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Imagem: AD |
Ronald Barata
Não há mais dúvida de que a
crise econômico-financeira de 2008, não foi superada. Ela abrandou com os
vastos recursos que os governos dos países que são o epicentro da crise (EUA e
Europa) socorreram instituições em risco. Reduziram as taxas de juros a quase
zero, transferiram fábulas de dinheiro para bancos falidos e concederam
isenções fiscais. Arrefeceu, mas agora entrou em fase de aceleração, enquanto a
economia mundial desacelera, principalmente nos países ricos. Mas o Brasil não
está imune. A causa principal é a transferência das riquezas para o setor
financeiro e outros megas capitalistas, em detrimento dos setores produtivos.
O mundo, além da crise
econômico-financeira, sofre a crise da natureza, provocada pelos crimes
ambientais que, principalmente, as grandes potências historicamente cometem.
É importante saber como está a
situação da maior economia do mundo, os EUA, e dos demais países ricos.
A maior potência econômica e
militar, enfrenta graves problemas econômicos e políticos. É evidente que o império
ianque entrou em fase declinante, embora vá continuar sendo a nação mais
poderosa, não se sabe por quanto tempo. Suas bases de poder estão sendo
minadas, corroídas. Nos últimos quatro anos, o PIB dos EUA não cresceu, apenas
voltou ao nível do primeiro trimestre/2007. Entretanto, a população cresceu,
significando que o PIB per capita
diminuiu. As empresas não financeiras norte-americanas têm cerca de dois
trilhões de dólares aplicados em títulos do Tesouro americano, em vez de
investirem por não confiarem na superação da crise em curto ou médio prazo. O
endividamento, que avolumou no governo Bush devido à redução de impostos para
os ricos e às despesas com guerras, hoje atinge a R$ 13 trilhões de dólares e
continua aumentando. As receitas caíram e o desemprego aumentou. Em consequência
acentuam-se as desigualdades na distribuição de renda, a queda do consumo e dos
investimentos. Tiram dinheiro dos projetos sociais para pagar “obrigações” com
os ricos. Obviamente, aumenta o descontentamento das populações prejudicadas.
A crise já atingiu, em cheio,
toda a Europa, principalmente os dezessete países da Zona do Euro. E não apenas
os mais pobres: Portugal, Irlanda e Grécia. Até a poderosa Alemanha enfrenta
graves problemas sociais. Todos os países desenvolvidos também aumentaram
brutalmente seus endividamentos para socorrerem os bancos e as grandes empresas
em 2008. Chegaram ao esgotamento e agora não poderão prestar o mesmo grau de
ajuda. Além do que, uma nova transferência de recursos para os bancos, acirrará
a indignação popular.
A globalização tem permitido a
desenfreada transferência das riquezas dos países emergentes ou pobres para as
grandes potências que manipulam os preços das mercadorias primárias, as
chamadas commodities, exploração
amenizada pelas pesadas compras da China, que incentivou o consumo interno.
O economista naturalizado
estadunidense, Nouriel Roubini, apelidado de “Senhor Catástrofe” por ter
previsto com muitos anos de antecedência a crise de 2008, é hoje considerado um
sábio; acertou até nos detalhes. Ele não é socialista, é adepto do capitalismo.
Em artigo denominado “O capitalismo está condenado?”, ele afirma: “Marx estava
certo quando disse que a globalização, a desenfreada intermediação financeira e
a transferência da riqueza do trabalho para o capital podem levar o capitalismo
à destruição”. A isso, deve-se agregar o esgotamento da Terra. O economista
prevê recessão duradoura, com uma grande crise bancária sistêmica que levará os
EUA a uma perda de créditos de mais de Us$ 2 trilhões. Um beco sem saída.
Entretanto, ao final, indica providências que devem ser adotadas para
superação, embora admitindo que serão muito difíceis de implementar.
O Prêmio Nobel de Economia em
2001, Joseph Stiglitz, estadunidense, afirma que a situação é tão grave que
“uma estagnação prolongada é cenário otimista”. Diz que não sabe qual a pior,
se a situação dos Estados Unidos ou da Europa, todos com taxa de crescimento de
1%. Afirma que o projeto de recuperação é confuso e quaisquer que sejam as
medidas adotadas, as coisas vão piorar.
Edgard Dosman, economista
canadense, diz que os países desenvolvidos terão que conviver com alto índice
de desemprego durante muito tempo, pois será a maior estagnação desde a
Depressão de 1929.
David Harvey, geógrafo e
marxista, considerado um sábio, em seu trabalho “The Crises of Capitalism”, de 2010, acha que o capitalismo entrará
em fase terminal.
Portanto, a crise já é uma
realidade. Entre os economistas, há uma quase unanimidade: os países emergentes
sofrerão menos. Porém, explicam que isso se dará devido aos preços das commodities. Embora o maior comprador do
Brasil seja a China, os demais compradores também são importantes. E, estando
em recessão, é óbvio que reduzirão as compras, mesmo porque, com tantos
desempregados, o consumo interno se reduzirá.
As mobilizações em vários
países evoluíram e já são verdadeiras insurreições. As causas das insatisfações
são as mesmas entre os países árabes, a Espanha, o Reino Unido, Israel e
outros: o desemprego e o trabalho precarizado, principalmente entre os jovens,
e o aumento da desigualdade. Sem esquecer o Chile.
Para o capitalismo sobreviver,
terá que superar gravíssimos problemas como estagnação, depressão, crises
financeiras, insolvência de bancos e até de governos, guerras comerciais e
disputas cambiais, tudo que leva à instabilidade social e política.
