Olavo de Carvalho
Um terremoto, uma guerra, uma
epidemia têm a virtude de sacudir hábitos longamente sedimentados. Mas mesmo
essas hecatombes têm de ser noticiadas, e seu efeito despertador pode então ser
controlado e reduzido a proporções inofensivas. A eficácia desse controle
depende menos de alguma ação de emergência que da solidez acumulada dos muros
de arrimo convencional.
No Brasil, esses muros são
talvez o caso de máxima durabilidade já constatado fora da Cortina de Ferro.
Os atentados de 11 de setembro
poderiam, de um só golpe, mudar a visão que os brasileiros têm do mundo, como
mudaram a dos americanos. Depois desses acontecimentos, não sobre muita gente
nos Estados Unidos que não ponha em dúvida tudo o que ouviu contra seu país
desde a década de 1960.
Diante da queda do WTC, é
difícil um americano adulto não se perguntar se seus ídolos de juventude, Jane
Fonda, Susan Sontag ou Noam Chomsky, não foram apenas traidores que ajudaram a
condenar o Vietnã à tirania e à miséria, enquanto os países vencidos pelos EUA
cresciam em riqueza e liberdade.
Mas o impacto dessa descoberta
não chegou até nós. Foi amortecido no caminho. Neste país, a mitologia
antiamericana dos anos 1960 resiste bravamente, revigorada não somente pela
vociferação repetitiva de lugares-comuns da época, vendidos como explicações
cabais dos fatos de hoje, mas pela completa exclusão das informações que
poderiam mudar o pano de fundo, o quadro básico de referência desde o qual são
interpretadas as novidades do dia.
Nunca, nunca saiu num jornal ou revista deste país qualquer notícia, por mais mínima que fosse, sobre a oposição feroz, geral e obstinada que os conservadores americanos movem ao FMI, à ONU e, enfim, às políticas globalistas.
Há mais de uma década nosso povo
é diariamente enganado quando os jornalistas o levam a acreditar que
globalismo, americanismo e conservadorismo estão de mãos dadas para oprimir o
pobre terceiro mundo.
Metade do eleitorado dos EUA
vê a Nova Ordem Mundial como um projeto socialista, anticristão e
antiamericano. Foi essa gente que, mal ou bem, escolheu George W. Bush. A turma
do globalismo, dos organismos internacionais, das ONGs que comem territórios e
poderes soberanos dos Estados nacionais, essa votou em peso em Al Gore, um
homem cuja família deveu sua prosperidade ao patrocínio de Armand Hammer,
megaempresário que a abertura dos Arquivos de Moscou revelou ser um agente
financeiro do Comintern.
Assim como essas, milhares de
outras informações básicas, de domínio público nos EUA e na Europa, não têm
chegado até nós. Mas bastariam essas, talvez, para mudar de um relance toda a
perspectiva com que o brasileiro vê o mundo. Bastariam essas notícias, talvez,
para estourar a barragem de clichês com que é mantido longe da realidade.
Por isso essas notícias não
saem. Por isso quem as conhece tem uma enorme dificuldade quando tenta mostrar
à luz delas os novos acontecimentos. Para persuadir o público, ele precisaria
remover todo um corpo de premissas e pressupostos sedimentado por décadas de
repetição na imprensa, nas cátedras, nas rodas de intelectuais bem-pensantes.
[Diário de uma caminhada] Reminiscências: «Jornalista», polícia político; «Redação», Tarrafal, Aljube, Peniche, Caxias; «Portugueses», torturados mentais.
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