![]() |
Getty Images |
Reynaldo Rocha
Há dias que a solidão – de
quem escolheu ser quase um ermitão – pesa mais que o normal. Passa do
suportável ao cansativamente pesado. É minha escolha. Não reclamo. Mas dou-me o
direito de questionar a minha escolha do modo de viver.
E talvez seja hora de assumir
comportamentos que eu procuro esconder até de mim. O principal é que o Brasil
cansa. Foi-me dado como pátria. E não a trocaria por outra, de modo racional.
Mas estou cansado de por cá viver. Poderia viver em outros lugares no mundo. O
que me faz permanecer por cá?
Cansaço deste país que é mais
um ajuntamento que um projeto de nação. Mais um território sem identidade que
um espaço de defesa de valores.
Um país em que a ignorância é
valorizada. Em que a mentira é aceita e elevada a argumento. Como se houvesse
contrapontos baseados na falácia conhecida e empunhada como postura de vida.
Não há. Nunca houve.
É tão claro! Tão transparente.
Resta-me cada vez mais me isolar. Ouvir meus discos, ler (e reler) meus
clássicos e alguns instant books.
Afundar na História. E desistir.
São quase 5 da manhã de uma
quinta-feira qualquer de julho/2012.
E li e reli comentários de
sites sobre a cassação de Demóstenes, sobre a crise econômica anunciada (e já
presente), sobre as tentativas de reescrever fatos históricos, sobre a mais
nova platitude de autoria de uma mulher que envergonha as verdadeiras brasileiras.
E é a presidente deste país.
E assustei-me com a realidade
comprovada da compra de estudantes, igrejas, associações de classe e
sindicatos. Como a CUT. Nestes últimos 9 anos, o poder comprou consciências,
sonhos e ideais. Precificou a honradez. Leiloou a honestidade. Envergonhou o
Brasil frente ao mundo. Transformou instrumentos de lutas em luvas de pelica
para carícias em sacos escrotais de poderosos. Elegeu imbecis sabujos como
representantes de trabalhadores de chão-de-fábrica, como Vagner Freitas. Um
bandido defendendo – publicamente – uma quadrilha. Em nome de valores que NUNCA
teve. E usando argumentos que se assemelham a palavrões quando proferidos por
marginais, como “estado de direito” e “democracia”! Sinto o mau-hálito à
distância! Fala de uma pretensa “guerra política”!
Não se trata de política,
idiota! É a vida! É o que e como vivemos. No que acreditamos. Naquilo que nos
protege!
Só quem é sabedor da vida
fugidia tem a urgência da pressa. A necessidade de ainda ver algo que valha a
pena ter vivido. Não me contento com derrotas repetidas, mesmo tendo lutado o
bom combate. E guardado uma fé que embora só minha também é fé!
Estou farto de derrotas que honram
o meu passado e de meus pais. E que sei que servem de caminhos (nunca atalhos)
para minha filha. Não basta.
Será que é tão difícil
enxergar que um país não se faz com idolatrias, engodos e pensamento único?
Não sou melhor que ninguém. Só
tenho PRESSA. Derivada mais do tempo que perdemos do que de algum desejo de
futuro. Dos desvios que sempre nos levam a abismos e nunca a planícies.
Olho para trás e vejo uma luta
intensa pela democracia. E com tudo que esta proporciona. Enquanto os patetas e
pilantras de hoje lutam para a manutenção da “roubocracia sindical” que
implantaram. Além de ladrões (ou até por isso) são aproveitadores. Mesquinhos.
O Brasil conseguiu – como
alguns países da miserável América Latina – prostituir até a democracia.
Estou cansado, meus amigos.
Cansado de dar murro em ponta de facas, de ouvir asneiras, de ver ladrões e
demagogos serem considerados pais da pátria ou “pessoas especiais”. De ver
bandido defenderem bandidos nas barbas da Justiça que deveria nos proteger. A
todos.
