sexta-feira, 13 de julho de 2012

Estou cansado de um Brasil que valoriza a ignorância

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Reynaldo Rocha
Há dias que a solidão – de quem escolheu ser quase um ermitão – pesa mais que o normal. Passa do suportável ao cansativamente pesado. É minha escolha. Não reclamo. Mas dou-me o direito de questionar a minha escolha do modo de viver.
E talvez seja hora de assumir comportamentos que eu procuro esconder até de mim. O principal é que o Brasil cansa. Foi-me dado como pátria. E não a trocaria por outra, de modo racional. Mas estou cansado de por cá viver. Poderia viver em outros lugares no mundo. O que me faz permanecer por cá?
Cansaço deste país que é mais um ajuntamento que um projeto de nação. Mais um território sem identidade que um espaço de defesa de valores.
Um país em que a ignorância é valorizada. Em que a mentira é aceita e elevada a argumento. Como se houvesse contrapontos baseados na falácia conhecida e empunhada como postura de vida. Não há. Nunca houve.
É tão claro! Tão transparente. Resta-me cada vez mais me isolar. Ouvir meus discos, ler (e reler) meus clássicos e alguns instant books. Afundar na História. E desistir.
São quase 5 da manhã de uma quinta-feira qualquer de julho/2012.
E li e reli comentários de sites sobre a cassação de Demóstenes, sobre a crise econômica anunciada (e já presente), sobre as tentativas de reescrever fatos históricos, sobre a mais nova platitude de autoria de uma mulher que envergonha as verdadeiras brasileiras. E é a presidente deste país.
E assustei-me com a realidade comprovada da compra de estudantes, igrejas, associações de classe e sindicatos. Como a CUT. Nestes últimos 9 anos, o poder comprou consciências, sonhos e ideais. Precificou a honradez. Leiloou a honestidade. Envergonhou o Brasil frente ao mundo. Transformou instrumentos de lutas em luvas de pelica para carícias em sacos escrotais de poderosos. Elegeu imbecis sabujos como representantes de trabalhadores de chão-de-fábrica, como Vagner Freitas. Um bandido defendendo – publicamente – uma quadrilha. Em nome de valores que NUNCA teve. E usando argumentos que se assemelham a palavrões quando proferidos por marginais, como “estado de direito” e “democracia”! Sinto o mau-hálito à distância! Fala de uma pretensa “guerra política”!
Não se trata de política, idiota! É a vida! É o que e como vivemos. No que acreditamos. Naquilo que nos protege!
Só quem é sabedor da vida fugidia tem a urgência da pressa. A necessidade de ainda ver algo que valha a pena ter vivido. Não me contento com derrotas repetidas, mesmo tendo lutado o bom combate. E guardado uma fé que embora só minha também é fé!
Estou farto de derrotas que honram o meu passado e de meus pais. E que sei que servem de caminhos (nunca atalhos) para minha filha. Não basta.
Será que é tão difícil enxergar que um país não se faz com idolatrias, engodos e pensamento único?
Não sou melhor que ninguém. Só tenho PRESSA. Derivada mais do tempo que perdemos do que de algum desejo de futuro. Dos desvios que sempre nos levam a abismos e nunca a planícies.
Olho para trás e vejo uma luta intensa pela democracia. E com tudo que esta proporciona. Enquanto os patetas e pilantras de hoje lutam para a manutenção da “roubocracia sindical” que implantaram. Além de ladrões (ou até por isso) são aproveitadores. Mesquinhos.
O Brasil conseguiu – como alguns países da miserável América Latina – prostituir até a democracia.
Estou cansado, meus amigos. Cansado de dar murro em ponta de facas, de ouvir asneiras, de ver ladrões e demagogos serem considerados pais da pátria ou “pessoas especiais”. De ver bandido defenderem bandidos nas barbas da Justiça que deveria nos proteger. A todos.
