quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

[Diário de uma caminhada] Reminiscências: «Jornalista», polícia político; «Redação», Tarrafal, Aljube, Peniche, Caxias; «Portugueses», torturados mentais. O sentimento de revolta no país dos carrascos


Gabriel Mithá Ribeiro 

Como não é possível deixar de criticar António Costa, o Partido Socialista (PS) e aliados (BE e PCP) de tão má que tem sido a sua ação, se depois em artigos de opinião ou no comentário político o opinante picar o ponto criticando André Ventura e o CHEGA (Trump e Bolsonaro estão a ficar fora de moda), a sua aceitação nas redações está garantida, na mesma medida em que os leitores vão perdendo interesse naquilo que esse opinante escreve ou diz, uma vez que se limita a reproduzir os dogmas do poder. 

Um segundo tipo de opinante consegue manter o interesse dos leitores ou ouvintes por preservar um certo respeito pela liberdade de pensamento, pelo pluralismo de ideias. É o que critica António Costa, o Partido Socialista (PS) e aliados (BE e PCP) sem assumir posições sobre André Ventura e o CHEGA, perspectiva que permite a expressão de ambivalências inerentes à condição humana e à complexidade do mundo. No entanto, como esta atitude legitima formalmente a democracia sem ameaçar os poderes vigentes pode perpetuar-se sem riscos por favorecer a eternização da atual casta governativa. 

Um terceiro tipo de opinante fornece a radiografia mental dos tempos que vivemos. É o que critica António Costa, o Partido Socialista (PS) e aliados (BE e PCP) e, em simultâneo, valoriza André Ventura e o CHEGA enquanto vias possíveis de renovação moral, cívica, política de uma sociedade encaminhada para o estado de falência por uma casta elitista apostada em perpetuar-se. Apenas neste caso os donos do poder sentem-se seriamente ameaçados, razão para a habitual polícia política de baixo perfil se transfigurar em força de intervenção rápida, agressiva, ostensiva, castradora, pidesca. Entre outros méritos, André Ventura está a forçar os viciados em torturar mentalmente os portugueses na calada das redações a terem de mostrar os dentes todos os dias enquanto, com grosseiro cinismo, acusam os seus alvos de discurso de ódio. 

Tais práticas são hoje ostensivas entre os jornalistas, a polícia política do regime inconsciente do submundo mental em que vive. Haverá gente honesta no meio, porém nada faz ou nada pode, vai dar ao mesmo, contra o pântano pútrido chamado imprensa. 

Só um tolo acredita na validade do argumento do desaparecimento da liberdade nas redações ser fruto de lógicas de sobrevivência financeira, como se o mal não perdurasse há décadas. Não vejo outra explicação que não seja as redações estarem dominadas por gente rasteira que sempre partilhou os lençóis do regime. A política prostituiu tudo, e a classe jornalística é a que mais vive do expediente. Um dia alguém vai ter de explicar aos jornalistas que a indigência moral, intelectual e cívica em que vegetam é filha do abandono ostensivo da neutralidade axiológica, o princípio da honestidade que, segundo Max Weber, significa nunca descartar a hipótese contrária à que se defende se aquela também for plausível. O atual jornalista-ativista vive do inverso, da distorção e do silenciamento dos ideais contrários aos seus e dos seus chefes. 

Estamos perante a classe profissional mais mal formada, mais atamancadamente homogénea que a sociedade portuguesa gerou nas décadas da democracia. E não foi a democracia que apodreceu, foi apenas o jornalismo. Não vão conseguir arrastar a dignidade da democracia na lama da imprensa, pelo menos enquanto o CHEGA existir. 

Na atualidade, não existem diferenças substantivas entre os jornais e, por seu lado, televisões e rádios limitam-se a amplificar o mesmo universo mental pútrido. Imagino o martírio do jornalista decente obrigado a sobreviver em tais meios para garantir o seu salário. 

Como em todas as ditaduras, o destino do opinante que ameaça o poder, o do terceiro tipo, é traçado pela polícia política que dirige as redações. O número de leitores, ouvintes ou espectadores cresce na mesma medida em que as suas opiniões deixam de ter destaque, passam para os fundos dos fundos das páginas dos jornais, no on-line para terceira ou quarta linha, para os espaços ou momentos quase invisíveis. As suas opiniões passam a ter larguíssimas semanas ou meses de intervalo de modo a quebrar cadeias sociais de renovação de ideias, valores, princípios. O opinante arrisca mesmo ser eliminado. 

