quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dilma, Patriota e Marco Aurélio Garcia

Foto: JB
Cesar Maia         
1. A política externa brasileira durante o governo Lula era apresentada através de dois personagens. De um lado, o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, de total adesão ao bolivarianismo chavista, com passagem pela assinatura testemunhal de Lula ao acordo Irã-Turquia, inspirador da negativa de Lula, em Israel, de colocar flores no tumulo do líder e fundador do sionismo. Além das fotos de Lula sorridente com ditadores africanos, da "neutralidade" em relação à Síria (só dois anos depois há uma nota crítica)... Enquanto isso, o ministro Celso Amorim ia rolando a rotina do Itamaraty, sempre asfixiado pela presença bolivariana do embaixador Samuel Guimarães como seu vice-ministro.         
2. Com a ascensão de Dilma, seus gestos iniciais em matérias de política externa sugeriram uma suavização daquelas posições. Uma ou outra declaração trouxe essa expectativa. E a escolha, como ministro, de Antonio Patriota criou até um ambiente de alívio, pelos anos que esteve nos EUA e por ser casado com uma norte-americana, funcionária qualificada da ONU.         
3. Mas o tempo foi passando e nada – rigorosamente nada mudou. Ao contrário, está ocorrendo uma intensificação dos piores momentos da política externa anterior. Síria é um exemplo e o silêncio de Dilma e seu ministro é ensurdecedor. Um vídeo (abaixo), divulgado dias atrás, de Lula exaltando Chávez  não pode ter sido feito sem que - no mínimo - não incomodasse Dilma. Os atropelos bolivarianos à democracia e à liberdade de expressão são recebidos com normalidade por Dilma e Patriota.         
4. O assustador é que Marco Aurélio Garcia, que comandava a coreografia bolivariana e iraniana no governo Lula, esteja agora silente. O caso do Paraguai mostrou que ele nem precisa dar entrevistas e reverberar. Dilma radicalizou pessoalmente, atropelando os Tratados do Mercosul e convocando Mujica do Uruguai e Cristina da Argentina a excluírem – manu militari – o Paraguai e incluírem – manu militari – a Venezuela. A seu lado, Patriota defendeu e justificou, para espanto do Itamaraty de antigamente.
5. Em depoimento no Congresso, semana passada, Patriota disse com todas as letras que a Venezuela é uma democracia. No governo Lula a política externa radical era o outro lado da moeda da política interna suave. Isso agradava à militância petista. Mas, agora, a política externa é convergente com política interna, que avança a passos firmes para a radicalização.         
6. Num quadro desses, Marco Aurélio Garcia não precisa se desgastar. Afinal, Dilma e Patriota passaram a ser os executores de tudo o que Garcia defendia na política externa. Pode ficar calado, pois tem executores de primeiro nível para defender as políticas que propunha e propõe.         
7. Agora, a tríade Dilma, Patriota e Marco Aurélio Garcia comanda, como um naipe de violinos, o bolivarianismo estabelecido. Tudo em enorme harmonia. Não há divergência. Dilma se encarrega de liderar a comissão de frente, com Patriota batendo o bumbo ao lado. E Garcia, discreto, como carnavalesco desse enredo setentão.
Ex-Blog do Cesar Maia, 18-7-2012

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