Reinaldo Azevedo
Sempre procuro, neste blog, na
Folha ou na Jovem Pan, distinguir as minhas paixões e convicções —
absolutamente legítimas, como a de toda gente — da análise, vamos dizer,
técnica. Sempre fui um duro crítico das decisões do petismo, mas, não raro,
reconhecia que elas faziam sentido do ponto de vista lá deles. Sou mais
preciso: irritava-me a frequência com que eles faziam uma leitura procedente da
realidade, embora as suas escolhas fossem, a meu ver, no mais das vezes, ruins
para o país e para a democracia. Pois é…
Que, mesmo dotado de
perspicácia política, o PT conduziu o país a uma crise econômica e ética
inédita, eis um fato. Mas há uma novidade nestes tempos em relação àquele
partido que permaneceu 22 anos na oposição e que governou com razoável
desenvoltura por oito anos: os petistas passaram por um processo de
emburrecimento que deveria ser matéria de curiosidade científica. Nunca antes
na história “destepaiz” uma legenda que está no poder cometeu tantos e tão
severos erros. E não está disposto a parar.
Neste domingo, Dilma conduziu
uma reunião no Alvorada. Estavam presentes o vice-presidente Michel Temer, 13
ministros e dois líderes governistas no Congresso. O discurso mais inflamado,
consta, saiu da boca do desgrenhado Miguel Rossetto, secretário-geral da
Presidência. Conclamou Dilma a se colar aos ditos movimentos sociais como forma
de enfrentar as manifestações em favor do seu impeachment, que certamente vão
tingir de verde e amarelo as ruas do Brasil no dia 16 de agosto.
Expressava ali uma decisão que
já está tomada. Pois é… Nesta terça, dia 11, a presidente vai receber
lideranças da chamada “Marcha das Margaridas”, ditas trabalhadoras rurais e
congêneres, que se manifestam em todo o país, mas com mais ênfase em Brasília.
Embora, oficialmente, seja uma inciativa de uma miríade de grupos sindicais, o
comando é mesmo do MST.
Na quinta, a governanta deve
se encontrar com representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, aí sem disfarce, e com pelegos da UNE — aqueles rapazes e moças já
avançados em anos que aparelham uma entidade estudantil em proveito do PCdoB. A
esmagadora maioria dos universitários brasileiros não saberia hoje a diferença
entre um diretor da entidade e uma coxa de galinha.
Muito bem! O que Dilma vai
conseguir com esses encontros senão turbinar os protestos do dia 16 de agosto?
Notem: não estou aqui a defender que a presidente assista inerme, sem se mexer,
aos crescentes movimentos que pedem que ela deixe, na forma da lei, o cargo. A
questão é saber qual deve ser o modo de resistência. Medir forças nas ruas, a
esta altura, é o mais estúpido deles — até porque o efeito comparativo, por
mais que os pelegos se esforcem, vai atuar contra o governo.
Todos sabemos que as esquerdas
que estão sendo incitadas a comparecer às ruas, embora extremamente
minoritárias, não são exatamente pacíficas, como pacíficos são os que pediram a
saída de Dilma em março. O máximo de agressão que produziram aos ouvidos dos
autoritários foi cantar o Hino Nacional; o auge da ofensa moral aos ditos
“progressistas” foi desfraldar a Bandeira do Brasil e flâmulas outras nas cores
verdes e amarelo, para tristeza do vermelho internacionalista da empulhação, da
violência e da morte.
O que esperam esses
irresponsáveis? Que gente decente, que trabalha, que luta para ganhar o pão de
cada dia, que se esforça para ter um futuro e para dar um amanhã melhor às suas
crianças, vá se intimidar com brucutus que hoje atuam em defesa de seus
aparelhos de poder, de seus privilégios, do leite de pata que é fornecido pelo
estado brasileiro para financiar seus movimentos de militantes sem povo? Isso
não vai acontecer.
“Ah, mas não podem se
manifestar os que defendem a permanência de Dilma?” Ora, claro que sim! O ano
tem 365 dias, não é? O governo vive faz tempo a sua miséria moral, ética e
administrativa. Por que, então, tais manifestações não foram convocadas antes,
descoladas do movimento de protesto e não como uma reação que busca se
antecipar à ação, o que rima, e é, com provocação? Além de não intimidar
ninguém, reitero, essas patacoadas vão contribuir para lotar as ruas no dia 16
de agosto. Já vimos isso antes.
Há mais. Há algo de
supinamente estúpido em se reunir com aliados, EM NOME DO DIÁLOGO, para
organizar protestos a favor. Ora, o diálogo, em política, só faz sentido quando
é com a divergência. Ainda que os grupos pró-impeachment não aceitassem, eles é
que deveriam ser convidados a se encontrar com Dilma. O que o MST e a UNE vão
fazer no Palácio? Buscar mais um dinheirinho? Todos sabemos que as duas
entidades recebem farto financiamento público. O governo nunca busca dialogar
com gente que não pode ser comprada, é isso?
De resto, meus caros, quando
Dilma chama UNE e MST para um papinho e participa da Marcha das Margaridas, em
vez de demonstrar que não está isolada, isso só evidencia o tamanho do seu
isolamento. Aliás, na quinta, a presidente poderia aproveitar e chamar a direção
da Fiesp. Depois, todos soltariam uma nota em conjunto em defesa do, bem, sei
lá do quê. Do socialismo talvez…
O PT perdeu definitivamente o
eixo. Eu é que não vou lamentar. Eu aplaudo suas estultices.
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