Carlos Mol
Caros Amigos, colegas de
profissão, companheiras e companheiros de jornada:
Não sei bem o que me faz
dividir estes acontecimentos com vocês, porém, tenho a certeza de que, até o
final destas linhas, encontrarei os motivos.
Como acredito que para alguns,
ou mesmo para todos, estes relatos possam ser desagradáveis, peço-lhes que,
caso assim o sintam, não se violentem prosseguindo a leitura, pois, como ser
humano que sou, sei que poucas vezes queremos nos “doar“, escutando a dor
alheia. De toda a maneira ficam os meus sinceros votos de dias iluminados para
vocês.
Desde meados de 2011 vinha
sentindo dores na região lombar/anal, costumava por vezes comentar isto com os meus
amigos Ricardo e Marco, na empresa onde trabalhávamos.
Logo nos primeiros dias de
2012, mais precisamente em 4 de janeiro, perdi o meu único irmão, Alexandre,
atropelado por um ônibus, em São Cristóvão, Rio de Janeiro. Chegava em casa, em
Teresópolis, quando minha mãe deu-me a notícia, e ao chegar ao Rio já fomos
para o IML, onde estava o seu corpo. Durante o velório as dores que sentia
passaram a intensificar-se, de maneira que em dois dias estava internado numa
clínica em Laranjeiras, mesmo tendo direito a hospitais de melhor linhagem, mas
a Unimed negou a minha internação,
desrespeitando regras, causando-me dor e constrangimento. Tenho no momento, na
Justiça, duas ações indenizatórias contra esta terrível instituição.
Cinco dias depois, durante os quais fui medicado com antibióticos e morfina três vezes ao dia, configurou-se o diagnóstico de extenso abcesso perianal, tendo sido operado pelo meu Compadre José Perrota, ex-Varig, ex-gerente da FRB (Fundação Ruben Berta), na noite do dia 11 de janeiro de 2012. Lamentavelmente, no dia seguinte, tive uma crise de taquicardia supraventricular e houve a necessidade de ser alocado na UTI por trinta e seis (looonngas) horas. Recebi alta hospitalar dias depois, porém, as dores não cessaram totalmente, fazendo com que nova busca se iniciasse, com a conclusão de que havia uma hérnia de disco. (Ah, aquelas malas cheias de produtos gostosos que eu trazia de fora, agravado, com certeza, pela enorme escada do Boeing 747 que voei durante os três anos na China…), tudo isto me veio à mente. Aquelas guloseimas costumavam complementar os vários jantares/churrascos que fazíamos para os amigos brasileiros e também para a Legião Estrangeira, no apartamento em que vivíamos em Shenzhen.
Fiquei quase dois meses de licença, sem remuneração nem complementação por parte do INSS, pelo fato de ser aposentado. Não causaria estranheza se não fosse pelo fato de ser obrigado a descontar para o tal instituto no contracheque recebido mensalmente, e quando deveria ter um complemento salarial o INSS alegou que eu não poderia ter dois “benefícios“. Lamentavelmente isto retrata bem o Brasil.
Cinco dias depois, durante os quais fui medicado com antibióticos e morfina três vezes ao dia, configurou-se o diagnóstico de extenso abcesso perianal, tendo sido operado pelo meu Compadre José Perrota, ex-Varig, ex-gerente da FRB (Fundação Ruben Berta), na noite do dia 11 de janeiro de 2012. Lamentavelmente, no dia seguinte, tive uma crise de taquicardia supraventricular e houve a necessidade de ser alocado na UTI por trinta e seis (looonngas) horas. Recebi alta hospitalar dias depois, porém, as dores não cessaram totalmente, fazendo com que nova busca se iniciasse, com a conclusão de que havia uma hérnia de disco. (Ah, aquelas malas cheias de produtos gostosos que eu trazia de fora, agravado, com certeza, pela enorme escada do Boeing 747 que voei durante os três anos na China…), tudo isto me veio à mente. Aquelas guloseimas costumavam complementar os vários jantares/churrascos que fazíamos para os amigos brasileiros e também para a Legião Estrangeira, no apartamento em que vivíamos em Shenzhen.
Fiquei quase dois meses de licença, sem remuneração nem complementação por parte do INSS, pelo fato de ser aposentado. Não causaria estranheza se não fosse pelo fato de ser obrigado a descontar para o tal instituto no contracheque recebido mensalmente, e quando deveria ter um complemento salarial o INSS alegou que eu não poderia ter dois “benefícios“. Lamentavelmente isto retrata bem o Brasil.