De ver assassinatos de
prefeitos impunes. De ter um Judiciário de joelhos. Um Congresso que se jacta
de ser a casa dos espertos. De observar, horrorizado, que um partido
nazifascista com embalagens de esquerda-socialista conseguiu transformar o
escárnio em norma de atuação. Contando com a anestesia de toda uma nação. E
querendo que o Brasil obedeça a uma ordem unida. Como um imenso quartel em um
Gulag tropical.
Até quando? Viverei para ver
uma retomada de decência?
Acho que nunca compreendi
tanto algumas figuras conhecidas deste ajuntamento chamado Brasil sem sentido
como hoje entendo. Como Paulo Francis e Ivan Lessa.
O Brasil quando visto de fora
é só uma nota de rodapé ou uma notícia perdida na página 10 de um jornal. As
discussões no mundo fazem sentido. São sérias. Baseadas em propostas,
argumentos e fatos.
Por cá, são estéreis. Assentadas
em ignorâncias e demagogia. Em idolatria e ideologias totalitárias. Em
afirmativas de protoditadores sindicais ou de governo.
Nenhum país merece o que
vivemos. Não reconhecer a própria história. Deletar o que vivemos em nome do
que alguns pretendem ter como verdade. Por maior que seja a mentira. Nem as
ditaduras do Oriente Médio desprezam a verdade histórica. Nem o nazismo tentou.
Que país pretende ter futuro se mente acerca do mesmo, fantasia o presente e
reescreve o passado?
Um país onde a honestidade é
considerada artigo de luxo. Ou inocência imbecilizada. Nunca como dever de cada
um.
Será que estamos nos
acostumando a fazer uma catarse diária, expondo as mazelas que saltam às vistas
de quem não é cego? Isto basta? Ou seríamos só motivo de piada de quem, ao
roubar, pede mais uma dose de “pure malt” para celebrar até mesmo a indignação
que em nada resultará?
Resta outra saída? Há outro
caminho, dentro dos valores que defendemos?
Ou só nos resta acreditar que
no fim da comédia (ou drama) haverá de se ter um final com alguma lógica? Em um
país que mandou a lógica para Garanhuns ou São Bernardo?
Quem nos ouve? Seremos
pregadores de algum “aparelho” subversivo? Teremos como companheiros (os
verdadeiros, aqueles que comem do mesmo pão, como etimologicamente se entende
esta palavra!) os que já pensavam como nós?
Hoje foi um Demóstenes.
Amanhã, um Agnelo ou Perillo. Tanto faz. É pouco ou quase nada. Sempre haverá
um Vagner para substituir a raça. E piorar a genética dos ratos de esgotos.
Qualquer um – sem NENHUMA
exceção – que seja desmascarado no Congresso, nos Tribunais Superiores ou no
Executivo JAMAIS será uma surpresa.
Porque sabemos – por princípio
– que a desconfiança, descrédito e desânimo são as regras do jogo. Os jogadores
nos ensinaram que assim é o jogo.
Aí está a legião dos
combatentes imaginários para provar. Os que lutam não contra moinhos de vento,
mas contra a realidade dos fatos. E da ética e decência.
O que muda é o cansaço intenso
de mudar para permanecer no mesmo lugar.
Sei – racionalmente – que não
há outro caminho. Que o caminho se faz caminhando. E que, se pararmos, o
caminho desaparecerá.
Mas, para além do racional, me
pergunto: será que eles vão vencer pelo cansaço? K.O. por fadiga?
Talvez devesse fazer parte do
coro dos contentes. Dos idiotas que – mesmo sem participar do roubo – ficam
felizes pela paz proporcionada pelos ladrões. Em 100 prestações das Casas
Bahia. Ou vendo o noticiário em uma TV LCD de 42 polegadas, paga com somente
350% de juros ao ano.
Deveria ter em uma mula aliada
a uma anta a esperança personificada (mitificada) como guia de minha própria
vida? Deveria acreditar nas palavras mesmo que as ações apontem para o caminho
oposto?
Seria mais confortável?
Não sei. Só sei que às 5 horas
da manhã de uma noite (INSONE) de julho de 2012, o cansaço consegue ser maior
que a esperança.
Título e Texto: Reynaldo Rocha, Belo Horizonte, Brasil
Indicação: José Carlos Bolognese
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-