Maximizando o crédito
A “bolha do crédito”, no
Brasil, mostra um pico na inadimplência, sinaliza cautela, mas não ainda
pânico.
Francisco Vianna
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Gráfico do dinheiro que o
estado empresta não para se investir, mas apenas para se gastar...
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Proporcionalmente ao PIB, a
disponibilidade de crédito, no Brasil, dobrou em dez anos. Impulsionado por
acesso mais fácil à aquisição de casa própria (hipotecas), os preços dos
imóveis nas grandes cidades brasileiras mais do que dobraram em apenas cinco
anos. Do mesmo modo, a indústria automobilística agarrada à boia da
disponibilidade de financiamento e eventuais diminuições de impostos, bateu
sucessivamente cinco recordes em vendas em 2011. Agora a expansão súbita do
crédito no país (veja o gráfico) começa a parecer menos efervescente e mais
assustador. A inadimplência de mais de 90 dias bateu o recorde chegando a 6% do
valor creditício.
Ao invés de aliviar, o governo
está tratando de distribuir mais dinheiro por todos os lados. Em 2009, quando a
recessão global desanimou os consumidores brasileiros, os estrategistas de
Brasília baixaram impostos sobre vendas (IPI) e da SELIC para ativar a demanda.
Com a economia vacilando de novo -- cresceu apenas 2,7% no ano passado e
analistas independentes esperam ainda menos em 2012 – o governo quer ver os
endividados atrás de resgate governamental, mais uma vez.
Com o corte em 11 de julho em
curso de meio ponto percentual na taxa SELIC pelo COPOM do BACEN e prometendo
mais cortes adiante, a equipe econômica do governo ordenou que os bancos
estatais diminuíssem suas margens de juros e emprestassem mais dinheiro, e
urgiu que os privados fizessem o mesmo. Tenho recebido telefonemas de
telemarketing bancário me oferecendo dinheiro à vontade e as operadoras com
suas vozes macias não conseguem me entender quando eu digo que não estou
precisando de dinheiro. Uma delas me veio com o seguinte argumento: “não faz
mal, pegue assim mesmo, pois a pior coisa do mundo é pegar dinheiro emprestado
quando se está realmente precisando dele”...
Claro que os banqueiros, como
David Beker do Bank of America, dizem que a queda de juros ajudará rapidamente
a aliviar a pressão sobre os superendividados. Tomadores de empréstimos ainda
são uma parcela minoritária no Brasil, muito menor do que em outros países,
principalmente EUA e Europa, o que significa que poucos devedores serão
atingidos pelas antigas e maiores taxas de juros por muito tempo. Atualmente,
mais de um terço dos pagamentos de hipotecas residenciais representa juros.
Mas Brasília espera que os
brasileiros reciclem suas margens de sobra de dinheiro em novos gastos que
levarão a novos empréstimos o que levaria a um endividamento progressivo. O
brasileiro, como recomenda o moderno socialismo tupiniquim, está sendo convencido
a gastar o dinheiro... DOS OUTROS.
Ceres Lisboa da Moody’s, uma
agência de qualificação de crédito americana, tem dúvidas de que os bancos
privados entrarão nessa dança dos bancos estatais e acha que a prática pode
gerar uma bolha semelhante a do “subprime” do Tio Sam, principalmente se os
bancos privados embarcarem nessa canoa furada.
Uns estão fazendo provisões
para futuros “créditos podres” oriundos dessa suspeita generosidade estatal, e
têm, também, minguado suas margens de lucro, com os banqueiros parecendo
determinados a ser mais cautelosos com relação a quem irão emprestar dinheiro
no futuro. Isto significa que os bancos públicos poderão aumentar sua fatia de
mercado no Brasil — talvez à custa do declínio da qualidade creditícia, caso os
bancos privados se livrem de seus clientes menos lucrativos.
Uma efervescência na expansão
do crédito não é uma causa de pânico. Muito embora as dívidas particulares dos
brasileiros tenham crescido nos últimos anos a um ritmo que não pode ser
mantido, um ponto de partida muito baixo para a aventura creditícia significa
que o nível absoluto permanecerá bem modesto. O estoque de empréstimos
hipotecários quadruplicou desde 2005, por exemplo, mais é ainda pouco maior do
que 5% do PIB.
Os bancos brasileiros estão também
fortemente capitalizados, como consequência de uma estrita regulamentação
introduzida após crises bancárias prévias. O fato é que os lucros bancários no
Brasil são os maiores do mundo em função do benefício governamental que o
Brasil estende aos seus bancos.
Enquanto o mercado de trabalho
estiver em expansão, a maioria dos brasileiros que estão pendurados com suas
dívidas em bancos deve estar preparada para digerir suas dívidas com
relativamente menos dor. O desemprego está próximo a um recorde negativo e a
renda real continua a crescer, embora mais lentamente do que antes.
A maioria dos bancos, também,
deverá estar apta a agir suavemente em direção a um nível mais sustentável de
provisão de crédito. Uns poucos tomadores de empréstimos de renda media terão
problemas: no Banco Votorantim, por exemplo, as provisões para cobrir créditos
podres (calotes) aumentaram muito, o que significa que seus acionistas tiveram
que injetar 2 milhões de reais (algo em torno de um milhão de dólares) no banco
somente no mês passado. Alguns bancos poderão ser anexados por outros. Mas se
os tomadores de dinheiro não forem tantos, o maior efeito dessa década
brasileira de crédito fácil será apenas uma espécie de ressaca na economia
real.
Esse tipo de intervenção na
economia é usualmente definida como CAPITALISMO DE ESTADO e costuma ser
altamente “selvagem”, ou nefasto, porque o capitalista – no caso o estado –
nunca vai à falência; antes, mete a mão no bolso do cidadão, tira de lá o que
precisa (e muitas vezes até o que não precisa), até que o “socialismo” acabe,
quando o acabar o dinheiro... DOS OUTROS.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 19-7-2012
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