sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

[Diário de uma caminhada] O que é para si o CHEGA? Não me deixe a falar sozinho!


Gabriel Mithá Ribeiro 

Quando olhamos as águas do mar e vemos a onda a flutuar a tentação é a de questionarmos porque é que flutua. Freud viu nessa atitude um vício na construção do conhecimento. Propôs que se começasse primeiro por flutuar na onda até ao momento em que perceberemos por que razões ela flutua. Daí que o psicanalista deixasse fluir o discurso dos pacientes em associação livre e mantivesse uma atenção flutuante para compreender a complexidade da condição humana. 

Os fenômenos sociais não são diferentes. A dificuldade de muitos em perceberem o CHEGA resulta do mesmo vício, especialmente óbvio nos que querem encarcerar André Ventura num fato pronto-a-vestir, nos que o acusam de ter mudado o que eles mesmos determinaram que ele tinha de ser; nos que exigem um programa do partido pronto, acabado, escrito na pedra para todo o sempre que nem uma Bíblia. Não fica difícil perceber a péssima qualidade intelectual da esmagadora maioria dos fazedores de opinião. 

Max Weber, sociólogo, permite confirmar isso mesmo. Este defendeu que quanto mais julgamos menos compreendemos, e vice-versa. Ou seja, no processo de construção de conhecimentos a inteligência é sinônima de compreensão e a ignorância de julgamento. 

O fenômeno CHEGA está a ser notável a vários títulos. Destaco o separar de águas entre uma casta letrada ignorantemente douta e um senso comum muitíssimo mais fiável. O último preserva a sapiência de esperar para ver e, progressivamente, vai confiando cada vez mais em André Ventura e no CHEGA. Um susto para o regime que mais deve ter congregado ignorantes letrados desde 1128, com Afonso Henriques.  

Face a tanto idiota, seria facílimo a um ou dois notáveis, a começar pelo líder, imporem dogmas definidores e programáticos dogmáticos, fechados, rígidos, à moda dos ideólogos esquerdistas ou de um comité central a determinarem o que é o CHEGA. É isso que os adversários desejam habituados à fast food da política. O seu azar é que André Ventura e o CHEGA têm resistido a tais engodos. Há uma onda que se vai definindo por si mesma. Assim tem de ser. 

Assumi uma das vice-presidências do CHEGA justamente para compreender e tentar racionalizar o fenômeno. Como ele está a instituir-se de baixo para cima, da Sociedade para o Partido, a missão é difícil. Ainda que falhe, para mim já é gratificante viver num momento histórico em que se está a inverter a tradição democrática portuguesa desde o período liberal (1820), agravada na I República (1910-1926) e na III República (1974…), a tradição dos partidos e movimentos políticos serem criados de cima para baixo, dos intelectuais ou das elites para o povo. 

O CHEGA criou o seu Gabinete de Estudos, entre outras razões, para ir percebendo sem histerismos o que ele mesmo é. Em jeito de apresentação de um projeto ainda em fase de implementação, venho solicitar um primeiro contributo da opinião pública para, em campo aberto, fazermos uma primeira tentativa de compreendermos o que é o CHEGA.  

CHEGA: a relação entre a Sociedade e a Política não será mais a mesma  

Tenho insistido que não é possível compreender e respeitar a plenitude da condição humana sem ter em conta a plenitude do pensamento humano. Isso obriga a compromissos permanentes entre, por um lado, o pensamento individual, a árvore do pensamento, o que resulta da produção intelectual de notáveis (filósofos, escritores, analistas, entre outros, e tenho publicado alguns excertos a propósito no site do CHEGA – e no Cão que fuma) e, por outro lado, o pensamento social, a floresta do pensamento, o gerado no quotidiano pelos indivíduos comuns à medida que se relacionam habitualmente uns com os outros nas famílias, escolas, universidades, empregos, espaços de lazer, conversas de rua, café, centros comerciais e, mais recentemente, nas redes sociais, entre outros. 

É a última dimensão do pensamento que precisa de ser captada, compreendida, respeitada. Esse é o grande desafio, uma das grandes novidades que está a abalar o regime vigente, os que imaginam o fim da democracia quando é justamente o contrário. Isso porque truncar uma das dimensões, o pensamento individual ou o pensamento social, é negar dignidade à plenitude da condição humana. 

Vivemos a ressaca da era da ditadura mental dos intelectuais, a casta que gerou uma crise profunda no conhecimento, na sociedade e na política por desprezar as pessoas comuns rotulando de populismo tudo quanto é pensamento e sentimento que não controlam. Essa casta elitista letrada nunca se apercebeu que o conhecimento, e sobretudo a sabedoria, só existem quando resultam de compromissos genuínos entre o abstrato, o que está nos livros, o universal, e o concreto, a vida vivida todos os dias. Todavia, contra a ditadura mental dos intelectuais não podemos cair no extremo oposto, o da não menos perversa ditadura do discurso da rua. 

Se não for capaz de viver permanentemente nesse equilíbrio, se não sobreviver nessa fronteira, o CHEGA dificilmente ampliará de modo significativo a força e a grandeza que já possui, únicas em Portugal. 

Um passo fundamental para vencermos o desafio é o de irmos aprendendo a refletir sobre nós mesmos enquanto coletivo, mesmo nos momentos em que criticamos os outros e sem receios do que os outros pensam de nós, até porque as críticas dos outros são o nosso tesouro, e eles não sabem o quanto lhes ficaremos a dever para a eternidade. Todos aqueles para quem o CHEGA suscita sentimentos, da afeição ao ódio, sobretudo os primeiros, devem ter em conta que ninguém sabe o que é se não amadurecer pensamentos sobre si mesmo. Se somos um coletivo, temos também de pensar coletivamente. 

Aprender a caminhar caminhando: um exercício

Desafio os leitores deste texto a um primeiro exercício coletivo público genuíno sobre o CHEGA. Ele dispensa intermediações de quem quer que seja. Todos são iguais a todos, ainda que o presidente do Partido deixe o seu comentário. 

Solicito a cada leitor que escreva uma ou duas ideias (ou mais) respondendo à questão: o que é para si o CHEGA?. Não ceda a nada a não ser à sua consciência. 

Sei que não estamos habituados a este tipo de desafios. Mas abriu-se uma possibilidade histórica raríssima que temos o dever de não desperdiçar se, de facto, queremos ser agentes de uma verdadeira mudança em Portugal e na Europa. Deixo um exemplo que, se pudesse, omitia: 

O CHEGA tem de rejeitar toda e qualquer utopia ou distopia de sociedade perfeita, e assumir que a realidade se constrói todos os dias nos equilíbrios do quotidiano, a partir da autorresponsabilidade de cada um. 

Como o Leitor reparou, a frase está em sentido normativo. Nesta fase, não importa tanto o que existiu ou existe, antes o que tem de ser ou o que tem de existir e que só o CHEGA pode garantir para passarmos a viver numa sociedade mais justa, mais livre, mais democrática, mais próspera. Claro que um dia teremos de fazer a terapia dos erros, mas isso habitualmente não se faz no momento do nascimento. 

Por favor, caro Leitor, agora é a sua vez. Escreva uma ou mais do que uma ideia: o que é para si o CHEGA? 

Faça como continuará a fazer com André Ventura, não me deixe a falar sozinho! 

Muito obrigado! 

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Responsável pelo Gabinete de Estudos do CHEGA!, 2-12-2020 

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