Os casos dos esportistas Aaron Rodgers e Novak Djokovic revelam um pouco da loucura criada por fanáticos pela vacinação
Ana Paula Henkel
Há algumas semanas, escrevi aqui em Oeste um artigo sobre algumas vozes da liberdade que despertaram dentro da NBA contra a obrigatoriedade da vacinação contra a covid. Jonathan Isaac, jogador do Orlando Magic, emergiu como um convincente defensor dos sagrados princípios da liberdade, do bom senso e da decência cívica tão presentes no DNA da América.
Novak Djokovic |
Isaac se
levantou contra o passaporte vacinal obrigatório, como uma voz da razão contra
a mídia e o establishment, que desprezam e rotulam os não
vacinados como anticientíficos. E outros jogadores da liga de basquete
profissional dos EUA, como Draymond Green, do Golden State Warriors, e Kyrie
Irving, do Brooklyn Nets, também decidiram levantar a voz. Seguiram o movimento
contra o linchamento virtual de quem não sucumbe às turbas ideológicas que
querem silenciar aqueles que ousam questionar o sistema e suas marionetes.
Há poucas semanas, o movimento
tomou jogadores da NFL, a liga profissional de futebol americano, e revelou o
“capitão desse time”: o quarterback do Green Bay Packers,
Aaron Rodgers. Rodgers contraiu a covid em outubro do ano passado e, em
novembro, durante uma coletiva que segue a cartilha autoritária de
organizações, políticos tiranos e grande parte da imprensa, ele foi questionado
por jornalistas se havia se vacinado. Aaron disse que “já estava imunizado”,
referindo-se à imunidade natural de quem passou pela doença. Foi cancelado por
nove entre dez veículos de imprensa.
Linchamento virtual
Em uma recente entrevista, Rodgers criticou a mídia por inflar o linchamento virtual de seu nome. Fez questão de dizer que ficaria feliz em detalhar suas ideias se alguém lhe pedisse para explicar o que ele quis dizer quando falou que estava imunizado. Ele então acrescentou que era alérgico a alguns dos ingredientes das vacinas Pfizer e Moderna e que optou por não tomar a vacina da Johnson devido a alguns de seus efeitos colaterais: “Eu não sou um antivacina, nem terraplanista… Eu tenho uma alergia a um ingrediente que está nas vacinas de mRNA. Encontrei um protocolo de imunização de longo prazo para me proteger e estou muito orgulhoso da pesquisa que fiz sobre nisso”.
Rodgers também citou
preocupações sobre o potencial de se tornar infértil com as vacinas, como
alguns estudos preliminares e ainda em andamento apontam. Diante do contínuo
bombardeio e do linchamento virtual, principalmente depois de suas declarações
de que havia se tratado com ivermectina, um dos melhores quarterbacks da
história mostrou a coragem que falta a tantos homens e mulheres hoje em dia e
disparou o que pode ser a síntese dos últimos dois anos: “Se a ciência não pode
ser questionada, então não é ciência mais, é propaganda”.
Campos de isolamento
O esporte esculpe a coragem
como poucos caminhos. E nesta semana, outro personagem esportivo mostrou que
entende a máxima aristotélica de que a coragem é a virtude que vem antes de
todas as outras. O sérvio Novak Djokovic construiu uma carreira indiscutível como um dos maiores
jogadores de tênis de todos os tempos — um dínamo resiliente que possui
recordes de vitórias ao longo da vida sobre Roger Federer e Rafael Nadal, e que
permanece com esses dois jogadores como os únicos homens a vencer 20 grandes
torneios de títulos individuais. Caráter forjado no testemunho de uma guerra,
Djokovic demonstrou nesta semana uma perseverança além de suas capacidades
atléticas.
Na última semana, a notícia
que correu o mundo esportivo envolveu o tenista e o Aberto da Austrália de
2022, um torneio que o sérvio, de 34 anos, venceu no ano passado. Presumia-se
que ele começaria a jogar no final deste mês. Mas os oficiais do Aberto o
informaram que ele havia recebido uma isenção vacinal para jogar o torneio, que
pedia a apresentação de uma prova da picada.
Com a isenção aceita pelos
oficiais do campeonato, Djokovic embarcou para a Austrália. Porém, ter
permissão para jogar o torneio foi uma coisa. Ter permissão para cruzar a
fronteira australiana foi, aparentemente, outra. A notícia da isenção de
Djokovic irritou autoridades australianas, país que enfrenta restrições
rígidas, como exigências de vacinas para entrar no país, campos de total
isolamento para quem testa positivo para a doença e monitoramento geográfico
dos cidadãos através do celular.
Enquanto Djokovic voava para o
continente, os líderes políticos australianos se comprometeram a examinar o
assunto. Na quarta-feira, a entrada de Djokovic na Austrália foi barrada no
Aeroporto de Melbourne, e seu visto, cancelado. Os representantes do tenista,
que acreditam que o jogador está sendo tolhido por motivos políticos, apelaram
imediatamente para os tribunais superiores. Mas, até o momento, o atual campeão
do Aberto da Austrália está confinado em um quarto de hotel simples para
exilados e refugiados. Nesse quarto, ele permanecerá até a audiência sobre seu
recurso de cancelamento do visto, que deve ocorrer na segunda-feira. Policiais
vigiam o campeão 24 horas por dia.
