Em 2009, Helio Fernandes já
denunciava o pacto entre o governador Cabral e os traficantes na farsa das
UPPs, que só agora vem à tona.
Carlos Newton
Depois da terceira noite de
confrontos entre militares do Exército e traficantes no Complexo do Alemão, o
bairro teve a segurança reforçada. Com mais de cem homens, a Polícia Militar
decidiu ocupar, por tempo indeterminado, dois morros vizinhos – da Baiana e do
Adeus. E na quarta-feira, soldados do Exército fazem uma grande operação nos
acessos ao complexo em dois blindados do tipo Urutu.
A manutenção do tráfico de
drogas no Alemão e nas demais favelas ditas “pacificadas” mostra que Helio
Fernandes tinha toda razão, ao denunciar repetidas vezes que não houve
pacificação alguma, apenas um pacto entre o governador e os traficantes. O
tráfico continua, nunca parou, e agora está enriquecendo os PMs que tomam conta
das favelas “pacificadas” e levam comissão dos traficantes, como ficou provado
agora no caso dos três PMs presos no Morro da Coroa, com R$ 13 mil nos bolsos.
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Foto: Wilton Junior/Agência Estado
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Por isso vale a pena ler de
novo o artigo publicado aqui no Blog pelo jornalista Helio Fernandes em 8 de
julho de 2010. Parece que foi escrito hoje.
***
A “pacificação” das
favelas não passa de um acordo entre o governador e os traficantes, que podem “trabalhar” livremente,
desde que não intimidem os moradores.
Helio Fernandes
Em dezembro de 2009, publiquei
aqui no Blog um importante artigo de denúncia, mostrando que a política de
“pacificação” das favelas não passa de uma manobra eleitoreira do governador
cabralzinho, que inclui um incrível e espantoso acordo entre as autoridades
estaduais e os traficantes que atuavam (e continuam atuando) nessas comunidades
carentes.
O acordo está “firmado” sob as
seguintes cláusulas:
1 – Os traficantes somem com as armas da
favela, com os “soldados” de máscaras ninjas, com os olheiros e tudo o mais.
2
– A PM entra na favela, sem enfrentar resistência, ocupa os pontos que
bem entender, mas não invade nenhuma casa, nenhum barraco, e não prende
ninguém, pois não “acha” traficantes ou criminosos.
3 –A favela é
tida como “pacificada”, não existem mais marginais circulando armados, os
moradores não sofrem mais intimidações, não há mais balas perdidas.
Até o Blog publicar esses
artigos, ninguém havia tocado no assunto. A implantação das chamadas UPPs
(Unidades de Polícia Pacificadora) vinha sendo saudada pela imprensa escrita,
falada e televisada como uma espécie de panacéia na segurança pública. Era como
se, de súbito, as autoridades estaduais e municipais tivessem conseguido
“colocar o ovo em pé”, resolvendo de uma hora para outra o maior problema da
atualidade: a violência e o tráfico de drogas nos guetos das grandes cidades.
Não há dúvida, esse é UM
DOS MAIORES DESAFIOS DA HUMANIDADE. Como todos sabem, em
praticamente todos os países do mundo, governantes e autoridades da segurança
pública continuam sem saber como enfrentar e vencer o problema da criminalidade
e do tráfico. Menos no Rio de Janeiro. Aqui, houve uma espécie de
“abracadabra”, um toque de varinha de condão, e num passe de mágica, as favelas
foram “pacificadas”, que maravilha viver.
O mais interessante: não foi
disparado UM ÚNICO E ESCASSO TIRO, os traficantes e “donos” das
favelas não lançaram uma só granada, um solitário morteiro, não acionaram seus
lanças-chamas, seus mísseis portáteis, seus rifles AR-15 e M-16, suas
submetralhadoras Uzi, nada, nada.
No artigo-denúncia que
publiquei no final de dezembro de 2009 e nos outros que se seguiram em
janeiro, chamei atenção para esse fato espantoso: ninguém reparou que a tal
“pacificação” foi fácil demais, não houve uma só troca de tiros?
O pior foi a atitude do
governador cabralzinho, que deve pensar (?) que os demais cidadãos são todos
imbecis e aceitam qualquer “explicação” que lhes seja fornecida pelas autoridades.
Recordemos que foi ele quem teve a ousadia e a desfaçatez de vir a público e
proclamar, textualmente: “DEI PRAZO DE 48 HORAS PARA OS TRAFICANTES DEIXAREM
O CANTAGALO-PAVÃO-PAVÃOZINHO”.
