Ontem, uma senhora, com ar de executiva, abordou-me na rua
criticando-me por não ter falado no facto de Portugal se ter financiado a taxas
de 2010. Uma referência às duas emissões de BT onde a República foi buscar
dinheiro a juros muito aceitáveis.
"Como assim?",
perguntei. Os jornais falam no assunto". A senhora contestou: "Estou
a falar das manchetes. Vocês jornalistas só gostam das más notícias. Esta é uma
boa notícia para o contribuinte, não é para o governo".
Quando lhe disse que soava a
teoria da conspiração, interrompeu: "E o estudo da Reuters, que diz que somos melhores do que Espanha? Se fosse ao
contrário era notícia de primeira página e abria telejornais".
Fui verificar. No
"Público", "i", "Correio da Manhã" e
"DN" de facto o assunto não vinha na 1ª página. As TVs tocaram ao de leve na matéria
(com excepção da RTP1, com uma "peça" bem ilustrada). Já nos jornais
especializados a história era diferente: o "Económico" dedicou-lhe um
"Portugal paga juros mais baixos do que Espanha para vender dívida" e o
"Negócios" avançou "Portugal financia-se no mercado com taxa
inferior à da Troika". Menos mal... Mas o estudo da Reuters, de grande
impacte nos mercados, só viria a merecer destaque na edição online do
"Negócios".
Vale a pena nós, jornalistas,
meditarmos sobre o assunto (embora dando algum desconto - os jornais de ontem,
por exemplo, nem tinham más notícias em manchete...). Até porque estas
situações acontecem independentemente de quem está no Poder: entre uma má
notícia e uma boa, foge a pena para a má notícia (salvo raras excepções).
Porquê? Porque vende mais papel? Por receio que se diga "estão feitos com
o governo"? Confesso que não sei.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 20-7-2012
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