O afastamento da estação pública, Salgado,
BPN, os "negócios por explicar" de Luís Filipe Vieira e os outros
pontos altos da entrevista de João Miguel Tavares a Camilo Lourenço na Rádio
Observador.
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Foto: Melissa Vieira/Observador |
“A anterior direção da RTP,
dirigida pelo Paulo Dentinho e por quem estava com ele, fez-me saber que não
gostava de algumas coisas que eu dizia. O pior disto tudo é que nem
tiveram a coragem de me dizer diretamente. Os editores comunicaram-me
um dia que a direção tinha achado que não valia a pena continuar a comentar na
RTP”, diz em entrevista a João Miguel Tavares, no programa Artigo 38 da Rádio Observador.
Lourenço recorda o episódio
que remonta ao final de 2015, e para o qual nunca obteve “explicações”,
comparando ainda essa fase com a do atual Governo. “Não tenho a mais
pequena dúvida que nunca mais voltei à RTP por causa das minhas opiniões.
Até acho estranho a falta de coluna vertebral, porque do ponto de vista
político recordo-me que quando comecei a fazer mais comentários na RTP foi
quando o José Sócrates era primeiro-ministro. E não me lembro de haver
tanta interferência na RTP como passou a haver mais tarde. Digam o que
disserem, nota-se uma interferência política. Não digo que isto venha
do António Costa. Há diretores que são mais papistas que o papa”.
Sobre as críticas de que
costuma ser alvo, uma palavra especial para “os fofinhos que me
insultam por aí”: “Já não se lembram que o Cavaco me detestava. Só se
centraram no meu apoio ao governo da troika”.
Das velhas pressões aos
novos formatos digitais
O comentador, que esteve na
fundação do Diário Económico, faz ainda a revisão de mais de 30 anos de carreira
com uma passagem por quase todos os meios de comunicação — à exceção do
Expresso — e destaca um par de momentos especialmente críticos. “Perdi
o emprego duas vezes por pressões que têm a ver com interesses ligados aos
acionistas. Um na revista Valor, em 1994, por causa de histórias que
envolviam o grupo Espírito Santo e a Galp. Fiz uma capa a dizer “corrupção na
Galp”. O doutor Ricardo Salgado ligou muito aborrecido ao doutor Paes
do Amaral a dizer que lhe cortava o crédito se continuássemos a escrever aquilo. O
meu segundo caso foi o BPN, na revista Exame, em 2001″, descreve, sem ter
dúvidas de que “o Banco de Portugal protegeu Ricardo Salgado” — e mantendo a
posição de que Zeinal Bava era “um grande líder, com uma
inteligência emocional fora do comum, tirando a parte em que se deixou
seduzir por Salgado”.
Sobre o modelo de negócio do
espaço “A Cor do Dinheiro”, rubrica criada inicialmente em 1988 e mais tarde
transportada para o Jornal de Negócios e posteriormente ainda para a televisão,
diz conseguir “decidir a informação e fazer serviço público”, acusando ainda “a
felicidade de ter rendimentos que dão a possibilidade de não ser rico mas de
garantir a minha vida se ficar sem salário do jornalismo”. Descreve-o como um
projeto que, não tendo começado como um modelo de negócio, “está com
uma audiência tão grande que as agências já começam a telefonar a dizer que
podem fazer isto e aquilo”. Questionado sobre eventuais conflitos, confessa
que não tem carteira de jornalista “há muito tempo”, uma decisão tomada “quando
ainda trabalhava em redações”: “Não gosto de corporações”, justifica. Aponta
ainda alguns desafios colocados pelo mais recente contexto digital: “Uma parte
da classe jornalística, nomeadamente com nome e com marca, vai ter que arranjar
uma outra forma de obter rendimento, agora têm é que fazer declaração disso.”
A conversa não termina sem uma
passagem pelo clube do coração, o Sport Lisboa e Benfica, e uma viagem no tempo
para recordar o seu papel de porta-voz de Luís Vieira Vieira, quando este foi
candidato pela primeira vez à presidência do clube: “Ajudei Luís Filipe Viera a
chegar à presidência do Benfica. Convidou-me para ficar, mas em três meses
aprendi mais sobre futebol do que em toda a minha vida. Imagina o que vi. A
certa altura também percebi que o Luís Filipe Vieira não tinha a sua vida
empresarial muito clara e eu não quero nada estar ligado a essas coisas.”
Esta entrevista de 45 minutos
pode ser ouvida na íntegra, clicando aqui.
Artigo 38 (o artigo da
Constituição sobre a liberdade de imprensa) é o programa de entrevistas de João
Miguel Tavares na Rádio Observador e pretende colocar jornalistas influentes na
pele de entrevistados. É transmitido aos sábados depois das notícias das 13h00.
Repete às 22h00 e aos domingos às 18h00. Pode ouvir em 98.7 FM na Grande Lisboa
ou aqui no site do Observador.
Pode ainda aproveitar para
ouvir as três entrevistas anteriores nos links em baixo.
Título e Texto: Observador,
17-8-2019
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