Como é que é? O governador
esteve como os traficantes, “cara-a-cara”, e fez o ultimato? Ou mandou recado
por algum amigo comum? Como foi o procedimento? Ninguém sabe.
O que se sabe é que o
governador alardeava (e continua alardeando) que, em todas as favelas onde a
Polícia Militar instalou as UPPs, os traficantes e criminosos simplesmente
sumiram, assustados, amedrontados, apavorados.
Seria tão bom se fosse
verdade. Mas o que é a verdade para esse governador enriquecido ilicitamente,
cuja mansão à beira-mar em Mangaratiba virou ponto de atração turística? Para
ele, a verdade é a versão que ele transmite, por mais fantasiosa que seja, como
se fosse um ridículo Pinóquio de carne e osso (aliás, muito mais carne do que
osso, já caminhando para a obesidade precoce), a inventar contos da Carochinha
para iludir os eleitores.
Quando escrevi a série de
artigos desmascarando a “pacificação das favelas”, houve tremenda repercussão
(como ocorre com tudo que sai publicado nesse Blog ou na Tribuna da Imprensa).
Mas a maioria das pessoas se recusava a acreditar. Não podiam aceitar que um
governante descesse a nível tão baixo, criasse tão estarrecedora mistificação,
tentasse manipular tão audaciosamente os eleitores.
Mas meus artigos plantaram a
semente da dúvida. Nas redações, os jornalistas começaram a questionar a
veracidade do sucesso dessa política de segurança pública. Até que, há dois ou
três meses, O Globo publicou uma página inteira em sua seção “Logo” (que é uma
espécie de “pensata”), ironizando a facilidade com que as favelas teriam sido
“pacificadas”. (Não me deram crédito nem royalties, é claro, mas fico esperando
o pré-sal).
Agora, no dia 2 de julho, mais
uma vez O Globo, em reportagem de Vera Araújo, comprova que meus artigos de
denúncia estavam corretos. Sob o título “FEIRÃO DE DROGAS DESAFIA UPP”),
com fotos impressionantes feitas em maio na Cidade de Deus, a matéria mostra
que o tráfico de drogas está e sempre esteve liberado, exatamente como afirmei.
Ao que parece, a repórter nem
chegou a ir à Cidade de Deus. As fotos na “favela pacificada” foram feitas por
um morador do local, que as enviou ao jornal. Foi facílimo fazer a matéria, as
imagens dizem tudo.
No dia, seguinte, mais um
repique em O Globo, mostrando que, assim com o tráfico de drogas, também a
exploração de caça-níqueis está liberada na comunidade “tomada” pela PM. As
fotos, novamente, são de um morador da favela, que o jornal, obviamente, não
identifica.
***
PS – Isso não está acontecendo
somente na Cidade de Deus. Em todas as favelas pacificadas, ocorre o mesmo.
PS2 – Aproxima-se a eleição e,
na campanha, o governador vai massacrar a opinião pública com a divulgação do
êxito da “pacificação das favelas”. Este é ponto mais forte de sua “plataforma”
eleitoral, ao lado das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
PS3 – Aliás, UPPs e UPAs, tudo
a ver. As UPAs também são um golpe de marqueting político-eleitoral, conforme
iremos demonstrar neste Blog.
PS4 – O desgoverno de
cabralzinho é um tema longo, do tipo “E o vento levou”. E seria bom, perdão,
seria ótimo, se o vento o levasse permanentemente para longe de nós.
Texto: Carlos Newton e Helio
Fernandes, Tribuna da Imprensa, 08-09-2011
Título e Edição: JP
Realização: w1TenMinutes
O Professor e Coronel Paulo Ricardo Paúl também há muito vem denunciando a farsa dessa tríade no Governo do Estado do Rio de Janeiro. Veja aqui!
Coluna de Ricardo Melo - Folha de SP, 08-09-2011: Como governante, Sérgio Cabral é um prodígio de ator. Só lhe falta crachá do Projac. Faz cara de paisagem ao misturar negócios públicos com jatos privados. Chama bombeiros de vândalos e depois pede desculpas ao perceber a gafe. Toma chá de sumiço quando um bonde estatal descarrila e mata seis, mas vai às lágrimas ao defender royalties para o Rio. Já viveu até seu momento Salim Curiati, quando defendeu esterilizar os pobres para combater a criminalidade. Tente agora lembrar uma iniciativa social de peso de sua autoria. A memória vai ficar girando em falso.
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