Rodrigo Constantino
Após mais da metade do mandato, massacrado pela imprensa diariamente, em meio a uma pandemia em que o foi responsabilizado por cada óbito de forma absurda e injusta, o presidente Bolsonaro conseguiu arrastar uma multidão às ruas no dia 7 de setembro.
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Avenida Paulista, São Paulo, 7 de setembro de 2021, foto: Cristyan Costa/revista OESTE |
Juntando vários partidos de
peso, como PSDB e PDT, contando com a mobilização de grupos ativistas como o
MBL e o Vem Pra Rua, com ampla divulgação pela mídia, a oposição não foi capaz
de colocar uma mínima fração desse público em sua manifestação no dia 12.
O contraste é chocante pelo
fracasso deste ato frente ao sucesso do outro. Não obstante, como é a reação da
imprensa, da própria oposição? Podemos avaliar bem isso pelo editorial do
Estadão de hoje, este que já foi um jornal sério e respeitado. Para o Estadão,
a democracia não é uma foto, e em que pese o público bastante reduzido da
oposição, ao menos se viu muito político ali, o que o jornal considerou algo
positivo:
As manifestações de 12 de
setembro podem ter frustrado quem contava com um resultado imediato, pois o
caminho da democracia e da responsabilidade com o bem comum é longo, repleto de
percalços, dificuldades e necessários aprendizados. Mas há uma notícia
especialmente relevante. Esse caminho não está deserto. Pessoas de diferentes
correntes ideológicas decidiram trilhá-lo e estão convidando outros a trilharem
também.
A única conclusão a que
podemos chegar é que o fracasso subiu à cabeça da oposição! Como alguém pode
festejar um fiasco completo desses, só porque muitos caciques políticos estavam
presentes, sem qualquer adesão popular? No fundo, essa é a noção que essa turma
tem de democracia: um convescote de poderosos, sem a participação popular. Uma
democracia de gabinete, sem povo. Fernão Lara Mesquita, em seu blog Vespeiro, escreveu
sobre esse desprezo das elites pelo povo:
O estrondoso fiasco de domingo passado – de que o PT está tentando livrar-se desde que o pressentiu no estrondoso fiasco da sua prévia do Dia da Independência – veio para confirmar: o povo brasileiro não tem nada de bobo, apenas é tratado como tal impunemente em função da síndrome de imunodeficiência democrática crônica que lhe tem sido instilada à força nas veias e o mantem exposto a infecções oportunistas recorrentes por todo tipo de agente patológico da baixa política.
Este domingo provou que
ultrapassamos o marco da imunização de rebanho. Pode a imprensa-turba repetir à
exaustão os seus bordões importados ou domésticos e agredir os fatos ao vivo e
a cores – “O STF é o defensor do estado de direito”, “É Bolsonaro quem agride
o STF”, “A impossibilidade de auditar o sistema eleitoral é a prova de que
nunca houve fraude”, “Foi o congresso quem decidiu soberanamente contra a
pequena minoria que desconfia da máquina de votar”, “A economia está
fracassando porque Paulo Guedes não faz reformas”, “Havia 125 mil pessoas na
Paulista em 7 de setembro” e por aí afora – que ninguém mais lhe dá
ouvidos.
Para Fernão, "O que
explica o bolsonarismo passado, presente e futuro é essa desonestidade assumida
e explícita do antibolsonarismo". E eis o ponto central: o que afastou o
povo do evento da "terceira via" foi sua escancarada hipocrisia, seu
oportunismo, suas narrativas falsas. Críticas construtivas são sempre
necessárias, e o governo tem vários defeitos. Mas a postura dessa turma exala
desonestidade.
Para J.R. Guzzo, o fiasco do
último domingo mostra que quem comanda as massas é Bolsonaro. Para o
experimente jornalista, "Aconteceu o pior: os organizadores chamaram o
povo, e o povo não apareceu. O resultado é que conseguiram exatamente o
contrário do que pretendiam. O inimigo, que deveria ser enfraquecido, saiu mais
forte do que estava". E a comparação com a manifestação patriótica do dia
7 piora ainda mais o quadro da oposição:
Em outra ocasião, o
fracasso seria apenas um fracasso. Vindo logo depois de Bolsonaro ter enchido
as ruas com as maiores manifestações desde as “Diretas Já” ou o “Fora Dilma” de
2016, foi um desastre com perda total. A culpa por isso é de um dos mais velhos
e resistentes vícios da política brasileira: os donos das manifestações acham
que são eles, e não os manifestantes, que têm o poder de lotar a praça.
Dá nisso: se o povo não quer ir, podem ficar convocando a vida inteira que não
vai acontecer nada.
Guzzo conclui:
“Gado” inconsciente,
irrelevante e irresponsável, diz a oposição. É um equívoco fundamental. O que
os comandantes da guerra contra o presidente não percebem é que o
“antibolsonarismo” não é, nem vai ser, uma causa popular no Brasil.
Enquanto não enxergarem essa
evidência, continuarão a sonhar com as “pesquisas de opinião” que garantem que
a popularidade de Bolsonaro “nunca esteve tão baixa” — justo no momento que
fotos, vídeos e o testemunho dos participantes mostra as ruas tomadas por seus
aliados.
A divisão nunca foi tão clara:
de um lado, a elite cosmopolita "progressista" que sonha com uma
democracia de gabinete, sem a participação do povo, por quem no fundo essa
turma nutre enorme preconceito; do outro lado, aqueles que rejeitam essa
arrogância, o autoritarismo, os esquemas dos velhos donos do poder. No
convescote da esquerda há muita conversa de bastidor, muitos acertos pouco
republicanos, bastante articulação golpista para derrubar Bolsonaro. Só não tem
uma coisa: povo!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 14-9-2021, 10h52
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