Peter Wilm Rosenfeld
O final do mês passado, junho
de 2012, marcou os dezoito meses, ou um ano e meio, de governo da Presidente
Rousseff.
Em um prazo como esse, muita
coisa pode acontecer, boa ou ruim; lembrei-me de questionar se o que ocorreu
aqui foi positivo ou negativo; bom ou ruim para o Brasil.
Melhorou algo (corrupção,
seriedade, obras) ou piorou?
Arrisco-me a dizer que a
melhor coisa (ou, quem sabe, seria a única?) que aconteceu foi o todo
relacionado com um notório contraventor que, até então, era pessoa fina e respeitada.
O senador Demóstenes Torres
surpreendeu a todos os brasileiros que acreditavam em sua seriedade ao
denunciar o que de ruim vinha se verificando Brasil afora. Subitamente, houve
uma incrível marcha a ré e o próprio é que se revelou o bandido.
Evidentemente que não pelo
refrigerador e fogão (ou foi outro eletrodoméstico qualquer, tanto faz?) que
ganhou de presente do Senhor Cachoeira.
Presentes que tais são dados e
recebidos a toda a hora por gente que tem dinheiro.
Mas sim, pelo teor das conversas
mais do que frequentes entre o senador e o contraventor. O Demóstenes Torres
era, sem dúvida, o despachante do Sr. Cachoeira.
A decepção dessa revelação
parece-me a de não ter encorajado que episódios idênticos, evidentemente com
outros atores em ambos os lados (ativo e passivo) tenham sido trazidos ao
conhecimento público.
Todos sabemos que os há aos
montes, mas não são revelados por múltiplas razões.
Mas esse episódio nada teve a
ver com a Senhora Presidente nem foi mérito seu!
Então, o que foi meritório na
administração Rousseff?
A primeira “faxina” levada a
efeito, envolvendo seis ou sete ministérios, trouxe-nos a esperança de que
seria sucedida por outras “limpezas”.
O passar das semanas e dos
meses sem que nada acontecesse causou uma frustração geral nas pessoas de bem.
Afinal, por que não aconteceu mais nada?
Arriscarei um palpite: como o
Sr. da Silva levou um choque ao saber da primeira faxina, já que todos os
atingidos tinham sido seus auxiliares de confiança, determinou (o termo é
bastante forte propositadamente) que a Sra. Rousseff parasse com isso para não
prejudicá-lo adicionalmente.
E a Senhora Presidente
obedeceu sem pestanejar!
O Sr. da Silva, por sua vez,
continua na ativa, ostensivamente, conforme o demonstram dois fatos: sua
tentativa de influenciar os ministros dos STF com vistas ao julgamento do
mensalão, e com sua campanha em S. Paulo a favor de seu candidato a Prefeito, o
triste e nefasto ex-ministro da educação (todas as minúsculas são
intencionais).
Mas que bela rasteira o Sr.
Paulo Maluf passou no ex-presidente e em seu pupilo!
Espero que tenha sido a gota
para evitar a eleição do ex-ministro. Conto com o bom senso dos paulistanos.
Mas, voltando à Presidência.
Como não li nem ouvi algo sobre o famigerado trem-bala Rio-S.Paulo-Campinas,
espero que o projeto tenha sido congelado por muitos anos, o que seria positivo!
O País tem carências muito
mais sérias e profundas do que essa, e não dispõe de bilhões de reais para essa
obra.
Outro projeto de que não tenho
lido nada é o da criação de um sem-número de universidades Brasil afora. O de
que precisamos é melhorar a qualidade das tantas que já existem, algumas em
lamentáveis condições físicas, outras com enorme insuficiência de docentes
qualificados.
As deficiências mencionadas
não são as únicas de que padecemos. As estradas continuam em estado lamentável
(tanto as rodovias como as ferrovias), os aeroportos e portos estão superados,
a saúde pública é da pior espécie possivelmente na maioria dos hospitais
públicos do país (a bem da verdade, diga-se que alguns raros particulares são
de primeiríssimo mundo. Infelizmente, quando um figurão do governo necessita de
qualquer tratamento, utiliza esses últimos, e não os públicos...).
Voltando ao início deste
texto: e onde está a figura presidencial nisso tudo?
Em latim, dir-se-ia “omissus”.
Mas prefiro nosso vernáculo, e diria “inexistente”.
E em política exterior o
poderoso e gigantesco Brasil colocou-se a reboque de uma figura circense, o Sr.
Hugo Chávez da Venezuela e de outra inexpressiva, a Sra. Kirchner da Argentina,
no episódio paraguaio; deveria ter seguido o Presidente do Uruguai, figura
notável de cidadão.
Realmente, como brasileiro,
fiquei com vergonha da ação dos representantes do Brasil no Mercosul; na
realidade, enchi-me de vergonha.
Mas, lembrando os
acontecimentos de Honduras há não muito tempo, não poderia ter esperado atitude
diferente do governo brasileiro, já que o assessor da Presidência para esses
assuntos é o mesmo do governo anterior.
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre
(RS), 18 de julho de 2012
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