quarta-feira, 18 de julho de 2012

Dezoito meses

Peter Wilm Rosenfeld

O final do mês passado, junho de 2012, marcou os dezoito meses, ou um ano e meio, de governo da Presidente Rousseff.
Em um prazo como esse, muita coisa pode acontecer, boa ou ruim; lembrei-me de questionar se o que ocorreu aqui foi positivo ou negativo; bom ou ruim para o Brasil.
Melhorou algo (corrupção, seriedade, obras) ou piorou?
Arrisco-me a dizer que a melhor coisa (ou, quem sabe, seria a única?) que aconteceu foi o todo relacionado com um notório contraventor que, até então, era pessoa fina e respeitada.
O senador Demóstenes Torres surpreendeu a todos os brasileiros que acreditavam em sua seriedade ao denunciar o que de ruim vinha se verificando Brasil afora. Subitamente, houve uma incrível marcha a ré e o próprio é que se revelou o bandido.
Evidentemente que não pelo refrigerador e fogão (ou foi outro eletrodoméstico qualquer, tanto faz?) que ganhou de presente do Senhor Cachoeira.
Presentes que tais são dados e recebidos a toda a hora por gente que tem dinheiro.
Mas sim, pelo teor das conversas mais do que frequentes entre o senador e o contraventor. O Demóstenes Torres era, sem dúvida, o despachante do Sr. Cachoeira.
A decepção dessa revelação parece-me a de não ter encorajado que episódios idênticos, evidentemente com outros atores em ambos os lados (ativo e passivo) tenham sido trazidos ao conhecimento público.
Todos sabemos que os há aos montes, mas não são revelados por múltiplas razões.
Mas esse episódio nada teve a ver com a Senhora Presidente nem foi mérito seu!
Então, o que foi meritório na administração Rousseff?
A primeira “faxina” levada a efeito, envolvendo seis ou sete ministérios, trouxe-nos a esperança de que seria sucedida por outras “limpezas”.
O passar das semanas e dos meses sem que nada acontecesse causou uma frustração geral nas pessoas de bem. Afinal, por que não aconteceu mais nada?
Arriscarei um palpite: como o Sr. da Silva levou um choque ao saber da primeira faxina, já que todos os atingidos tinham sido seus auxiliares de confiança, determinou (o termo é bastante forte propositadamente) que a Sra. Rousseff parasse com isso para não prejudicá-lo adicionalmente.
E a Senhora Presidente obedeceu sem pestanejar!
O Sr. da Silva, por sua vez, continua na ativa, ostensivamente, conforme o demonstram dois fatos: sua tentativa de influenciar os ministros dos STF com vistas ao julgamento do mensalão, e com sua campanha em S. Paulo a favor de seu candidato a Prefeito, o triste e nefasto ex-ministro da educação (todas as minúsculas são intencionais).
Mas que bela rasteira o Sr. Paulo Maluf passou no ex-presidente e em seu pupilo!
Espero que tenha sido a gota para evitar a eleição do ex-ministro. Conto com o bom senso dos paulistanos.
Mas, voltando à Presidência. Como não li nem ouvi algo sobre o famigerado trem-bala Rio-S.Paulo-Campinas, espero que o projeto tenha sido congelado por muitos anos, o que seria positivo!
O País tem carências muito mais sérias e profundas do que essa, e não dispõe de bilhões de reais para essa obra.
Outro projeto de que não tenho lido nada é o da criação de um sem-número de universidades Brasil afora. O de que precisamos é melhorar a qualidade das tantas que já existem, algumas em lamentáveis condições físicas, outras com enorme insuficiência de docentes qualificados.
As deficiências mencionadas não são as únicas de que padecemos. As estradas continuam em estado lamentável (tanto as rodovias como as ferrovias), os aeroportos e portos estão superados, a saúde pública é da pior espécie possivelmente na maioria dos hospitais públicos do país (a bem da verdade, diga-se que alguns raros particulares são de primeiríssimo mundo. Infelizmente, quando um figurão do governo necessita de qualquer tratamento, utiliza esses últimos, e não os públicos...).
Voltando ao início deste texto: e onde está a figura presidencial nisso tudo?
Em latim, dir-se-ia “omissus”. Mas prefiro nosso vernáculo, e diria “inexistente”.
E em política exterior o poderoso e gigantesco Brasil colocou-se a reboque de uma figura circense, o Sr. Hugo Chávez da Venezuela e de outra inexpressiva, a Sra. Kirchner da Argentina, no episódio paraguaio; deveria ter seguido o Presidente do Uruguai, figura notável de cidadão.
Realmente, como brasileiro, fiquei com vergonha da ação dos representantes do Brasil no Mercosul; na realidade, enchi-me de vergonha.
Mas, lembrando os acontecimentos de Honduras há não muito tempo, não poderia ter esperado atitude diferente do governo brasileiro, já que o assessor da Presidência para esses assuntos é o mesmo do governo anterior.
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre (RS), 18 de julho de 2012

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