José Manuel
O senhor Libório, com setenta
e cinco anos, dos quais quarenta e cinco dedicados à mesma empresa, todos os
dias faz o mesmo roteiro na parte da manhã.
Sai do prédio onde mora, às 7h30,
anda até à praia, descansa em um banco na calçada, encontra seus amigos
aposentados e conversa sobre os crimes de colarinho branco e as manchetes
políticas do dia.
Após uma hora de papo,
levanta-se, despede-se e vai andar pela calçada da praia para fazer a sua
ginástica diária recomendada à sua idade.
Na volta à sua casa, seu
Libório passa pela mesma padaria de sempre, compra o pão desejado que levará
para tomar um café com a sua esposa.
Mas, antes de chegar em casa
sempre passa pela agência bancária onde tem uma conta-pagamento da previdência
social, verifica o seu saldo e o montante da sua dívida junto àquele
estabelecimento bancário.
Naquele dia, não foi
diferente, apenas a rotina foi cortada quando ao sair do banco viu-se jogado
por dois brutamontes dentro de um carro que saiu em grande velocidade. Queriam
o seu cartão do banco com a respectiva senha, para poder soltá-lo em uma
esquina de outro bairro.
O senhor Libório é um
aposentado do fundo de pensão AERUS, o qual contribuiu durante trinta anos, e
vai ao banco todos os dias pois é mais um dos pobres coitados dependentes do
empréstimo consignado daquele banco para poder sobreviver.
Há nove anos luta para receber
o que lhe foi surripiado, torce para que a justiça libere o que a sua
ex-empresa ganhou na justiça, cuja parte será destinada exatamente ao seu
pagamento.
Foi alforriado e passou a ser
tutelado pelo Estado até que essa mesma Justiça resolva o que vai fazer com o
processo que ele já ganhou. Então, ganha um mês sim, vários não, pois o governo
e o judiciário não se entendem, mas também não querem saber se ele e a sua
família têm ou não um plano de saúde, se a alimentação está suficiente, se eles
precisam de remédios, quantos bens já tiveram de ser vendidos para pagar contas
atrasadas, e todas as histórias concernentes…
O senhor Libório, quando se
aposentou pela Previdência Social, tinha uma estimativa de vida e de
compromissos.
Além do salário de aposentado
da previdência que desde que se aposentou vem se erodindo por mágicas
espetaculosas de planos econômicos e inflações inimagináveis, pensava em ter a
sua aposentadoria complementada por um fundo de pensão atrativo até porque era
garantido pela própria União. Hoje o seu status é de devedor do sistema
bancário através do crédito consignado, não recebe a sua complementação e está
nas mãos de bandidos dentro de um carro, nas mãos da justiça que não para de
brincar com a sua vida e nas mãos da União que cada vez mais lhe tira o que
pode através da defasagem de um salário de aposentado.
A história do senhor Libório
para lá de real é a verossimilhança de cada um de nós. Não há necessidade de
continuar com relatos bastante conhecidos.
A pergunta que se faz presente
é a quantos sequestros o senhor Libório está sujeito neste país que a cada dia
se transforma num lugar excelente para se desperdiçar a vida?
Até quando vamos continuar
inertes a uma situação que está cada dia que passa mais clara, em que estamos
sendo explorados por vários tipos de bandidagem explícita?
Recentemente, li na imprensa
que a família do brasileiro morto pela polícia em Londres, vendo que não conseguia
acionar a justiça local, apelou para um tribunal internacional de direitos
humanos.
E a ação já está correndo, o
que certamente levará a Inglaterra a um vexame memorável.
E nós? A quantos sequestros
vamos continuar suportando e resistindo?
Vamos continuar com greves de
fome, invasões disto ou aquilo?
A bandidagem seja informal ou
formal está andando para todos nós, façamos o que for, e é isso que temos que
acordar de uma vez, sairmos desta apoplexia que está nos corroendo os órgãos
vitais a cada dia que passa e com urgência tomarmos atitudes, pois passado
policialesco é o que não nos falta para contar a um tribunal internacional de
direitos humanos.
Se alguém se interessar,
pesquisem e vejam que o estado brasileiro é useiro e vezeiro em infringir leis,
internacionais, inclusive.
A boa notícia é que
confrontado juridicamente por uma corte internacional perde quase todas.
Venho tocando nesta tecla há,
no mínimo, quatro anos, que temos que nos unir sob uma liderança jurídica e
partir definitivamente para a briga.
Fiquem sabendo que é isso
exatamente o que eles não querem, pois vão levar mais uma goleada em seu
próprio gramado.
E aí, companheiros?
Afinal, trair e coçar, é só
começar!
Título e Texto: José Manuel, cansado de viver a
bandidagem do dia a dia, 15-6-2015
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