terça-feira, 21 de dezembro de 2021

[Estórias da Aviação] A chegada do Jumbo e o bullying finito


José Manuel

Finalmente, chegamos a 1981 com a chegada à VARIG do rei dos céus, o cabeçudo Boeing -747, mais conhecido pelo apelido de Jumbo. Para os funcionários da empresa, e em especial, os tripulantes, foi uma glória essa nova aeronave na vida de todos.

Com ele, fomos catapultados ao "crème de la crème" ao nível mundial, competindo apenas com a Lufthansa, a British Airways, a Air France, e a gigante Pan Am, empresas de bandeira do chamado primeiro mundo.

O Brasil se transformava em líder absoluto na América latina e quinto no ranking da aviação mundial.

Que contraste com os dias de hoje, chega a dar um nó na garganta a quem viveu aqueles momentos de glória e glamour na aviação. Ao que tudo indica somos seres mutantes, de humanos a caranguejos, andando para trás. É a única explicação plausível neste Brasil varonil.

Eu, que já tinha voado por três anos o maravilhoso B-727, para mim o Cadillac dos céus, o B-707, flecha ligeira, depois o gordão DC-10, agora iria iniciar um novo ciclo da minha vida de aeronauta, num avião espetacular, o King of the Skies.

E isso aconteceu de uma maneira interessante para nós e uma “lufada de sorte" para a VARIG.

A Boeing havia recebido um pedido de três aeronaves 747/200 da Lybian Arab Airlines, e já estava com dois prontos quando o governante líbio, Muammar Gaddafi, em agosto de 1980, ocasionou um incidente no golfo de Sidra, ordenando que um Sukhoi líbio atirasse contra uma aeronave americana em exercício naquela área, sendo o avião líbio posteriormente abatido. Assim, entraram numa guerra diplomática com os Estados Unidos.

Com esse conflito, um embargo comercial foi imposto à Líbia, que vetou a entrega dos três B-747/200 àquele país após agosto de 1980. Com dois 747/200 prontos e o terceiro na linha final de montagem, a Boeing os ofereceu à VARIG com a vantagem de entrega imediata.

Desta forma, em 9 de fevereiro de 1981, os dois primeiros jumbos brasileiros, o PP-VNA e o PP-VNB, chegaram quase juntos ao Rio, e o terceiro, PP-VNC, foi entregue no mês seguinte.

Os três jumbos recebidos eram a versão "kombi", ou seja, possuíam um compartimento de carga e uma porta adequada na fuselagem traseira esquerda. A capacidade desse último compartimento era de cinquenta toneladas de carga.

Era um avião espetacular, e nós tripulantes, nos sentíamos em casa, tal era o seu espaço confortável, tanto de áreas de serviço (galleys), como para passageiros. Tinham um upper deck limitado com primeira classe de doze passageiros e um main deck normal também em configuração primeira classe.

Afora isso, tudo naquela aeronave era grande e confortável, desde as galleys aos espaçosos toaletes, passando pela larga fuselagem que resultava em corredores espaçosos.

Diferentemente do gordão DC-10, era uma aeronave intensamente estável e, pessoalmente, nos anos que o voei e foram muitos, nunca senti uma turbulência sequer, tal a sua estabilidade.

Algum tempo depois chegaram os tipos 300, PP-VNH e PP-VNI, com o upper deck alongado e também configuração kombi.

Depois, os 300-B com configuração full pax e, finalmente, os maravilhosos tipo 400, com tudo o que havia de moderno em suas configurações técnicas, tanto de Cockpit como de serviço, inclusive um crew sleeping room com seis camas e uma poltrona reversível, no segunda andar na cauda, com acesso por escada.

Sua capacidade era de quatrocentos e trinta e oito passageiros, a maior de todas as doze aeronaves. Se o serviço de bordo já era bom em aeronaves anteriores, ele se superou com a chegada dos jumbos, ganhando prêmios internacionais e sendo considerado um dos melhores, se não o melhor do mundo.

