sexta-feira, 6 de julho de 2012

[Varig/Aerus] Além do discurso

José Carlos Bolognese

Foto: AD
Prezado Deputado Rubens Bueno,
Obrigado pelo seu pronunciamento na Câmara Federal nesta terça-feira, 3 de julho. E não menos obrigado por ser um dos (poucos) parlamentares que, a exemplo dos senadores Álvaro Dias, Ana Amélia e Paulo Paim, ainda se lembram que a Varig existiu, que o Brasil muito ganhou com ela e que a herança deixada aos seus milhares de trabalhadores foi uma herança maldita. Obrigado também por lembrar-se dos aposentados... bem... dos que ainda estão vivos e querem assim continuar.
Mas, sendo eu um desses (ainda) sobreviventes, com seis anos de calote nas minhas costas, como recompensa pelos vinte em que contribuí para o Aerus e assumindo todas as consequências de um delito que não cometi, não poderia deixar de manifestar o meu ceticismo por mais um encontro, dessas dezenas que tivemos notícia desde 2006 e que até hoje não deram em nada. Talvez estejamos diante de mais uma dessas... “Photo Opportunities”, como a que inclui desta vez a “Barbie do Planalto”. Diante do que estou sofrendo – e não só eu, mas milhares de colegas – há uma distância no tempo que já se iguala a um e meio mandatos presidenciais, me sinto no direito de perguntar:
Quantas viagens a Brasília precisam ainda fazer a Sra. Graziella e o Sr. Klafke para que eu (nós) possa visualizar uma saída desse inferno? Quantas sessões de fotos ainda estão faltando naquelas salas suntuosas há tão pouco tempo tão (mal) ocupadas pela quadrilha do mensalão?
Eu assisti ao vídeo do seu discurso. E, se de um lado me sentia confortado por suas palavras, não pude deixar de sentir uma certa vergonha – que a mim não cabe – pela irreverência que rolava no ambiente. Em flagrante desrespeito ao senhor e a nós variguianos, em se tratando do que... se tratava! Conversas em todas as direções, celulares tocando, gente tuitando e por aí vai. Tudo, menos atenção ao discurso e à gravidade do assunto.
O porquê dessa referência é a metáfora que nela identifico. É assim com esse descaso e descompromisso que somos tratados; os trabalhadores como meros produtores de riqueza para ser esbanjada irresponsavelmente e os aposentados como peças descartáveis, simples estorvos a serem esquecidos assim que deixam de produzir.
Talvez a única utilidade que a gente desse governo possa ainda achar em nós aposentados, seja a de podermos dizer a eles como é o inferno – enquanto eles não vão pra lá... como acreditamos! O "know-how" nós já temos!
Obrigado mais uma vez e me perdoe pela amargura do tom. Mas não há lugar para outro sentimento, senhor deputado. Se falasse de outro modo estaria sendo apenas hipócrita, um mal que ainda não me acomete depois de toda essa injustiça.
Cordialmente,
Título e Texto: José Carlos Bolognese, Comissário de voo aposentado, Varig/Aerus 
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