João Marques de Almeida
No momento mais marcante da
vida do Euro, um tempo da História em que não se pode errar, muitos membros da
direção do PS estão com o governo mais revolucionário que algum dia existiu na
União Europeia
Muitas vezes, os factos dizem
quase tudo. Vejamos a lista de quem apoiou o Syriza no exercício de chantagem
política, que o governo grego chamou “referendo”:
– Em Espanha, o Podemos.
– Em França, as
extrema-esquerdas e a Frente Nacional da família Le Pen.
– Em Itália, a Liga do Norte.
– Na Alemanha, a
extrema-esquerda, De Linke
– No Reino Unido, o Ukip.
E quem esteve contra o Syriza?
– Em Espanha, o PP, o
Ciudadanos e a maioria do PSOE.
– Em França, o Partido
Socialista, os Republicanos (a antiga UMP) e o UDF.
– Em Itália, o Partido
Democrático e o centro-direita.
– Na Alemanha, a CDU e o SPD.
– Na Holanda, os Liberais, os
Trabalhistas e os Democrata-Cristãos.
– No Reino Unido, os
Conservadores, os Trabalhistas e os Liberais.
Como foi em Portugal?
– A coligação esteve
obviamente contra o Syriza.
– O PCP, o Bloco de Esquerda,
os vários dissidentes do Bloco, muitos dirigentes do PS, Pacheco Pereira,
Freitas do Amaral e outros defensores dos privilégios da elite oligárquica
estiveram ao lado do Syriza. O PS é o caso mais notável. Excluindo Jaime Gama,
António Vitorino, Luís Amado, Francisco Assis e antigos membros da direção de
Seguro, o resto ou esteve ao lado do Syriza ou adoptou uma posição de
neutralidade, como o líder do partido, António Costa. Esperemos que seja
coerente com a sua posição de neutralidade entre o PP e o PSOE em Espanha e em
França entre Hollande e Sarkozy.
Ou seja, e desculpem a
insistência, no momento mais marcante da vida do Euro, naqueles momentos da
História em que não se pode errar, muitos membros da direção do PS, ilustres
dirigentes do partido, com responsabilidades no passado, estão ao lado do
governo mais revolucionário que alguma vez existiu na União Europeia. Um
governo anti-europeu, anti-mercado, marxista, inspirado no regime chavista da
Venezuela e aliado da extrema-direita. E estão do lado da Frente Nacional, do
Ukip, da Liga do Norte e das extremas-esquerdas europeias. Contra os seus
partidos irmãos europeus, como por exemplo os socialistas franceses e o SPD
alemão. Em relação à Grécia, o governo português está mais próximo dos
socialistas franceses, alemães e italianos do que o PS. Extraordinário.
Se António Costa fosse um
líder forte e corajoso, teria simplesmente dito. ”O PS não hesita: entre um
governo radical grego e os parceiros europeus, estamos claramente ao lado dos
nossos parceiros. Com esta política, o governo grego está a levar o país para o
desastre. Achamos que o governo português faz bem em defender o interesse
nacional e queira que a Grécia nos pague o dinheiro que emprestámos numa altura
muito difícil para o nosso país. Posso garantir aos portugueses que com o PS no
governo, não acontecerá nada de semelhante ao que se passa na Grécia.” Por que
razão Costa não diz o óbvio? Por que sabe que o seu partido está dividido, sabe
igualmente que não tem a força suficiente para disciplinar o PS e acredita que
só reforçará o seu poder se chegar ao governo. Uma ilusão perigosa.
O que vai fazer então o
governo que tantos socialistas portugueses defendem? Antes de mais, já
conseguiu uma proeza inédita: fechar os bancos durante duas semanas e levá-los
à falência se o BCE deixar de os apoiar financeiramente. Agora tem duas opções.
Ou aceita um terceiro programa de apoio da União Europeia e do FMI, com mais
austeridade do que o segundo programa e do que foi proposto antes do
“referendo”, ou a Grécia será suspensa da zona Euro no Domingo à noite. Um
governo que prometeu o fim da austeridade vai agravar a austeridade. Um governo
que prometeu que manteria o país no Euro, arrisca-se a ser suspenso e a
imprimir moeda local. Um governo que prometeu resolver a crise em “48 horas”,
ainda não resolveu nada, cinco dias depois do “referendo.” Um governo que
acabou de apresentar um programa de austeridade contra o qual fez campanha na
semana passada. Numa semana, Tsipras vota Não e na seguinte vota Sim. Eis o
governo que muitos socialistas portugueses apoiam.
Acho que será muito difícil
haver um acordo. Tsipras sabe que um programa de austeridade levará fatalmente
à divisão do Syriza. Até agora, entre um acordo com os credores europeus e a
unidade do Syriza, escolheu sempre a última. Pode mudar agora, mas mesmo que
assine um acordo, dificilmente será capaz de o cumprir. E será uma questão de
tempo até a crise regressar. O problema de fundo é a natureza revolucionária do
Syriza.
Durante o meu Doutoramento,
tive colegas gregos que ocupam hoje posições de destaque no Syriza. São amigos
do novo ministro das Finanças grego. Sei como eles pensam e no que acreditam.
São profundamente anti-capitalistas, contra a economia de mercado, contra o
Euro e contra a União Europeia. Olham para a democracia liberal ocidental como
um regime assente na ditadura da burguesia. E acreditam que a sua função é
libertar os povos europeus dessa ditadura.
O Syriza não é composto por um
grupo de rapazes irresponsáveis e semi-libertários, mas sim por revolucionários
profissionais. A maioria quer tirar a Grécia do Euro e criar um regime
socialista. Uma espécie de Venezuela no Mediterrâneo, mas sem petróleo.
Pretendem, no entanto, convencer os gregos que a Europa será a culpada por uma
eventual saída do Euro. Aliás o Syria é muito mais um movimento de massas do
que um partido político. Com instintos totalitários e sem respeito pelas
instituições democráticas e pela liberdade. Como se viu com a violação
grosseira da democracia a que chamaram “referendo” e com os ataques à liberdade
dos jornalistas que defenderam o Sim.
Os governos europeus já
perceberam que estão a lidar com um movimento revolucionário e
anti-democrático. Sobretudo os países que vieram de um passado comunista.
Muitos socialistas portugueses podem acreditar nas “virtudes” do Syriza, mas
quem viveu sob a miséria e a ditadura socialista durante décadas, como os
países Bálticos, a Eslováquia e a Eslovénia – um dia, alguém contará o papel
destes países durante a crise da Grécia -, e Merkel, não se deixa enganar. Eles
conhecem os movimentos revolucionários. E experimentaram a tragédia que se irá
abater sobre os gregos.
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