Mas e o bullying?

Bem, pouco tempo após a chegada dos primeiros Jumbos, houve uma reunião de diretoria, superintendência e escala, porque o nosso diretor queria obter de nós tripulantes de serviço, subsídios sobre a operação de atendimento e generalidades do avião.  Então, foram feitas perguntas a cada um dos presentes, se todos estavam satisfeitos em voar o equipamento e se tinham alguma observação a fazer. Quando chegou a minha vez, relatei exatamente o que aqui está escrito.

Apenas pedi um aparte e comentei que gostaria de saber o porquê de apesar de ser bilíngue e comissionado nos idiomas inglês e italiano, não ia a Nova Iorque e Roma havia três anos, com as escalas na mão para o provar.

A cada escala publicada os voos realmente estavam lá publicados, mas sempre precedidos de uma prontidão. Então, no dia anterior ia parar na África do Sul, México ou Buenos Aires, perdendo assim o meu voo original.

Nesse momento, acabaram dez anos de bullying profissional, o que certamente me prejudicou bastante.

Depois disso, minha vida profissional ficou um paraíso, escala fixa com minha esposa, a Comissária Maria Irene, todos os pedidos atendidos e livre para voar para onde e quando desejasse.

Título e Texto: José Manuel, dezembro de 2021 

P.S.: E o Plínio? 
Temos sempre uma carta na manga. Apenas é preciso saber usá-la no momento certo. A última vez que o vi, foi no catering, numa mesa, separando documentos.

Anteriores: 
O gordão de nariz em pé 
A primeira greve de fome em 2013 
Como entrei na Varig e os meus amigos inesquecíveis 
Os quatro motores pararam de funcionar em pleno voo! 
A quadrilha no hangar 
Tenerife, O MAIOR acidente aéreo de todos os TEMPOS 
AF 447 - A história do ACIDENTE que MUDOU a aviação comercial 
Voo Varig 967 – Tóquio/Los Angeles, 30 de janeiro de 1979 

2 comentários:

  1. iGNORAVA VOCÊ, FAMOSÃO DA aCVAR TAMBÉM SOFRENDO NAS MÃOS DOS CONTRÁRIOS DA vARIG, GENTE QUE SÓ EXISTIU POR LÁ PWRA ATRASAR A EMPRESA. Fui um desses prejudicados desde que lá cheguei em 1970 vindo da Cruzeiro do Sul a convite da Varig, era dito queridão, havia os que por mim faziam gentilezes, mas por trás os venenosos Judas tramavam e envenenavam meus bons caminhos. Acabei saturado e pedindo aposentadoria dois anos antes do tempo limitado. Mas venci afinal. Comissário Curvello, com muita honra.

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  2. Vou comentar fora da casinha.
    Ficar velho é uma merdamas não queremos a segunda opção.
    Deveríamos ficar mais tolerantes, pois a solidão nos chega devagarito mas chega.
    Eu me neguei a ir no jantar de despedida do comandante Renê Hanquet por usa fam de estupidez. Porém achei um amigo sensacional na aposentadoria, outro que era uma pessoa bondosa era o Maraschin, bebemos muitas cervejas na aposentadoria.
    Eram mas não foram, a tolerância os atingiu na velhice.
    A solidão nos torna tolerantes.Eu aceitei o PDV no ano 2000, tinha 49 anos e me aposenytei pelo AERUS com 70% no dia de meu aniversário de 50 anos, 1/03/2001.
    Meus motivos foram ficar mais tempo em casa com a família e permitir que F/Es mais jovens continuassem voando pois a posição estva em extinção.
    Só tenho uma mágoa na minha história dentre da VARIG os cargos erma por indicação nunca por mérito. Muitos incompetentes venceram nós é que tínhamos os amigos errados.
    FUI

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