Orgulho do mundo livre
Djokovic não é o único cético
em relação à vacina. Segundo Associação de Tênis Profissional (ATP), apenas 65%
dos tenistas teriam completado o ciclo total de vacinação. Nomes como Daniil
Medvedev, número 2 do mundo, e Stefanos Tsitsipas, número 4, também pensam como
Djokovic e não estariam seguros sobre a substância que ainda está em
desenvolvimento. Uma fonte da Federação Australiana de Tênis chegou a afirmar
que Djokovic havia sido alvo das autoridades australianas por causa de seu
perfil influenciador nas redes sociais e de seus incômodos questionamentos. A
fonte também afirma que outros jogadores já haviam entrado na Austrália com a
mesma isenção que o sérvio apresentou.
Você pode ser preso hoje ou
amanhã, mas a verdade sempre encontra seu caminho
A decisão das autoridades
australianas de cancelar o visto de Djokovic atraiu a ira do presidente sérvio,
Aleksandar Vucic. Ele postou no Instagram, após falar com Djokovic por
telefone: “Eu disse a nosso Novak que toda a Sérvia está com ele e que nossas
autoridades estão fazendo de tudo para que a perseguição ao melhor jogador de
tênis do mundo termine imediatamente. De acordo com todas as normas do Direito
internacional público, a Sérvia lutará por Novak Djokovic, pela justiça e pela
verdade”, afirmou o líder sérvio.
Srdjan Djokovic, pai do
tenista, quebrou o silêncio na última quinta-feira e disse que o “filho está em
um cativeiro nesta noite, mas que nunca esteve tão livre”. Srdjan também
declarou que a decisão do governo australiano é uma afronta aos sérvios: “Somos
um povo europeu orgulhoso. Ao longo da história, nunca atacamos ninguém, apenas
nos defendemos. É isso que Novak, o orgulho do mundo livre, está fazendo agora
com seu comportamento. Você pode ser preso hoje ou amanhã, mas a verdade sempre
encontra seu caminho. Novak luta pela igualdade de todas as pessoas do planeta,
não importa a que Deus orem nem quanto dinheiro tenham. O mundo rico pode até
não permitir que meu filho continue jogando tênis, mas vai revelar sua
verdadeira face, e um jogo muito mais sério terá início. De um lado, haverá
membros gananciosos e arrogantes da oligarquia mundial, e, de outro, um mundo
libertário e orgulhoso que ainda acredita na justiça e na verdade”.
Cerceamento proposital das
liberdades
Djokovic, Isaac, Irving e
Rodgers não são atletas comuns. Suas carreiras mostram isso. Mas seus espíritos
vão além e fazem questão de mostrar no que acreditam, fazem questão de levar
seus ideais adiante até o fim. Isso é, na verdade, a grande espinha dorsal do
esporte sério. Um de seus pilares genéticos. Não importa quão feroz seja a
oposição a seus ideais, eles podem ir além de conquistas esportivas. A escolha
de defender uma decisão até o fim, baseada em princípios honrosos que lapidaram
os pilares da civilização ocidental, parece estar assumindo contornos de uma
guerra política contra a narrativa única, ignorante e intolerante que nos foi
oferecida até agora.
São tantos os desmandos
perpetrados diariamente por aqueles que deveriam estar zelando por esses pilares
da liberdade no Brasil e no mundo. Os tiranos e homens envoltos com o manto do
mal da História não nasceram do dia para a noite. Eles se alimentaram e
cresceram do apoio de insanos e néscios que foram jogados em suas covas. No
entanto, eles só se fortificaram de maneira sólida através do silêncio de
muitos que poderiam ter exposto suas atrocidades.
Há um filme
produzido em 2020, The Courier, que retrata a história real de
um empresário britânico, Greville Wynne, que ajudou o MI6, a agência britânica
de Inteligência, a penetrar no programa nuclear soviético durante a Guerra
Fria. Wynne e sua fonte no governo soviético, Oleg Penkovsky, forneceram aos
americanos informações cruciais que encerrariam a crise dos mísseis cubanos na
administração de John F. Kennedy na Casa Branca.
Em uma cena rápida, porém de
grande preciosidade, Wynne e Penkovsky conversam acerca da excepcionalidade do
que estão dispostos fazer: avisar os americanos sobre os detalhes de todo o
esquema dos mísseis soviéticos em Cuba. Sentados à mesa em um falso almoço de
negócios, eles conversam sobre os grandes riscos do trabalho de espionagem e a
esperança de evitar uma possível tragédia nuclear. Penkovsky, então, diz ao
britânico: “Talvez sejamos apenas duas pessoas. Mas é assim que as coisas
mudam”.
A pandemia histórica que
vivemos não trouxe apenas mortes, pânico e muita desinformação ao árido terreno
do desconhecido. Trouxe também o cerceamento proposital de liberdades cruciais
em virtude do controle social e o enforcamento de direitos individuais
invioláveis protegidos por leis. Em tempos de pura escassez de líderes mundiais
inspiradores, é preciso resgatar os bravos exemplos não apenas de liderança,
mas de resiliência, estratégia e inteligência emocional à nossa volta.
Djokovic, Isaac, Irving e
Rodgers já são mais do que duas pessoas. O que estamos esperando?
Título e Texto: Ana Paula
Henkel, revista Oeste, 9-1-2022, 16h21
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