Massa falida da Varig manda destruir
aeronave que foi usada pela US AIR FORCE na Guerra e foi pilotada pelo lendário
Howard Hughes
Nos autos do processo carta do MUSAL revela
falta de interesse e apontava alto custo para recuperação. Busca de
interessados foi parcial
Cláudio Magnavita
Em qualquer país do mundo o
que fizeram hoje na área industrial do Aeroporto do Galeão seria caso de
polícia. Um crime típico dos talibãs ou de outros povos insensíveis à história
e à preservação da memória. O caso fica ainda mais grave quando ocorre sob a
regência da própria justiça e é praticado por prepostos nomeados pelo poder
judiciário, mais precisamente a 1ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do
Rio.
Na tarde do dia 31 de janeiro
de 2020, por decisão dos gestores da massa falida da VARIG, alguns tratores e
uma escavadeira se aproximaram de uma das relíquias da memória da aviação
brasileira, o DC-3 PP-VBF, ostentando ainda as cores da Varig e começaram a
despedaçá-lo. Cada marretada jogava no lixo um pedaço da história, não apenas
da memória da aviação brasileira, mas da aviação mundial e principalmente a dos
Estados Unidos da América.
É a mesma aeronave que durante
trinta anos esteve no Aterro do Flamengo nas décadas de 70 e 80 e fez parte da
infância de muitas crianças que pela primeira vez puderam tocar em um avião e
despertar o amor pela aviação, como é o caso do jornalista Daniel Carneiro,
especializado em aviação: “Este avião faz parte da minha infância. Corta o
coração ver um fim tão triste”.
O avião despedaçado por uma
escavadeira, fez parte do esforço de guerra norte-americano, entregue em 1942 a
USA AF. Voou durante a Segunda Grande Guerra com o prefixo 42-24294. Após o conflito
foi usado pela Howard Hughes Tool Co com a matrícula civil NC68358, tendo sido
pilotado pelo excêntrico milionário americano Howard Hughes, imortalizado no
cinema no filme O AVIADOR, papel encarnado por Leonardo de Caprio. Hughes foi o
construtor do famoso avião Constellation e fundador da TWA.
Só este capítulo valeria a preservação
desta relíquia. A decisão da FLEX, braço de operação da massa falida da Varig,
que opera ainda os simuladores de voo na área industrial do Galeão, foi
realizada pela necessidade de devolver a área ocupada pela famosa aeronave,
transladada do aterro do Flamengo e novamente restaurado para uma praça em
frente a antiga unidade médica da Fundação Rubem Berta na área industrial do
aeroporto.
A decisão foi tomada depois de
uma análise de custos. Sairia mais barato pulverizar a aeronave ao invés de
buscar uma solução em respeito à história. Uma decisão burra, estúpida e típica
de um burocrata medíocre sentado em uma cadeira torta, em frente de um
computador obsoleto, mas sentindo-se poderoso pelo mandado outorgado pela Vara
Empresarial.
Consultada a Rio Galeão e a
TAP ME se disseram surpresas e negaram sua participação na decisão, colocando
todo o peso na gestão da massa falida da Varig.
O último voo do PP-VBF foi
entre Congonhas e o Santos Dumont em 18 de agosto de 1971, sendo transladado
para o centro de manutenção da Varig e restaurado.
Tiveram um mínimo de pudor em
colocar fitas adesivas na marca Varig ao iniciar o processo insano e
irreversível de destruição. No ano passado, o Governo alemão montou uma operação
de Guerra para transladar de Fortaleza um 737-200 que foi palco de um sequestro
de repercussão mundial em Porto Alegre, um derradeiro DC-3 hoje com as cores
da VARIG (e que foi da Vasp) que restaurado, virou a estrela de um memorial.
Não cabe aqui apelar apenas
pelo saudosismo de uma VARIG que hoje não existe mais. De uma empresa pioneira
engolida pelo enorme apetite de negócios dos camaradas que estavam no poder.
Este capítulo feriu o conceito de empresa de bandeira do Brasil até os dias de
hoje. Este crime maior é simbolizado hoje na impunidade de um crime cometido no
Galeão nos dias de hoje e que não pode ficar impune.
Não foi uma máquina de 78 anos
que foi destruída. Foi um grande pedaço da história mundial destruído, fica,
porém, uma dúvida, se pertencia à massa falida da Varig e se tinha um valor
histórico por que não foi a leilão? Será que irão computar como receita da
mesma os quilos de alumínios encontrados, ou nem isso? Fizeram isso sob coação
da Rio Galeão e da TAM ME?
O caso fica mais sério quando
se descobre que a massa falida tentou algumas soluções. A primeira foi a doação
ao Musal - Museu Aeroespacial. Um laudo do museu informa que a aeronave estava
com alto índice de corrosão e recusou. Várias tentativas foram feitas, até
porque parte da equipe é formada por "ex-variguianos".
A decisão do Wagner Bragança foi tomada após análise de custos. Para retirar o avião o valor seria superior a R$ 200 mil. Pressionada pela Rio Galeão, a TAP ME teria enviado correspondência aplicando uma multa diária.
A decisão do Wagner Bragança foi tomada após análise de custos. Para retirar o avião o valor seria superior a R$ 200 mil. Pressionada pela Rio Galeão, a TAP ME teria enviado correspondência aplicando uma multa diária.
O curioso é a solução ter
estado nas mãos dos próprios algozes. A Rio Galeão marcaria um tento
transladando aeronave para as suas dependências e a TAP poderia ter feito a
reforma do avião que foi pulverizada no pátio de uma empresa de manutenção. O
maior erro foi não avaliar a dimensão deste fato e a repercussão que passaria a
ter. Se era irreversível e não houve interessados a decisão deveria ser
compartilhada e não tomada entre quatro paredes, apesar de documentos terem
sido anexados aos autos da falência. Agora só resta chorar e esperar que este
circo de horrores não se repita.
Com a palavra o titular da
Primeira Vara Empresarial e Ministério Público!
Título, Imagens e Texto: Cláudio
Magnavita, editor do Correio da Manhã e jornalista especializado em aviação. 31-1-2020
Nota sobre a destruição do avião da VARIG no hangar do Galeão
ResponderExcluirTroca de ideias e opiniões, sobre AERUS/Defasagem Tarifária, acontecendo aqui:
ExcluirVarig/Aerus: para onde deve ir o dinheiro? (Parte V)
Um museu só existe com solidariedade, doações governamentais e públicas privadas. Para preservar a história tem que haver recursos.
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