terça-feira, 9 de agosto de 2022

[Aparecido rasga o verbo] Incontestável como um pássaro embriagado da própria gaiola

Aparecido Raimundo de Souza

OS AMIGOS DE TODOS
os finais de semana se encontram no bar do Leleco. O assunto entre a turma dos treze rapazes que trabalham na fábrica de móveis, não outro, senão mulheres. Logo surge a ideia da “posição preferida” de cada um na hora do “pega pra capar” e, a partir dela, o caminho para o relax total fazendo com que o sexo atinja o clímax e o casal se sinta realmente realizado. O tema trazido à baila é a receita perfeita para que os ânimos atinjam os níveis mais altos da euforia desenfreada. O Bebeto da seção de montagem será o encarregado—mediador de mandar a indagação e os partícipes se divertirem com as respostas em torno de um assunto que, acima de tudo, será bastante picante por estar pululando convulsivamente na cabeça de todos:

— Fala aí, mano Buzato — inicia a rodada o Bebeto. Conta para nós: qual a sua posição preferida?
— Sem dúvida alguma, papai e mamãe...
Bebeto passa para o segundo, já emendando declaradamente a sua. Buzato, meu brother, você empatou comigo. Perco o chão.
Sem demolir com o pique da contenda, o próximo da lista é o Ozório:
— E a sua, companheiro Ozório?
— Por favor, não riam. A do cachorrinho.
— Diga ai, amigo Valdez?
— Sou das antigas. Prefiro a posição do guarda—costas.
— Interessante — observa o Bebeto. E a sua, Chicão?
— Bebeto, eu amo incondicionalmente o frango assado. Meu corpo arde em chamas, meu coração delira... chega a querer sair do peito...
— Boa, boa —, aplaude o Bebeto, com entusiasmo crescente. Sua vez, Marco Antônio?
— Hoje, em face da minha idade, me contento com um saudoso “tanto faz para quem eu tanto fiz bem”.

Bebeto finge uma carranca ensaiada:
— Não enrola, engraçadinho. Desembucha.
— Está legal. Beijo grego.
— Ananias, sua vez de cantar a pedra.
— Sentada no colo, vulgarmente conhecida como “encaixada”.
— Realmente uma das melhores. Eu diria que é perfeita —, aplaude o Bebeto com um sorriso largo. Dudu?
O Dudu, um dos motoristas não perde tempo:
— A da colher, ou “de ladinho”.
— Sua vez, Alcebíades.
— Bigorna.

— Manoel, queremos ouvir qual a sua posição enlouquecedora.
— A da bailarina travessa...
Todos caem em estrondosa gargalhada:
— Zoroastro, manda o chute...
— Oferenda. Toco às nuvens, cambada. Viajo na maionese.
— Pedro Paulo, por favor, nos faça as honras:
— Canguru perneta. Nada se compara... lembram do Caco Antibes e da Magda, do Sai de Baixo? Pois então!

Em meio a rodada, falta o posicionamento do último dos moicanos. O Zaqueu. Zaqueu é o encarregado da limpeza. Um sujeito extremamente legal, amigo de todos, pau pra toda obra. Contudo, completamente aéreo, desligado do burburinho ao seu derredor. Vive, o infeliz, no mundo da lua. Precisa o Bebeto e os demais se unirem e chacoalharem a sua cadeira, quase a ponto de o derrubarem ao chão para que volte à realidade. Renovam a sua cerveja antes que o jovem declare o veredito esperado:
— Zaqueu, você acabou ficando pra sobremesa. Diga para todos nós, seus fiéis amigos: qual a sua posição preferida, ou seja, aquela adoidada que lhe deixa vendo estrelas cadentes em pleno meio dia e delirando feito um garoto adolescente?

Sem noção, alheio ao bate papo do grupo e, pior, desatento ao assunto que lhe é perguntado, Zaqueu não pensa duas vezes:
— Para mim, aquela em pé no caixa eletrônico retirando dinheiro.

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Jundiaí, interior de São Paulo. 9-8-2022

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