Ricardo G. Francisco
Os grupos não têm direitos nem
sentimentos. Temos de nos lembrar-nos disto para não cairmos no erro a que o
colectivismo estrutural do nosso país nos empurra.
Entre os Médicos haverá quem,
individualmente, recebe muito mais do que devia e quem recebe muito pouco para
o que faz. Por isso colocar os Médicos todos no mesmo saco dá azo a que,
dependendo do ponto que se queira dar como demonstrado se pegue na estatística
que interessa como argumento. Uns usarão valores máximos outros médios, outros
mínimos. Outros simplesmente valores ad-hoc. Isto cria uma situação de conflito
dificil de contornar e com maus resultados. Maus resultados porque ganha não
quem tem razão mas quem tem mais força no momento.
O SNS foi construído com uma
mistura curiosa de socialismo e corporativismo. Do corporativismo temos este
efeito, os médicos defendem não a sua posição individual mas todo o sistema. Um
médico jovem, com uma baixa remuneração depois de muitos anos a estudar, com
horários longos e irregulares não tem a mesma situação que o médico com 30 anos
de carreira que ganha várias vezes mais em salário base, com extras que lhe
permitem multiplicar esse base e que ainda por cima aparece pouco no Hospital
tem.
Quando temos cortes
transversais, sem olhar para o caso individual qual é po resultado? Os que já
estavam em baixo podem ficar abaixo da situação limite e preferem sair. Quantos
médicos jovens se despediram do SNS recentemente? Eu conheço alguns. Já para os
que são individualmente muito beneficiados pelo sistema, estes cortes são
apenas beliscadelas. Ficarão apenas menos beneficiados.
Como em tudo o resto, os
cortes transversais que tratam pessoas que não são iguais, de forma igual, só
podem dar mau resultado. Aqui o pedido de coragem não é pedido apenas ao
governo. É também pedido aos médicos que sabem que o SNS está cheio de
desperdícios, incluindo da responsabilidade dos próprios médicos e que não
concordam com isso. Têm de se levantar e dizer “Não somos todos iguais”. Tal
como não são todos iguais nem professores nem os magistrados públicos. Nesta
altura em que os cortes serão inevitáveis é importante que a identificação dos
problemas seja feita por dentro. Vinda de fora será muito provavelmente cega e
transversal.
Para quem está do outro lado
da barricada, vale a pena lembrar que os Médicos não são todos iguais nem estão
na mesma situação. Antes de mais temos de pedir que não sejam tratados como um
grupo. Quanto a serem justamente remunerados só há uma solução, que o Estado
deixe de ser dono dos serviços de saúde. Passará muito tempo até podermos ter
uma sociedade em que o Estado não financie a saúde, mas existe uma boa base
para que os serviços em si sejam todos privatizados. Infelizmente uma das
justificações para a greve é exactamente a vontade de quererem manter as coisas
como estão. Assim, quem trabalha e acredita no juramento de Hipócrates não vai
lá.
Título e Texto: Ricardo G. Francisco, O Insurgente, 11-7-2012
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