Mas é óbvio que os países
capitalistas vão reagir. As medidas de caráter fiscal que vêm sendo adotadas
para a redução de déficit, a contenção de gastos pelos governos, levarão ao
aumento do desemprego. Então...
Vão procurar uma saída, que
tradicionalmente os EUA encontram promovendo guerras. Guerras para garantir
acesso aos recursos naturais dos países periféricos. Há casos de guerras não
declaradas: Vietnã e Rodésia, mas sempre inventam motivos, como as armas
químicas do Iraque, que não foram encontradas. Todavia, não basta ganhar a
guerra, o que para a grande potência e seus aliados é relativamente fácil..
Após o Afeganistão, agora a Libia, que ousou sair do sistema financeiro
internacional. Mas é preciso, principalmente, ocupar, o que não tem sido fácil.
Como não será na Líbia. Depois virá a Síria. Mas sabemos que o objetivo
principal é o Iran. E, para isso, provavelmente, uma guerra generalizada na
África e em parte da Ásia. Pretendem controlar todo o petróleo da região e
acabar com as aspirações da criação de uma moeda africana, que se sobreporia,
na região, ao dólar.
Desde o governo Nixon (1971),
os EUA deixaram de adotar o padrão ouro. Sua moeda não mais tem lastro. E,
sendo o único país que pode emitir dólares, que não passam de simples papel
pintado, com o qual paga suas compras, os outros países pagam a conta.
Mas há casos em que dispensam
a guerra, que é melhor para eles. Exercem a cooptação. O Conselho de Relações
Exteriores (Council on Foreign Relations),
com sede em Nova Iorque, dominado por banqueiros, tem agentes (“observadores”)
infiltrados em quase todos os governos do mundo. Quase todos os presidentes dos
EUA, republicanos ou democratas, eram quadros desse CFR.
NOSSO QUINTAL
O CFR elaborou relatório para
o governo norte-americano, com diretrizes para o Brasil, optando por cooptação.
Manda apoiar a aspiração de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU,
pois o Brasil já se mostrou dócil, atendendo aos EUA, ao enviar tropas para o
Haiti; assinou um Acordo Militar em 12/4/2010, não desenvolve suas forças
armadas etc. Cita que somos estratégicos pela abundância em recursos naturais,
especialmente minérios (energia) e alimentos. E nos quer como aliados em caso
de guerra. Fala em barganhar vantagens em troca de recursos naturais. Já estão
carregando o nosso nióbio e estão de olho no pré-sal. Têm interesse que nossas
forças armadas sejam sucateadas, prometendo nos dar proteção em troca das
mercadorias que precisam.
O Brasil está se tornando cada
vez mais dependente dos capitais financeiros e das transnacionais. Para
especulação, desfrutam de juros boníssimos, enquanto outras empresas preferem
associar-se, em condições de comando, com supermercados, empreiteiras, órgãos
da mídia, bancos e grandes propriedades de terra. No chamado agronegócio,
pontificam as empresas transnacionais Bayer, Cargill, Monsanto, Bunge,
Coca-Cola, Syngenta, Nestle, ADM, Dreyfuss etc. E não produzem de alimentos
saudáveis
O agronegócio prioriza a
produção em escala e acumula grandes extensões de terra, promovendo a
monocultura por fazenda, isto é, um só produto por fazenda e ocupam cerca de
70% das terras cultivadas com soja, milho, gado e cana. Quase tudo para
exportação. Cerca de 80% das exportações brasileiras, são de matérias-primas
agrícolas e de minerais, que superaram os produtos industrializados. Grandemente
automatizado, dispensa mão-de-obra, que migra para as cidades. Utiliza pesadas
doses de agrotóxicos, que vão para nossos organismos.
Os movimentos de trabalhadores
do campo, reunidos na Via Campesina, promovem campanhas para mudar o modelo
agrícola, tentando sensibilizar governantes e a sociedade para exigir a
produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, e diversidade de culturas.
Desde que Collor começou a nos
inserir na globalização, à qual nos engajamos, nossos princípios de
nacionalidade vêm se enfraquecendo. Até as esquerdas, ao chegarem ao poder,
encantaram-se com as políticas neoliberais.
O governo Lula utilizou o
discurso da governabilidade para formar uma base de apoio que não leva em conta
princípios. Nem políticos, nem éticos. Criou uma coalizão baseada no
clientelismo, no fisiologismo e na cooptação dos movimentos sociais. Nem os
políticos nem os partidos da base, discutem políticas públicas. Funciona tudo
na base de arrancar vantagens. Os partidos de esquerda, PT, PDT, PSB e PCdoB,
ao juntarem-se aos tradicionais oligarcas, deixaram os militantes
desorientados. Se o governo é caótico, não se pode esperar nada da oposição,
defensora de interesses dos grupos internacionais.
Os partidos, tão
desmoralizados quanto o movimento sindical e estudantil, atuam em função de
alcançar posições que rendam vantagens para seu grupo.
Mas ainda há alguns nichos de
esquerda que não se entregaram e resistem heroicamente. Entretanto, estão
dispersos e desorganizados. E enfrentam a avassaladora atuação criminosa dos
órgãos da mídia tradicional.
Urge que se entendam. Que
coloquem acima de divergências pontuais os interesses da nação, dos
trabalhadores, das populações das periferias. E que resgatem nossa soberania.
Título e Texto: Ronald Santos Barata, setembro
de 2011
Edição: JP
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