José Carlos Bolognese

Nem todas as oportunidades
quando se apresentam, podem ser aproveitadas. As poucas que tivemos nesses
quase dez anos de lutas foram frustradas não por culpa de quem se dispôs à
luta, mas por vivermos num país esquizofrênico, onde uma justiça mediana ainda
não deu as caras. Mas é preciso reconhecer que o envolvimento e a participação
dos maiores interessados nunca foi o que se espera de quem o vê chão de seu
emprego sumir aos poucos e de aposentados surpreendidos com uma criminosa
redução de 92% em suas aposentadorias.
Quando tudo ia bem – ou só
aparentava não estar indo – não se acusava o perigo de uma empresa como a Varig
acabar, eliminando milhares de empregos e levando famílias ao desespero.
Parecia um sonho mau pensar que direitos trabalhistas ficariam engavetados por
uma década – e ainda sem sinais de desengavetar – e que aposentados iriam
receber apenas 8% de seus benefícios (alguns nem isso) durante mais de CEM
MESES - e contando.
Essa aritmética sinistra - se
tem um lado bom - é o de nos fazer pensar. Estamos todos dez anos mais velhos,
mais frágeis e mais excluídos dos meios de gerar renda honestamente. E nem é
preciso lembrar que, se para muitos brasileiros começa a aparecer a verdadeira
face dos que ocupam o poder no país, nós, os trabalhadores da Varig (há muitos
anos) somos as cobaias desse experimento perverso.
Mesmo uma criança pode pegar
uma calculadora e verificar a soma de CEM salários não pagos. Embora no caso
dos demitidos o cálculo seja mais complicado devido às particularidades, cada
um de nossos colegas que perdeu o emprego sabe o quanto de renda perdeu e como
foi prejudicado. E todos juntos sabemos que uma montanha de dinheiro gerada por
nosso trabalho duro foi criminosamente roubada de nós todos.
Não devemos pensar que seja
uma atitude inócua pegar o último contracheque cheio – recebidos da Varig ou do
Aerus - e fazer as contas do que nos tiraram. Calcular os valores ao longo dos
anos, considerar as correções devidas e relacionar com o que a vida que poderia
ter sido - caso não fossemos roubados, não deveria ser fator de mais ansiedade
e depressão.
É difícil, eu sei, mas, talvez
fosse melhor transformar esses sentimentos tóxicos em atitudes. E uma dessas
atitudes é se juntar ao grupo (mais de 300 no momento) que tenta movimentar a
Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em San José da Costa Rica.
Um juiz brasileiro, que foi (ou ainda é) vice-presidente desta Corte, diz com
todas as letras e referindo-se aos países membros que:
“Os direitos sociais devem ser objeto de
desenvolvimento progressivo” e que se deve respeitar “O Princípio do não retrocesso
– a não diminuição dos direitos de natureza social.”
Tudo a ver com a nossa longa
noite esperando.
No vídeo abaixo, mais ou menos
aos 10 min.
Correr os perigos, mas
vislumbrar as oportunidades e tomar atitudes - são qualidades de pessoas
inteligentes. Se nós variguianos não tivéssemos valores, a Varig nunca teria
sido a empresa que foi. É nas horas difíceis, como esses tempos cruéis que
suportamos que essas qualidades se tornam mais necessárias.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 8-7-2015
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