Por muito povoado que o regime esteja de corruptos, incompetentes, inúteis, parasitas, idiotas as redações são a sua guarda pretoriana. A secção politicamente decisiva da imprensa, a dos espaços de opinião, ao mesmo tempo que é limpa dos ameaçadores acaba invadida por nulidades falantes ou escreventes sem densidade intelectual, sem nada de substantivo que resista ao desgaste do dia seguinte, sem experiência de vida pessoal ou profissional fora da casta. Tais espaços são também ocupados, vezes sem conta, por rostos que garantem bons contatos, convites pagos, influência, carreiras compensadoras, abonos extra a quem manda nas redações. 

É nesse contexto que a tradição secular dos censores recuperou o fôlego, mudando apenas o poiso institucional. Esteve na Igreja, passou para a Polícia Política, agora é a vez da Imprensa. Nenhuma dessas instituições censórias sentiu falta de legitimidade no seu ciclo excelso de poder. Há sempre demônios em forma de pensamento a esconjurar, há sempre quem desvie as mentes do povo do caminho traçado por quem manda, há sempre ideias inimigas dos santos ou revolucionários do regime ou das suas minorias protegidas. Garantir por todos os meios os dogmas do poder sempre assegurou carreiras profissionais bem-sucedidas, compensadoras, protegidas de riscos. Em Portugal, esses ciclos da relação entre o poder e o povo voltam sempre. 

Acontece que o controlo das mentes pelo poder tutelar é tanto mais eficaz quanto mais garantido, no quotidiano, pela própria Sociedade na sua autonomia, quando esta dispensa o Estado de sujar diretamente as mãos. O maoísmo nunca necessitou de uma polícia política formal. Até hoje não foi colocado em causa graças à devoção revolucionária dos chineses comuns cujo prémio é o de continuarem subjugados à sua querida ditadura comunista. 

Em Portugal, o atual controlo das redações pelo conluio gerado pelos jornalistas, por autodevoção ao regime, suplanta a eficácia repressiva do Estado no tempo da PIDE, uma vez que esta nunca se conseguiu imiscuir no quotidiano das gentes comuns. Subsidiados ou protegidos pelo poder, os atuais jornalistas estão bem mais próximos do Tribunal do Santo Ofício dada a força da crença religiosa estar à época emprenhada no quotidiano, tal como as notícias e os noticiários estão hoje embrenhados no quotidiano habitual. 

Para se compreender o poder censório ascendente comparativamente à II República (1926-1974), basta ter em conta que o pensamento comunista foi crescendo em dignidade social no tempo da PIDE, algo que jamais aconteceu com qualquer pensamento ou pensador fora da bitola esquerdista em mais de quarenta anos da atual democracia. Bem pelo contrário. O que sobra para os desalinhados, dentro e fora das instituições, é a ostracização, o silenciamento, a humilhação. A III República vai batendo recordes de virulência censória. 

Vamos descobrindo ser possível refinar a repressão mental imposta às sociedades mudando apenas o aspecto, conferindo-lhe um rosto sofisticado, ornamentado por palavras, sons, imagens, músicas escolhidas com primor. Atingimos o estádio repressivamente polido. Para ultrapassar a eficácia dos agentes da polícia política do Estado Novo e igualar ou ultrapassar os agentes dos autos-de-fé do tempo da Inquisição, afinal basta ser-se jornalista. Bem-vindos ao século XXI! 

Como escreveu Olavo de Carvalho, «O jornalismo, dizia Joseph Conrad no início do século XX, é uma coisa escrita por idiotas para ser lida por imbecis. Bons tempos, aqueles. Hoje é uma coisa escrita por fingidores compulsivos para ser lida por masoquistas que só respeitam quem lhes mente na cara» (Diário do Comércio, 17 de janeiro de 2011). É só acrescentar o banimento da busca genuína da verdade para tudo ficar muito claro. 

Jamais deixaremos aos nossos filhos e netos, a quem nos suceder, uma sociedade livre, justa e próspera enquanto tolerarmos a existência de carrascos. Que nenhum português vire a cara à dignidade desta luta. 

Título: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA!, 9-12-2020

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O que é para si o CHEGA? Não me deixe a falar sozinho!

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