Adolfo Mesquita Nunes
Não, os socialistas não são
os guardiões de um meio-termo sensato. São, quando muito, a pilha gasta de um
relógio que está sempre atrasado
Mário Soares, foto: jornal "i" |
Mito nº 9: O
socialismo é reformista e apresenta soluções de futuro
Não pode ser negado o evidente
e determinante papel do socialismo português na consolidação da democracia e no
aprofundamento da integração europeia. Mas tal não significa que, do ponto de
vista das políticas económicas e sociais, que contribuem para o crescimento ou
para a recessão, o socialismo não tenha chegado sempre atrasado às reformas
essenciais.
Não é a primeira vez que
exprimo esta opinião e parece-me importante recuperá-la, agora que, de novo, os
socialistas procuram afirmar-se como a mediana da sensatez ou como o
meio--termo entre a necessidade de austeridade e a vontade de crescimento (a
tal “austeridade inteligente”).
Nos anos 70, os socialistas
portugueses permitiram a nacionalização da economia e defenderam-na com
determinação mesmo quando era já evidente o fracasso das experiências
soviéticas e de socialização da economia. Na altura, para os socialistas, o
modelo que defendiam constituía o meio-termo entre o comunismo fracassado e o
capitalismo desenfreado. Foi o que foi, como se sabe. Hoje nenhum socialista
parece contestar que o modelo ardentemente defendido nos anos 70 fracassou.
Nos anos 80, quando toda a
Europa democrática apostava na liberalização e na abertura da economia,
conhecendo um progresso assinalável, os socialistas defendiam a
irreversibilidade das nacionalizações, resistiam às alterações na organização
económica nascida com a Constituição de 1976, contestavam as privatizações e
batiam-se contra os primeiros sinais de modernização da legislação laboral. Na
altura, para os socialistas, estas resistências visavam precisamente garantir
um meio-termo sensato entre a liberalização selvagem da economia e o socialismo
paralisante. Foi o que foi, como se sabe. Hoje nenhum socialista parece
contestar que o modelo ardentemente defendido nos anos 80 fracassou.
Foram décadas que se perderam.
Tivessem os socialistas uma visão reformista e com soluções de futuro e
poderíamos ter começado, logo nos anos 70, a trabalhar num modelo que
actualmente nenhum socialista recusa. Infelizmente, à conta das resistências do
PS, e a braços com uma Constituição por este tão acarinhado, o país deixou--se
atrasar.
Já nos anos 90 e no princípio
deste século, quando a Europa alertava para o papel económico do equilíbrio das
contas públicas, os socialistas portugueses o crescimento da despesa e da
dívida, alargaram o Estado para além dos limites, recusaram-se a fazer uma
reforma útil na Segurança Social e promoveram a insustentabilidade do Estado
social, prejudicando os mais fracos. Na altura, como agora, para os
socialistas, estas políticas visavam precisamente garantir um meio-termo
sensato entre o modelo social europeu e a abertura da economia. Está a ser o
que está a ser, como se sabe. Hoje nenhum socialista parece reconhecer que o
modelo por si defendido fracassou.
Mas é uma questão de tempo,
como a história demonstra, até os socialistas darem de novo o passo em frente.
O problema, como sempre, é o tempo que estamos a perder com estas resistências.
Não, os socialistas não são os guardiões de um meio-termo sensato. São, quando
muito, a pilha gasta de um relógio que está sempre atrasado.
Mito nº 10: O
socialismo é a solução para Portugal
Desde 1974 que Portugal
adoptou, com maior ou menor intensidade, um modelo socialista de
desenvolvimento. Os resultados estão à vista, conforme tentei explicar ao longo
desta série de artigos, e não são explicados pela crise que vivemos: Portugal
não cresce decentemente, não cria emprego e não oferece competitividade há
muito tempo.
Se o socialismo fosse bom,
Portugal estaria na situação em que está?
Título e Texto: Adolfo Mesquita Nunes, Jurista e deputado do CD, jornal “i”,
13-7-2012
Anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-