Márvio dos Anjos
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Foto: Reprodução TV Globo/Estado de S. Paulo |
Dois moradores de rua encontraram R$ 20 mil (cerca de € 8 mil) numa rua de São
Paulo na madrugada de segunda-feira, dia 09 de julho. O dinheiro era de um
assalto a um restaurante ocorrido na semana anterior e fora arremessado pelos
ladrões em fuga para ser recuperado depois. Sem saber a quem pertencia, o casal
de catadores de lixo fez o incrível: entregou a quantia à polícia.
A justificativa é tão
inimaginável quanto acessível: «Parei
para pensar no que minha mãe me falou: nunca roubar nada que é dos outros»,
afirmou Rejaniel Santos, 36, companheiro de Sandra Domingues, mesma idade. Cada
um deles ganha, em média, € 40 por mês. Encontrados, os sócios do restaurante
ofereceram aos “heróis” uma refeição e emprego no próprio estabelecimento.
«Renasce a esperança na
humanidade!» é o comentário mais recorrente a respeito do “milagre” da
honestidade dos miseráveis. É curioso que quem comenta se coloque sempre fora
da “humanidade”. Ao meu lado, ninguém admite que voltou a crer em si mesmo. No
fundo, não é bem o mendigo que nos surpreende, mas nossa própria certeza de que
faríamos diferente. «Não seria errado manter o dinheiro encontrado, ainda mais
sendo pobre», ressaltam alguns; bem observado, mas não seria o mais certo. E
para fazer o mais certo, é preciso acreditar só nessas lições de mãe. A
situação me recorda a do deputado Antonio Reguffe, de Brasília, que gastou em
18 meses de mandato surpreendentes € 5,2 mil das verbas reservadas ao seu
gabinete.
Sua colega de Congresso e
conterrânea Erica Kokay torrou no mesmo período € 158 mil – o equivalente a 30 Reguffes
– e está mais próxima da média dos demais deputados do que o colega. Ninguém
cometeu crime, Reguffe é quem economizou demais, dirão alguns, «e isso acaba
por embaraçar a outros». De fato, mas será que não cabe a um deputado legislar
ao custo mais baixo possível? A questão não nos deveria surpreender, porque,
como ensinou a mãe de Rejaniel, é dinheiro dos outros.
Título e Texto: Marvio dos Anjos, no jornal Destak,
18-7-2012
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