Henrique Pereira dos Santos
Isto é uma fotografia do debate entre Costa e Rio, no momento em que Costa, para demonstrar que disse ao eleitorado que iria fazer a geringonça, mostra a capa do Expresso anterior às eleições.
Costa sabe que esta capa não o
cita a ele (mas a fontes anônimas), sabe que este título é da responsabilidade
do jornal e dos jornalistas, e sabe perfeitamente que em lado nenhum disse,
publicamente, que se perdesse, iria fazer a geringonça.
Aliás, mesmo depois das
eleições andou numas reuniões com a PAF das quais saía sempre a dizer que
Passos Coelho não apresentava propostas nenhumas a que pudesse dar resposta
para apoiar um governo da coligação que ganhou as eleições.
Ontem, no debate, disse
claramente que entendia que se perdesse era porque o eleitorado fazia uma
leitura negativa da sua atuação, e, portanto, ir-se-ia embora, embora não tenha
explicado por que razão esse raciocínio não tinha sido válido em 2015.
Tudo isto define bem Costa
(mais até que a mentira de dizer que Neeleman faliu em 2020 e fechou as suas
empresas, como teria fechado a TAP se o governo não a tivesse nacionalizado
outra vez), mas não é Costa que me interessa neste post.
Esta capa do Expresso resultou
de uma boleia que Costa deu a uma jornalista do Expresso durante a campanha, em
que lhe disse que faria a geringonça, lhe disse que se quisesse podia publicar
essa informação, mas que ele, Costa, nunca a confirmaria.
Isto é uma forma, feia, mas
legítima, de Costa condicionar jornalistas, dando um exclusivo sumarento, em
troca da não revelação da fonte.
O problema é quando jornalistas e jornais como o Expresso aceitam quebrar as regras da sua profissão, a citação de fontes anónimas sem ser por razões plausíveis de segurança e risco para a fonte, regras essas que existem exatamente para limitar a capacidade de fontes interessadas plantarem informação que lhes interessa, sem assumir responsabilidades por isso.
Esta é a primeira imagem
desagradável de nós que resulta da fotografia que está no princípio do post:
uma imprensa que se deixa encadear pela necessidade de publicar o que ninguém
publica, acabando a ser manipulada por um político experiente no assunto.
No entanto, o mais
desagradável não é essa primeira imagem de nós, enquanto sociedade, o mais
desagradável é que tudo isto é do domínio público e, mesmo assim, Costa
continua a poder exibir esta capa de jornal como prova de que sempre disse ao
eleitorado que iria fazer a geringonça, como se a simples necessidade de
recorrer a esta prova não fosse a demonstração de que de facto, na campanha,
não disse o que iria fazer se perdesse as eleições, mas a esquerda tivesse
maioria no parlamento.
Somos nós que apreciamos mais
a "habilidade" de Costa dá mostras, que o que significa o facto de
uma pessoa mentir ao seu eleitorado (não a mim, que não votei nele, mas aos
outros, aos que votaram nele) com o objetivo de não o assustar, para ter
oportunidade e tempo para fazer passar a ideia de um modelo de governo que
nunca quis apresentar ao eleitorado porque suspeitava que isso prejudicaria a
votação - em termos mais substanciais, porque tinha a percepção de que não era
isso em que o eleitorado votaria.
Costa é o que é, mas o que é
verdadeiramente deprimente é nós sermos o que somos.
Título, Imagem e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
14-1-2022
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