Segui as instruções do
proprietário da empresa (Táxi Aéreo) em que trabalhava e depois de consultar o
médico do trabalho, apresentei o atestado de capacidade laboral exigido. Em
menos de dez dias eu estava demitido. Não querendo fazer juízo de valor,
confesso que não entendi o ocorrido, mas é óbvio que tenho consciência da minha
parcela de culpa no processo – mesmo sem ter a menor noção do que levou-o a
tomar esta atitude.
Tratei de procurar recuperar-me
da cirurgia anal, que ainda causava grande incômodo, quando meu cardiologista e
compadre, Luis Cláudio Dias da Rocha, ex-Varig, deixou-me entender que deveria
operar o coração. Nasci com uma válvula aórtica bicúspide, quando o normal, na
maioria dos seres humanos, ela é tricúspide, que significa três folhetos ou
membranas que auxiliam na absorção/expulsão do sangue durante o ciclo
sístole/diástole. Isto foi por mim descoberto em meados da década de 80, havia
a ciência do Cemal que me monitorava e sempre tive o cartão em dia, como,
curiosamente, ainda está. É claro que daqui a alguns meses retornarei aos médicos
da Aeronáutica com o relato da cirurgia e os respectivos exames para ouvir
deles o laudo quanto ao futuro. O diagnóstico era de viver com esta diferença
e, provavelmente, vir a desencarnar por outro motivo, mas quis o destino que a
ordem fosse invertida. Fiquei novamente sem chão!!!
Começamos os preparativos, com
diversos exames e visitas a médicos, incluindo o cirurgião que fez a solicitacão
com urgência à Unimed da cirurgia de troca valvar com procedimento de Bental. Vinte
e dois dias após termos dado entrada no trâmite junto ao plano de saúde, eles
ainda estavam “avaliando“ a situação. R$ 5.300 foi o custo da confecção de nova
ação judicial contra os mesmos, agregado à Antecipação de Tutela dada em vinte
e quatro horas por uma juíza, incluindo todo o material cirúrgico (e até mesmo
uma cola biológica, bioglue, que, apesar de necessária, a Unimed sempre negava,
trazendo um custo adicional de, mais ou menos, cinco mil reais.
No dia 21 de junho fui operado
pelo Dr. Edson Magalhães Nunes, excelente profissional e pessoa no Hospital São
Lucas, no Rio. Por volta do meio-dia fui para o quarto e após o procedimento de
tricotomia (raspagem de grande parte dos pelos do corpo) recebi um Dormonid sublingual, “acordando” ainda
em coma induzido lá pelas 20h, tendo ainda assim sido capaz de reconhecer a minha
mulher e a minha mãe, ao meu lado na Unidade Coronariana. Somente na manhã
seguinte tive a real sensação de ter sido atropelado e serrado, como diz meu
Compadre (“atropelamento assistido“). Curiosamente, em função da bateria de
analgésicos que tomava, minha maior queixa não era a dor do peito aberto e sim
a absoluta incapacidade de sentir o ar “entrando“ em meus pulmões, levando-me às
vezes a crises de ansiedade pela mínima quantidade (era assim que eu sentia)
daquilo que mais necessitamos para viver e não nos damos conta.
Após três noites na Unidade
Cardio-Intensiva, fui transferido para o quarto. Começaram aí as
“intercorrências” que mudariam o cenário. Logo no dia seguinte tive, uma vez
mais, uma Taquicardia Supra Ventricular, que fez minha mulher pular o balcão
aonde ficavam as enfermeiras, uma vez que o médico de plantão naquele andar
simplesmente não chegava. Um dos cardiologistas da equipe do cirurgião foi
acionado (era bem cedo, por volta das 6h da manhã) e conseguiu a façanha de
chegar ao local apenas dois minutos após a plantonista.
Foram cinquenta minutos
de agonia, com cento e oitenta e oito batimentos por minuto, que fizeram-me sentir
o que coloquialmente chamamos de “experiência extracorpórea”. Saí do meu corpo
e ascendi, vendo aquele grupo de pessoas debatendo sobre o que fazer, esperando
o rapaz da maca no intuito de transportar-me de volta à UCI. Depois deste
tempo, que pareceu-me a eternidade, foi feita a cardio reversão e pude ter meu
coração de volta aos 60/70 bpm. Definiu-se então que eu precisaria fazer um
procedimento de Ablação (cauterização) dos “pontos“ que geravam aquele
curto-circuito, disparando a arritmia. Marcou-se inicialmente para dali a sete dias,
durante este período meu coração comportou-se bem (medicado) e, por insistência
minha, retornei ao quarto para cumprir aquele período de espera em condições
mais confortáveis pois, onde estava, quase nada podia ser feito, por uma
questão óbvia de regras, uma vez que eu estava puncionado e monitorado vinte e
quatro horas por dia.

