Sebastião Nery
RIO – 1947. João Goulart e
Leonel Brizola acabavam de ser eleitos deputados estaduais pelo Rio Grande do
Sul. Jango, 30 anos, advogado, fazendeiro, por São Borja. Brizola, 25 anos,
líder universitário, estudante de Engenharia, por Porto Alegre. Nunca se haviam
visto. Conheceram-se no dia da instalação da Assembleia Constituinte.
Tocou o telefone na
Assembleia, chamando Brizola. Era Rubem Berta, presidente da Varig, então uma
pequena empresa aérea criada pelo alemão Mayer, afastado da direção durante a
guerra. A Varig vivia praticamente de sua linha para Montevidéu, em uns Electras
pequenos. E queria fazer a linha de Buenos Aires, mas Perón, presidente da
Argentina, não concordava. Berta pedia a interferência de Brizola.
Brizola e Jango foram a
Getúlio, exilado em Itu, e pediram sua ajuda. Seguiram para Buenos Aires,
telefonaram para Perón.
###
BRIZOLA
BRIZOLA
Perón atendeu pessoalmente e
os convidou para o café da manhã:
- Deputados, este senhor Berta
é de confiança?
- É um homem capaz, sério, que
está construindo uma empresa aérea.
- Amanhã podem buscar a
autorização da linha para Buenos Aires.
Os dois voltaram para Porto
Alegre com a linha na mão. Veio a campanha eleitoral de 1950, a Varig pôs um
avião à disposição de Getúlio e outro à disposição do brigadeiro Eduardo Gomes.
Vitorioso Vargas, Berta começou a lutar por uma linha para Nova Iorque. A Pan
American tinha linha para o Rio, ele queria a reciprocidade. Mas, na
Aeronáutica, o ministro Nelio Moura e o brigadeiro Teixeira eram contra.
Achavam que a linha devia ser dada à Aerovias Brasil, então mais poderosa do
que a Varig.
Berta ligou de novo para
Brizola, já líder do PTB na Assembleia. Brizola veio ao Rio com o ofício da
Varig na mão, foi ao Catete, conversou com Getúlio, que assinou a autorização
para a Varig. Mas como voar para Nova Iorque? Era preciso comprar três
Constellations. Novamente Brizola veio ao Rio, Getúlio autorizou a compra com
aval do Banco da Província do Rio Grande do Sul. Naquele dia, a Varig ganhava
“os céus do mundo”.
No exílio, Brizola
encontrou-se em Nova Iorque com um grupo de pilotos da Varig. Levantaram um
brinde póstumo para Rubem Berta.
###
VARIG
VARIG
A aviação brasileira nasceu
assim, cresceu assim, uma história de tempos heróicos. Primeiro, em 1927, a
alemã Condor (“Sindicato Condor”), que na guerra abrasileirou-se como Cruzeiro
do Sul. Depois, a Varig, Aerovias, Real, Panair,Vasp, Transbrasil,TAM, Gol, etc.,
comandantes e comissários, aeronautas que durante anos cortaram os céus do
Brasil, dia e noite, abrindo e ampliando fronteiras, construindo a unidade
nacional.
Agora, volto de viagem e leio
esta dolorida mensagem de 28 de setembro, assinada por um desses bravos heróis,
comandante Raimundo Ribeiro, que conheço há anos, dos tempos da Cruzeiro e da
“nossa Varig”:
###
AERUS
AERUS
- “Meu caro Sebastião Nery, o
caso “AERUS’ é o seguinte: um Instituto de Seguridade Social, criado na década
de 80 para suplementar a aposentadoria dos aeronautas, que, como sabes, o teto
do INSS é bem baixo. Por motivos vários, este plano foi dilapidado e nós
participantes ficamos a ver “navios”, ou quase.
Em 2006, houve intervenção no
plano e daí à sua liquidação foi um pulo. Após vários anos de lutas judiciais,
a UNIÃO foi responsabilizada por não haver intervido no momento oportuno
através de sua Agência Reguladora SPC, hoje PREVIC. No dia 13/07/2012, o juiz
dr. Jamil Rosa de Jesus Oliveira, da 14ª vara federal – DF, determinou à União repassar ao AERUS os valores devidos, sob pena de multa diária de
R$ 60.000,00.
A decisão não foi cumprida. Em
24/09/2012, a decisão foi ratificada e a multa majorada para R$ 220.000,00 por
dia de atraso a partir do 15º dia. Tem havido manifestações dos interessados
nos escritórios da AGU nos Estados a até agora não há indicativo de cumprimento
da decisão judicial. Para teres uma ideia, eu recebia cerca de R$ 7.000,00
mensais e hoje recebo R$ 1.044,00 até dezembro. Grande abraço do comandante
Ribeiro”.
E agora, presidente Dilma? A
senhora vai tolerar essa indignidade?
Título e Texto: Sebastião Nery, Tribuna da Imprensa,
06-11-2012
N.E.: A foto está no post
original de Sebastião Nery
Relacionados:
O artigo está excelente, finalizando com chave de ouro ao se referir a Dilma Roussef
ResponderExcluirAcho um contra senso abrir ao público quanto se ganha, quanto deveria estar ganhando e quanto está ganhando agora, quando mais da metade do Brasil não ganha nem os 8% que o Aerus ainda paga ao ex-comandante. Não adianta explicar tudo o que eu já sei, tudo o que todos nós prejudicados pelo Governo e Aerus já sabe, não se abre para o público geral certas informações, melhor dizer que não está recebendo pelo que sempre pagou.
ResponderExcluirNão adianta chororô a essa altura da vida, que o João Goulart, que o Rubem Berta e o Brizola ... e ... até o Perón (esqueceram de falar se encontraram também com a Evita)... e ... blá ... blá ... blá ... isso já virou um tango.
O pessoal que sempre comandou a FRB, principalmente nos últimos 30 anos anteriores à sua quebra é que deveria estar atento que, uma empresa que se fez dessa forma e sempre se manteu graças à essa forma, deveria manter os mesmos métodos para não se desfazer.