Aparecido Raimundo de Souza
Quando os evangelistas
redigiram seus textos, o foco desfocado de sua atenção passava longe da
anatomia de Jesus Cristo. Antes se fixaram no fato de que o verbo de Deus se
fizera carne, nascendo de mulher, conforme as Escrituras. Naturalmente,
registraram suas palavras e os “sinais” miraculosos que realizara, com realce
para sua Ressurreição. Algum tempo iria correr antes que a devoção popular se
preocupasse com a aparência humana do Filho de Maria e de José.
Segundo Georges Gharib cidadão
especialista em Mariologia (Mariologia, é o estudo aprofundado acerca da Virgem
Maria, mãe de Jesus Cristo), em seu livro “Os Ícones de Cristo: História e
Culto” pela Editora Paulus edição 1977, 290 páginas, aprendemos que “a imagem
de Cristo, aparecida desde os tempos mais antigos na arte cristã, antes de
chegar à perfeição incomparável que hoje conhecemos, teve de percorrer um longo
caminho através de contextos históricos complexos e dependências culturais de
várias espécies”. De fato, já nas
catacumbas romanas (Século III e IV, a imagística dos cristãos criou cenas de
Magos, a ressurreição de Lázaro e cenas de Paixão).
Para tanto, foram superadas as proibições do Antigo Testamento quanto à produção de imagens, diante da realidade esmagadora da Encarnação do Verbo, com o Filho do Altíssimo assumindo um corpo que poderia ser visto, ouvido, tocado e... retratado. Para Georges Gharib, a “idade de ouro de Justiniano” (Século VI e VII d.C) foi a fase da arte cristã que melhor refletiu o “humanismo” dominado pela figura de Cristo. Cresce, então, o esforço para encontrar as feições e os traços corporais do Mártir do Gólgota da história.
Havia duas “fontes” para
fornecer tais informações: As “Aquiropitas” e o santo Mandilion de Edessa. Vamos explicar em rápidas pinceladas ambas as
palavras. “Aquiropitas”, eram chamadas as imagens (pinturas) que, literalmente,
não tinham sido produzidas por mãos humanas, como a Aquiropita de Camuliana, na
Capadócia. Nos mesmos passos do Credo, o santo Mandilion se constituía num
autentico retrato de Cristo, impresso miraculosamente em uma toalha (em árabe
“mandilion”), por Ele mesmo, e enviada ao rei de Edessa, Abgar pouco antes da
Paixão e Morte de Nosso Senhor. Por volta do ano 30 d.C, Abgar V, toparca de
Edessa, doente de lepra e da gota serena e crônica, sabendo da fama de Jesus,
como taumaturgo, enviou lhe um intermediário, de nome Ananias, com dupla
tarefa: entregar-lhe uma carta e fazer-lhe o retrato.
Ananias era pintor. Não pintava como Salvador Dali, nem Daqui, tampouco como Claude Monet ou Vincent van Gogh. Mas dava lá suas pinceladas. No encontro, Jesus pediu água para lavar o rosto e uma toalha, na qual imprimiria a sua própria imagem. Ao receber a tolha e uma carta ditada por Jesus, Abgar se viu curado, com exceção de um pequeno ponto de lepra na testa. Após a Ascensão de Cristo, tendo recebido o batismo cristão, Abgar se viu completamente curado. O santo Mandilion escapou as inundações e as invasões inimigas e seria transladado para Constantinopla em 944 d.C.
Em 1204, quando Constantinopla
foi saqueada pelas tropas latinas (tropas estas que entraram na cidade latindo
com ferocidade jamais vista), da Quarta Cruzada, o Mandilion desapareceu. Criou
perna. Virou poeira. Entretanto, foi reconhecido o tempo suficiente para que
várias gerações de monges iconógrafos chegassem a estratificar uma imagem
padrão do rosto de Cristo. Um desses modelos é o “Cristo Pantocrator”, isto é,
como leciona a professora Dra. Wilma Stegall de Tommaso, em seu brilhante
trabalho “CRISTO PANTOCRATOR: A ORIGEM E SUA DIVULGAÇÃO NO BRASIL” (disponível
para baixar, na Internet).
