quinta-feira, 12 de julho de 2012

Médicos?

Ricardo G. Francisco
Os grupos não têm direitos nem sentimentos. Temos de nos lembrar-nos disto para não cairmos no erro a que o colectivismo estrutural do nosso país nos empurra.
Entre os Médicos haverá quem, individualmente, recebe muito mais do que devia e quem recebe muito pouco para o que faz. Por isso colocar os Médicos todos no mesmo saco dá azo a que, dependendo do ponto que se queira dar como demonstrado se pegue na estatística que interessa como argumento. Uns usarão valores máximos outros médios, outros mínimos. Outros simplesmente valores ad-hoc. Isto cria uma situação de conflito dificil de contornar e com maus resultados. Maus resultados porque ganha não quem tem razão mas quem tem mais força no momento.
O SNS foi construído com uma mistura curiosa de socialismo e corporativismo. Do corporativismo temos este efeito, os médicos defendem não a sua posição individual mas todo o sistema. Um médico jovem, com uma baixa remuneração depois de muitos anos a estudar, com horários longos e irregulares não tem a mesma situação que o médico com 30 anos de carreira que ganha várias vezes mais em salário base, com extras que lhe permitem multiplicar esse base e que ainda por cima aparece pouco no Hospital tem.
Quando temos cortes transversais, sem olhar para o caso individual qual é po resultado? Os que já estavam em baixo podem ficar abaixo da situação limite e preferem sair. Quantos médicos jovens se despediram do SNS recentemente? Eu conheço alguns. Já para os que são individualmente muito beneficiados pelo sistema, estes cortes são apenas beliscadelas. Ficarão apenas menos beneficiados.
Como em tudo o resto, os cortes transversais que tratam pessoas que não são iguais, de forma igual, só podem dar mau resultado. Aqui o pedido de coragem não é pedido apenas ao governo. É também pedido aos médicos que sabem que o SNS está cheio de desperdícios, incluindo da responsabilidade dos próprios médicos e que não concordam com isso. Têm de se levantar e dizer “Não somos todos iguais”. Tal como não são todos iguais nem professores nem os magistrados públicos. Nesta altura em que os cortes serão inevitáveis é importante que a identificação dos problemas seja feita por dentro. Vinda de fora será muito provavelmente cega e transversal.
Para quem está do outro lado da barricada, vale a pena lembrar que os Médicos não são todos iguais nem estão na mesma situação. Antes de mais temos de pedir que não sejam tratados como um grupo. Quanto a serem justamente remunerados só há uma solução, que o Estado deixe de ser dono dos serviços de saúde. Passará muito tempo até podermos ter uma sociedade em que o Estado não financie a saúde, mas existe uma boa base para que os serviços em si sejam todos privatizados. Infelizmente uma das justificações para a greve é exactamente a vontade de quererem manter as coisas como estão. Assim, quem trabalha e acredita no juramento de Hipócrates não vai lá.
Título e Texto: Ricardo G. Francisco, O Insurgente, 11-7-2012

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