Ajuda do Twitter durou cerca de cinco anos
Maria Afonso Peixoto
Depois de ser revelado
pelos “Twitter Files” que o FBI punha e dispunha da rede social como se fosse
uma sua “subsidiária”, ficou agora a saber-se que a rede social também ajudou o
Pentágono a influenciar operações militares. Segundo a oitava
parte dos “Twitter Files”, divulgada pelo jornalista de
investigação Lee Fang, os anteriores executivos e funcionários do
Twitter ajudaram o Pentágono a espalhar propaganda e informação falsa durante,
pelo menos, cinco anos. A campanha de desinformação que o Twitter ajudou a
espalhar incluiu a criação de perfis falsos e vídeos manipulados.
O escândalo de dimensões
gigantescas que está a ser exposto pela divulgação de documentos e mensagens
internos do Twitter não pára de aumentar. Na oitava
parte dos chamados “Twitter Files”, o jornalista de investigação Lee
Fang revelou como os anteriores executivos e funcionários do Twitter ajudaram o
Pentágono numa campanha de propaganda e desinformação.
A ajuda do Twitter ao Pentágono, que durou cerca de cinco anos, permitiu que uma rede de contas falsas criadas pelo Pentágono manipulasse a opinião pública sobre os conflitos envolvendo o Iémen, o Iraque, o Estado Islâmico, a Síria e o Kuwait.
As contas em causa publicavam
frequentemente sobre as políticas das Forças Armadas norte-americanas no Médio
Oriente, e mensagens desfavoráveis ao Irão. Para além da região árabe, algumas
visavam profusamente a Rússia e a China.
Estas informações, que vieram a público na noite de terça-feira, contrariam as afirmações que a gigante tecnológica fez no passado, quando anunciou estar a “investir fortemente” na transparência relativamente a “operações de informação” apoiadas pelo governo que constituíssem “comportamento coordenado de manipulação”.
Com efeito, não só o Twitter permitiu actividade de propaganda militar pela Defesa norte-americana, como o fez durante anos. Em Julho de 2017, uma funcionária do Comando Central norte-americano (CENTCOM) – uma divisão do Departamento da Defesa – enviou à rede social uma lista de 52 contas em língua árabe para serem “whitelisted”, ou seja, terem o seu estatuto de verificação aprovado.
Nesse mesmo dia, a empresa atribuiu-lhes ainda o “privilégio” de ficarem isentas da sinalização por spam ou “abuso”, e uma maior visibilidade e probabilidade de se tornarem “tendência”. Num dos e-mails, a CENTCOM disse que usavam as contas para “amplificar certas mensagens”.
Embora inicialmente os perfis
não escondessem ligações à Defesa norte-americana, mais tarde acabaram por se
tornar totalmente ‘camufladas’ para se fazerem passar por pessoas reais. Várias
das contas em questão acusavam o Irão de “ameaçar a segurança da água do
Iraque” e de ficar com os “órgãos de refugiados afegãos”. Para simular a sua
autenticidade, algumas tinham imagens de perfil criadas por Inteligência
Artificial (denominadas deepfake). Uma delas alegava ser uma fonte
de “opinião iraquiana”.
As comunicações internas agora
reveladas mostram que a rede social tinha conhecimento da operação de
propaganda encetada pelas Forças Armadas norte-americanas, mas permitiu a
manutenção das contas, mesmo estando em violação dos seus termos de utilização.
De facto, muitas foram identificadas ainda em 2020, mas permaneceram ativas ainda durante esse ano. Algumas só foram suspensas este ano, e outras não chegaram a ser eliminadas até hoje.
Em Agosto passado, um relatório da Universidade de Stanford intitulado “Stanford
Internet Observatory” ‘desmascarou’ a rede de propaganda que a Defesa
norte-americana mantinha contra os seus “adversários” internacionais. A
‘operação’ utilizava várias redes sociais: para além do Twitter, também o
Facebook e o Telegram.
[Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM]
Título e Texto: Maria
Afonso Peixoto, Página UM, 22-12-2022
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