Pantocrator se traduz segundo
explica a Dra. Wilma, por “Todo Poderoso”.
Em razão disto, o Pantocrator pode ser encontrado em cúpulas e absides
dos templos cristãos, em selos e moedas, marfins e evangeliários. Em outras
palavras, “é o retrato de um homem adulto, com aproximadamente trinta anos de
idade, quase sempre em meio busto. Sua mão direita abençoa à moda grega e a
esquerda, traz um livro aberto ou um rolo. Tem o rosto alongado, sobrancelhas
arqueadas, olhos grandes e abertos, fixos no espectador. Nariz comprido, mas
delicado, barba longa, bigode caído, cabelos ondulados que descem, em cascata,
sobre os ombros. Na fronte, larga e alta, se destacam três ou mais cachos de
cabelo. Suas vestes são típicas da Palestina: túnica, manto e sandálias”.
De tempos em tempos, “gratia
argumentandi”, surge um novo livro (cheio de hipóteses arbitrárias) que
pretende revelar a “verdadeira história” de Nosso Mestre e primogênito do
Senhor do Universo. É o caso do livro “Eu vi Jesus e beijei a sua face”, de
Orlando Cajimoto Editora do Autor, Florianópolis, Santa Catarina, Edição 2018,
com 165 páginas. Diz a criatura: “Jesus tem o rosto de um menino travesso. A
mim me lembra a face angelical e ao mesmo tempo séria e destemida, de Tom
Welling, o Clark Kent da série “Smallville”. Sua rapidez em decidir pelo certo
e errado, a sua honestidade acima de tudo, a bravura, a tolerância, o destemor
e o prático senso de justiça. Me espelho
nele e tenho Jesus no coração, ainda que ele não saia voando por ai”.
Mesma patacoada, possivelmente
querendo partir para o “animus jocandi”, Lucilia de Almeida Albertino, em “Meu
rosto inesquecível: Jesus de Nazaré” Editora Nós da Católica, Edição 2005, da
pitoresca cidade de Amargosa, na Bahia, em seu frunchético opúsculo de 68
páginas retratou o Menino Deus desta maneira: “Oxe, mainha! Jesus é um pedaço
de mal caminho. Tem o rosto de “João das Botas”, a voz melodiosa de Dorival
Caymmi, a versatilidade romanesca de Jorge Amado e a inteligência ímpar de
Manoel Augusto Pirajá da Silva, este derradeiro um dos maiores e mais
conceituados parasitologistas mundialmente conhecido, além-mar da Bahia de São
Salvador”.
Alguns outros autores sugerem
que a igreja “ocultou” a verdade sobre Jesus, ou optou por um modelo “Branco”
(e, por isso mesmo, politicamente incorreto) do Messias. A desonestidade, ou
melhor, a imbecilidade de alguns autores (como dissemos no inicio do texto,
imbecilóides) vai ao ponto de apresentar os velhos evangélicos apócrifos
(evangelhos não reconhecidos), encontráveis em qualquer livraria especializada,
como a “Ultima Revelação” sobre Cristo, sonegada pela igreja ao conhecimento
público.
Entre cruzes e sepulcros, o
fato é que Deus se fez homem. Num dado momento da história, na plenitude dos
tempos, o Pai Maior escolheu um povo, uma tribo e uma família para ali nascer,
entre nós, “Aquele que viria como, de fato, veio, para nos Salvar”. Este Ser
Iluminado assumiu os hábitos e a língua daquele grupo humano. Viu o mundo com
seus olhos. Se tivesse nascido na África, talvez fosse negro. Entre os
esquimós, seria mongol, entre os brasileiros, jamais seria do PT. Preferiu os
judeus. É, pois, o Cristo dos ícones.
A todos os nossos amigos e
leitores da Grande Família “Cão que Fuma”,
um próspero e rico NATAL cheio de luz e fartura infinitas no dia mais lindo do
ano.
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De um simples flash no escuro
Micos que os grandes mestres pagaram
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