De ver assassinatos de prefeitos impunes. De ter um Judiciário de joelhos. Um Congresso que se jacta de ser a casa dos espertos. De observar, horrorizado, que um partido nazifascista com embalagens de esquerda-socialista conseguiu transformar o escárnio em norma de atuação. Contando com a anestesia de toda uma nação. E querendo que o Brasil obedeça a uma ordem unida. Como um imenso quartel em um Gulag tropical.
Até quando? Viverei para ver uma retomada de decência?
Acho que nunca compreendi tanto algumas figuras conhecidas deste ajuntamento chamado Brasil sem sentido como hoje entendo. Como Paulo Francis e Ivan Lessa.
O Brasil quando visto de fora é só uma nota de rodapé ou uma notícia perdida na página 10 de um jornal. As discussões no mundo fazem sentido. São sérias. Baseadas em propostas, argumentos e fatos.
Por cá, são estéreis. Assentadas em ignorâncias e demagogia. Em idolatria e ideologias totalitárias. Em afirmativas de protoditadores sindicais ou de governo.
Nenhum país merece o que vivemos. Não reconhecer a própria história. Deletar o que vivemos em nome do que alguns pretendem ter como verdade. Por maior que seja a mentira. Nem as ditaduras do Oriente Médio desprezam a verdade histórica. Nem o nazismo tentou. Que país pretende ter futuro se mente acerca do mesmo, fantasia o presente e reescreve o passado?
Um país onde a honestidade é considerada artigo de luxo. Ou inocência imbecilizada. Nunca como dever de cada um.
Será que estamos nos acostumando a fazer uma catarse diária, expondo as mazelas que saltam às vistas de quem não é cego? Isto basta? Ou seríamos só motivo de piada de quem, ao roubar, pede mais uma dose de “pure malt” para celebrar até mesmo a indignação que em nada resultará?
Resta outra saída? Há outro caminho, dentro dos valores que defendemos?
Ou só nos resta acreditar que no fim da comédia (ou drama) haverá de se ter um final com alguma lógica? Em um país que mandou a lógica para Garanhuns ou São Bernardo?
Quem nos ouve? Seremos pregadores de algum “aparelho” subversivo? Teremos como companheiros (os verdadeiros, aqueles que comem do mesmo pão, como etimologicamente se entende esta palavra!) os que já pensavam como nós?
Hoje foi um Demóstenes. Amanhã, um Agnelo ou Perillo. Tanto faz. É pouco ou quase nada. Sempre haverá um Vagner para substituir a raça. E piorar a genética dos ratos de esgotos.
Qualquer um – sem NENHUMA exceção – que seja desmascarado no Congresso, nos Tribunais Superiores ou no Executivo JAMAIS será uma surpresa.
Porque sabemos – por princípio – que a desconfiança, descrédito e desânimo são as regras do jogo. Os jogadores nos ensinaram que assim é o jogo.
Aí está a legião dos combatentes imaginários para provar. Os que lutam não contra moinhos de vento, mas contra a realidade dos fatos. E da ética e decência.
O que muda é o cansaço intenso de mudar para permanecer no mesmo lugar.
Sei – racionalmente – que não há outro caminho. Que o caminho se faz caminhando. E que, se pararmos, o caminho desaparecerá.
Mas, para além do racional, me pergunto: será que eles vão vencer pelo cansaço? K.O. por fadiga?
Talvez devesse fazer parte do coro dos contentes. Dos idiotas que – mesmo sem participar do roubo – ficam felizes pela paz proporcionada pelos ladrões. Em 100 prestações das Casas Bahia. Ou vendo o noticiário em uma TV LCD de 42 polegadas, paga com somente 350% de juros ao ano.
Deveria ter em uma mula aliada a uma anta a esperança personificada (mitificada) como guia de minha própria vida? Deveria acreditar nas palavras mesmo que as ações apontem para o caminho oposto?
Seria mais confortável?
Não sei. Só sei que às 5 horas da manhã de uma noite (INSONE) de julho de 2012, o cansaço consegue ser maior que a esperança.
Título e Texto: Reynaldo Rocha, Belo Horizonte, Brasil
Indicação: José Carlos Bolognese

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