sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os mitos socialistas do momento (fim)

Adolfo Mesquita Nunes
Não, os socialistas não são os guardiões de um meio-termo sensato. São, quando muito, a pilha gasta de um relógio que está sempre atrasado
Mário Soares, foto: jornal "i"
Mito nº 9: O socialismo é reformista e apresenta soluções de futuro
Não pode ser negado o evidente e determinante papel do socialismo português na consolidação da democracia e no aprofundamento da integração europeia. Mas tal não significa que, do ponto de vista das políticas económicas e sociais, que contribuem para o crescimento ou para a recessão, o socialismo não tenha chegado sempre atrasado às reformas essenciais.
Não é a primeira vez que exprimo esta opinião e parece-me importante recuperá-la, agora que, de novo, os socialistas procuram afirmar-se como a mediana da sensatez ou como o meio--termo entre a necessidade de austeridade e a vontade de crescimento (a tal “austeridade inteligente”).
Nos anos 70, os socialistas portugueses permitiram a nacionalização da economia e defenderam-na com determinação mesmo quando era já evidente o fracasso das experiências soviéticas e de socialização da economia. Na altura, para os socialistas, o modelo que defendiam constituía o meio-termo entre o comunismo fracassado e o capitalismo desenfreado. Foi o que foi, como se sabe. Hoje nenhum socialista parece contestar que o modelo ardentemente defendido nos anos 70 fracassou.
Nos anos 80, quando toda a Europa democrática apostava na liberalização e na abertura da economia, conhecendo um progresso assinalável, os socialistas defendiam a irreversibilidade das nacionalizações, resistiam às alterações na organização económica nascida com a Constituição de 1976, contestavam as privatizações e batiam-se contra os primeiros sinais de modernização da legislação laboral. Na altura, para os socialistas, estas resistências visavam precisamente garantir um meio-termo sensato entre a liberalização selvagem da economia e o socialismo paralisante. Foi o que foi, como se sabe. Hoje nenhum socialista parece contestar que o modelo ardentemente defendido nos anos 80 fracassou.
Foram décadas que se perderam. Tivessem os socialistas uma visão reformista e com soluções de futuro e poderíamos ter começado, logo nos anos 70, a trabalhar num modelo que actualmente nenhum socialista recusa. Infelizmente, à conta das resistências do PS, e a braços com uma Constituição por este tão acarinhado, o país deixou--se atrasar.
Já nos anos 90 e no princípio deste século, quando a Europa alertava para o papel económico do equilíbrio das contas públicas, os socialistas portugueses o crescimento da despesa e da dívida, alargaram o Estado para além dos limites, recusaram-se a fazer uma reforma útil na Segurança Social e promoveram a insustentabilidade do Estado social, prejudicando os mais fracos. Na altura, como agora, para os socialistas, estas políticas visavam precisamente garantir um meio-termo sensato entre o modelo social europeu e a abertura da economia. Está a ser o que está a ser, como se sabe. Hoje nenhum socialista parece reconhecer que o modelo por si defendido fracassou.
Mas é uma questão de tempo, como a história demonstra, até os socialistas darem de novo o passo em frente. O problema, como sempre, é o tempo que estamos a perder com estas resistências. Não, os socialistas não são os guardiões de um meio-termo sensato. São, quando muito, a pilha gasta de um relógio que está sempre atrasado.

Mito nº 10: O socialismo é a solução para Portugal
Desde 1974 que Portugal adoptou, com maior ou menor intensidade, um modelo socialista de desenvolvimento. Os resultados estão à vista, conforme tentei explicar ao longo desta série de artigos, e não são explicados pela crise que vivemos: Portugal não cresce decentemente, não cria emprego e não oferece competitividade há muito tempo.
Se o socialismo fosse bom, Portugal estaria na situação em que está?
Título e Texto: Adolfo Mesquita Nunes, Jurista e deputado do CD, jornal “i”, 13-7-2012

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