do solo,
levando o público presente ao delírio.
Ali naquele momento, ficou
provado o acerto da empresa na compra daquela aeronave espetacular, bem como o
formidável preparo técnico de seus tripulantes.
Nada igual jamais será visto!
Voltando ao voo normal, fora o
mal-estar da inclinação inicial, era um avião gostoso, com um serviço de bordo
espetacular e desenvolvido para a sua configuração padrão de três cabines.
Mas, também era uma aeronave,
sujeita a turbulências, nada que não fosse administrável pelos nossos
tripulantes técnicos, mas certamente desconfortável aos passageiros e
tripulantes de cabine.
Neste equipamento voei,
alternando com o B-707 e o B- 747 (jumbo) de 1975 até seus últimos momentos na
Pioneira.
Eu não posso escrever por
outros, mas no tempo que o voei, tive apenas dois episódios de incidentes
graves causados por fenômenos meteorológicos.
O primeiro, por volta de 1985,
fazíamos um voo para o México, com escala em Bogotá, num dia esplendorosamente
azul, um céu de brigadeiro para ninguém botar defeito.
Voo lotado como sempre e eu
trabalhando na primeira classe, nesse dia fora da minha tripulação fixa, pois
peguei esse voo numa prontidão.
O dia estava tão bonito que
após o serviço e já com Bogotá no horizonte claríssimo, resolvi ficar na porta
da cabine de comando para apreciar aquela aproximação e mais algum tempo o
pouso suave.
Em segundos, tudo se apagou e
fui parar dentro do porta casaco esquerdo junto ao toilette, e muitos gritos
chegando aos meus ouvidos sem que soubesse sequer o que tinha ocorrido. Apenas
senti uma pressão muito forte me jogando para cima e a seguir, outra pressão
também forte, me empurrando contra o piso. Foi questão de segundos e quando
tudo serenou, consegui sair dos porta casacos, vi que não estava machucado e
instintivamente corri para a econômica, passando pela executiva, não sem antes
verificar num relance, que tudo estava aparentemente normal no Cockpit, na
primeira classe e que os gritos vinham lá de trás.
Já na executiva o cenário não
era dos melhores, com passageiros se sentindo mal, vomitando e machucados, mas
sendo atendidos.
Continuei, e o cenário ia
piorando na medida que avançava na econômica, algo que jamais passou por minha
cabeça ver, desde painéis do teto deslocados, até vários braços de poltronas
retorcidos pela queda de passageiros sem cinto, sobre eles, encosto de
poltronas quebrados e principalmente muita gente machucada.
Vislumbrei que o pior deveria
estar na galley aonde quando cheguei já estavam retirando o Cássio Castro
debaixo dos carts, caixas e toda a sorte de materiais. Estava com um corte
profundo no rosto e quase desmaiado.
Outros colegas apresentavam
machucados leves e medo estampado em seus olhares. Enfim, fomos fazendo o que era possível, em
atendimentos pessoais e tentando arrumar o que havia se deslocado de seus
lugares originais.
Ao entrar em um "Jet
stream", sofremos uma queda de dois mil metros e um retorno ao nível
original em segundos.
Não tenho a menor ideia de
quantos "G" de aceleração e desaceleração sofremos, só sei que foi
muito forte.
Pousando em Bogotá, alguns
passageiros, mais três tripulantes, como o Cássio, a Hebe e outro que não me
recordo, foram hospitalizados.
O Cássio teve de se submeter a
cirurgia plástica reparadora do rosto, ficando algum tempo em Bogotá.
Não sei de quem foi a ordem de
prosseguir para o México, se foi de Operações ou do Comandante, mas sei que foi
temerário e insensível, pois a tripulação estava fragilizada, fomos com menos
três e a aeronave danificada nas duas cabines traseiras. A meu ver a aeronave
teria que ser submetida ao raio X estrutural, antes de voar novamente.
Tanto isso é verdade que a
galley traseira desse avião sofreu um recuo estrutural de 10cm.
Mas, fomos até à cidade do
México e voltamos graças a Deus sem novo incidente.
Um ano depois, no inverno
europeu de 1986, junto com o Kelmer e a Irene, numa pisada de bola de
Operações, já que em Roma estava um inverno terrivel e todo mundo sabia que em
Milão com vários metros de neve, estourava os encanamentos de casas e hotéis.
Mesmo assim, com Malpensa
aberto nos mínimos, fizeram com que o Comandante Cristiano decolasse de Roma
para Milão.
Nosso avião estava até
"ao talo" de passageiros e o pequeno trecho até Milão ocorreu
normalmente.
Mas... na aproximação para o
pouso a poucos metros do solo, e com visibilidade quase zero, batemos com a
cauda numa montanha de neve que havia se formado horas antes na cabeceira da
pista. Foi uma pancada forte e a inclinação da asa esquerda foi batendo na neve
acumulada, danificando superfícies de comando como os flaps.
Graças ao Cristiano & Cia,
hoje estou relatando aqui minhas memórias sobre esse “incidente".
Não precisaria escrever que
deu pernoite para conserto, porém, para ilustrar, tiramos fotos na escada da
estação 1L e ao nosso lado havia um avião da polonesa LOT, totalmente coberto
pela neve. O trajeto para o hotel foi feito através de um corredor feito por
máquinas, e a Neve de um lado e do outro do nosso ônibus, quase chegava à
janela.
Então, tripulação e
passageiros acomodados em hotéis, a hotelaria de Milão agradecia a generosidade
da VARIG em ter feito o que ninguém faria, naquelas condições, atmosféricas.
É bem verdade que poderia ter
sido pior e hoje, quase 300 nomes poderiam estar escritos em alguma lápide na
Itália.
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A primeira greve de fome em 2013
Como entrei na Varig e os meus amigos inesquecíveis
Os quatro motores pararam de funcionar em pleno voo!
A quadrilha no hangar
Tenerife, O MAIOR acidente aéreo de todos os TEMPOS
AF 447 - A história do ACIDENTE que MUDOU a aviação comercial
Do B-707 fui promovido (sic...) para os A-320,
ResponderExcluirJá estva com 2 semanas de curso, quando eu e o f/e Arelino fomos convocados para fazer um cargueiro de 707 para Frankfurt, FELIZMENTE saindo dauela Bosta que era o A-320.
Saí do 707 para o DC-10 um avião maravilhoso.
Sou suspeito ao dizer que a Boeing e a Douglas fazem aeronaves e a Airbusfaz trambolhos aéreos.
No ano passado o DC-10 fez 50 anos de seu primeiro voo.
Sua maior operadora foi a FEDEX que ainda tem cerca de 8 voando.