Passei dois dias agradáveis no
quarto, quando então tive uma “bacteremia“. Ao sair do chuveiro comecei a
tremer e não havia jeito de parar de sentir frio e calafrios profundos. Cinco
ou seis pessoas do hospital tentaram me segurar, no intuito de aquecer-me com
vários cobertores, sem sucesso. Uma vez mais retornei à UCI e, além do
diagnóstico de infecção urinária e edema das partes genitais, comprovou-se
através de ecocardiograma a incidência de derrame no pericárdio e na pleura. Na
manhã seguinte eu estava de volta ao centro cirúrgico para nova sedação total e
incisão no externo para a colocação de um dreno. Em três dias saíu o
equivalente a 400/500ml de líquido, que era a principal causa daquela sensação
de não respirar. Para o combate a esta infecção fui puncionado na veia jugular
esquerda, tive monitoramento “online” da frequência cardíaca através de catéter
na aorta radial esquerda (ambos inseridos com leve anestesia local e pontos cirúrgicos
para que não houvesse o perigo de movimento dos mesmos). O tal edema no pênis e
saco escrotal foi parcialmente resolvido à galega, tendo o urologista “puxado” as
partes para os seus devidos lugares. Isto rendeu-me outra viagem na qual estive
próximo à Lua. Era a única e indicada maneira de lidar com o caso.
Foram mais cinco dias
aguardando a ablação, que foi feita em centro cirúrgico, com anestesia geral. A
meta era mapear os tais pontos que causavam o “disparo“ do coração e
cauterizá-los, sendo que para tal foi inserido um catéter na veia femoral e
outro na veia jugular, ambos do lado direito. Duas horas depois estava de volta
à UCI, com a sensação de, uma vez mais, ter sido vítima de uma “trombada“ de
frente. Recebi alta hospitalar no dia seguinte, após vinte dias internado.
Venho me recuperando lenta e
gradualmente.
Hoje tirei os pontos restantes
e obtive autorizacão para começar caminhadas de trinta/quarenta minutos, apesar
de continuar tomando extensa lista de remédios.
Durante todo o período em que
estive no São Lucas, afora o sério episódio da taquicardia e da inação da
médica plantonista e das enfermeiras daquele andar, tive o privilégio de ser
assistido por profissionais de primeira linha e de estar instalado numa Unidade
Intensiva absolutamente bem equipada.
Foram dias muito difíceis que trouxeram-me ainda mais para perto do Altíssimo. Ainda hoje tenho dificuldade de falar sobre os vários episódios de dor profunda que vivenciei, daí a escolha pela escrita.
O que já era uma certeza foi,
ainda mais, massificado por tudo isto: Somente uma vida digna e na senda do
Amor e da Caridade vale VERDADEIRAMENTE a pena. É o que humildemente quero passar
para vocês, apesar de saber que é desta forma que vocês, a quem escrevo, vivem.
Ao passar momentos limítrofes entre esta vida material e a (verdadeira) vida
espiritual, percebe-se quais são as verdadeiras riquezas que o ser humano deve
desfrutar neste plano e quão fugazes as posses e cargos que tanto almejamos ao
longo da vida.
Agradeço ao Pai o privilégio
de ter a meu lado pessoas como a minha Esposa, minha Mãe, Padastro, Pai,
Cunhado, Sogra, Filho, incluindo os “peludos“, Parentes e, aos poucos, porém
verdadeiros Amigos. Todos estiveram ao meu lado dando-me a essência vital à
continuação da vida.
Peço ao Criador que lhes dê o
livramento das dores e que continue mostrando-lhes a Seara do bem.
Sonho em um dia estar de volta
aos céus deste belo planeta, e cruzar ou mesmo ter a sorte de voar com alguns
de vocês.
Os próximos meses são de
recuperação e, somente no começo de 2013 terei uma definição sobre a carreira
que tanto amo.
Agradeço de coração a atenção
dispensada, na esperança de que estas longas e enfadonhas linhas possam
trazer-lhes algum benefício.
Que Deus os abençoe,
Texto: Carlos Mol Pimentel, 17 de julho de 2012
Edição: JP
Que relato emocionante, que isso sirva de lição para todos nós.
ResponderExcluirDesejo ao Cmte uma boa recuperação e que volte a voar neste imenso céu azul que ele tanto ama. Felicidades e saúde sempre. Abs
Realmente me emocionei com o relato, que sua recuperação seja total para que possa nos ensinar mais um pouco sobre a verdadeira vida. Paz e luz.
ResponderExcluirAna Santana
Estou torcendo por você Mol. Apesar de tudo o que você está passando, fiquei feliz de saber notícias suas. Tenho certeza que sairá vencedor. Saúde para você e sua família. Saudades e abraços.
ResponderExcluirFernando Dias
Como ele está atualmente?
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