domingo, 6 de dezembro de 2020

[Diário de uma caminhada] Bardamerda para o racismo!


Gabriel Mithá Ribeiro 

A cor de pele que o destino me ofereceu permitir-me-ia acusar este mundo e o outro de racismo. Não bastava o mundo académico. Nunca tive espaço na imprensa portuguesa onde pudesse escrever com liberdade, sem autocensura, sem ser de forma espaçada, sem ser quase por favor e sem acabar escorraçado. E sempre por aqueles que garantem que não são racistas, nem de longe, e exímios defensores da liberdade. São critérios editorais. 

Dou-lhes razão. Não são racistas porque eu mesmo não acredito em alienações. A prova é óbvia: bastava que fosse um preto de esquerda e tudo estaria resolvido, ainda assim coisa raríssima na imprensa portuguesa, o que mais me faz doer a alma. Eles são bem piores do que isso. Estão muito abaixo de todos os racismos. São os intemporais assassinos da liberdade de pensamento, assassinos da condição humana naquilo que mais e melhor a define: a liberdade de pensar em fórmulas comunicáveis ao nosso semelhante. 

Desafio qualquer ser vivo a encontrar um texto meu sem ser fundamentado, justificado, argumentado, sem um mínimo padrão de qualidade. Sempre soube que tinha de compensar a minha cor de pele. Isso não é mau porque, entretanto, viciei-me na atitude de profundo respeito pela inteligência do leitor através das minhas crenças. A dureza da realidade fez-me descobrir que não chega. Nunca chega. Não é o que se quer. O que querem é continuar donos da alma dos que pensam livremente e uma pele colorida escapa à primeira, mas logo, logo dá muito mais nas vistas e convém ser travada. 

Além de livros habitualmente ignorados, até já provei o sabor amargo da censura ostensiva a um numa certa livraria progressista há cerca de um ano, e num país onde tudo é muito exíguo, onde nunca houve espaço para uma liberdade diferente da liberdade dos donos da liberdade. Chegará o dia em que as pessoas, incluindo as minorias, irão perceber o quanto são oprimidas, humilhadas pelos seus donos libertadores. 

Pela primeira vez na vida posso escrever sem limites, sem censuras, com liberdade, todos os dias num espaço público institucional: este é o quinquagésimo texto consecutivo numa página pública de uma instituição, o CHEGA! Espero que me permitam outros tantos textos. 

Chamem-me preto, mulato, mestiço ou monhé, tanto faz. Isto é Liberdade! Isto é sentir-me respeitado! Isto é o direito à dignidade de pensar e escrever o que acredito! Isto nunca me tinha acontecido em Portugal! Esta é a minha carta de alforria! Isto é o CHEGA! 

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, Vice-Presidente do CHEGA!, 3-12-2020 

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