segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Trapaça sem fim

O STF mantém intacto o mecanismo que montou para mandar na vida pública brasileira e escrever leis que só poderiam ser feitas pelo Congresso

J. R. Guzzo

A eleição já acabou. O STF ganhou. Os “manés” perderam. Lula, que três anos atrás estava preso num xadrez da Polícia Federal, torna-se o primeiro condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro a ocupar a presidência da República neste país. Jair Bolsonaro não existe mais. A “democracia” está “salva”. Porque, então, continuar com a repressão neurótica, rancorosa e ilegal que o ministro Alexandre Moraes e seus colegas do Supremo aplicam há quatro anos contra quem se opõe a eles e ao regime de exceção que impuseram ao Brasil? Porque eles querem. O jogo acabou. Mas o STF mantém intacto o mecanismo que montou para mandar na vida pública brasileira, escrever leis que só poderiam ser feitas pelo Congresso e meter a polícia em cima de quem não está de acordo com essas aberrações.

Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

O Brasil continua a ser governado, assim, não pela ação equilibrada dos Três Poderes, mas por um inquérito policial — esse que o ministro Moraes conduz desde março de 2019, não descobriu até agora rigorosamente nada que tivesse um mínimo valor jurídico e já foi adiado cinco vezes. A Constituição proíbe o STF de abrir investigações criminais, mas há mais de três anos os ministros desrespeitam sem nenhum pudor esse mandamento; inventaram uma teoria frouxa e velhaca para justificar sua conduta e não pararam mais. 

O inquérito ilegal e perpétuo de Moraes e do STF se destina, oficial e hipocritamente, a apurar “atos antidemocráticos”. É falso. A investigação nunca defendeu democracia nenhuma; apenas utiliza a ideia de “democracia” para servir aos interesses da ditadura judiciária que o Supremo criou no Brasil. Qual é a novidade? Tudo o que o governo faz em Cuba, por exemplo, ou na Rússia, ou na China, também é para defender a “democracia” — “democracia popular”, como dizem. 

Igual a eles, o STF expropriou o significado objetivo da palavra “democracia” e fez dela um instrumento de perseguição política, de repressão aos direitos individuais e de violação sistemática da lei. Por conta dessa trapaça, censuram a imprensa, prendem gente, multam, bloqueiam contas bancárias, calam as redes sociais e mandam em tudo.

Para que vai servir o inquérito a partir de agora: para perseguir quem discorda do governo Lula? É o que está acontecendo na prática — manifestar oposição, pelo jeito, vai ser um “ato antidemocrático”. Moraes, a propósito, anda encantado com as suas multas de 100.000 reais por hora, uma estupidez que não existe em lugar nenhum no mundo, nem em tempo de guerra — não há multa de 100.000 por hora na Ucrânia, por exemplo, para se ter uma ideia da demência dessa coisa toda. É o Brasil da democracia.

Título e Texto: J. R. Guzzo, O Estado de S. Paulo, via Revista Oeste, 20-11-2022, 18h

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2 comentários:

  1. FOTO LEGENDADA (ACIMA) DO MI"SI"FRISTO ALEIADEALEXANDRE DE MORRAAIS:
    - Apesar de ser um guardião da Desordem, de "Onrar" a Contituiconceição, de Lucrar ferrenhamente pelo Estrado Demoniacrático de Direieieito, não posso andar pelas ruas como um homem normal. Todos querem me bater, me xingar, me chamarem de ladrão... acho que vou largar de ser mi"SI"nistro.
    Aparecido Raimundo de Souza
    da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro

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  2. A "Trapaça" Tropeça sem fim... um dia, de tanto tropeçar, cairá de vez.
    Aparecido Raimundo de Souza
    da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.

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