Adriano Benayon
O colapso financeiro recente,
cuja primeira grande crise ocorreu em 2007, vai continuar produzindo incalculáveis
danos para a humanidade. De fato, apesar de o colapso ser flagrante, os
segmentos sociais revoltados por causa das consequências dele, não lograram
organizar-se, nem arrebatar o poder dos que o tem causado.
2. No 2º semestre de 2011
estão presentes novamente os fatores explosivos que fizeram detonar a crise de
2007/2008, como derivativos em montante acima de US$ 600 trilhões, contando só
os negociados diretamente entre as partes, sem incluir, portanto, os
transacionados em Bolsas. A isso se soma agora a perspectiva de inadimplência
dos Estados Unidos e de países da União Europeia em suas dívidas públicas.
3. Seis grandes bancos de Wall
Street estão expostos em US$ 1,5 trilhão, só nas dívidas da Espanha e da Itália.
Outro tanto, ou quase, de créditos a esses dois países está na carteira de
bancos alemães e franceses.
4. As economias e as
sociedades desses países afundam cada vez mais na depressão, enquanto o FED nos
EUA e o Banco Central Europeu emitem moeda e dão créditos de graça aos banqueiros
criadores e detentores de títulos podres privados e públicos, além de comprar
esses títulos por muitíssimo mais do que valem.
5. O Escritório de
Responsabilização (Accountability) do Governo - GAO, vinculado ao Congresso dos
EUA, fez auditoria na Reserva Federal (FED) a pedido do senador dissidente Bernie
Sanders. O relatório revelou que, de 01/12/2007 a 21.07.2010, o FED concedeu
empréstimos secretos a bancos e corporações financeiras, no montante de 16,1
trilhões de dólares, quantia maior que o PIB dos EUA (US$14,5 trilhões).
6. Esse dinheiro não flui para
a economia, vai para a especulação, e a perspectiva é de que a depressão se
torne ainda mais trágica, por causa dos cortes nas despesas públicas e dos aumentos
de impostos “para reduzir os déficits orçamentários”.
7. Observadores apressados
animam-se com o fim do império, ao verem a continuada queda de valor do dólar e
ao rebaixamento da cotação dos EUA, por parte de uma agência de risco de
crédito.
8. Não avaliam que a
oligarquia financeira se tem aproveitado do colapso que gerou, para dar imenso
salto qualitativo na concentração, demonstrando, ademais, controle total sobre
os governos das “democracias representativas”, as quais nada têm de democráticas.
9. Mesmo nos países centrais,
os donos das finanças – e do poder – já haviam, desde os anos 80, feito crescer
muitíssimo a concentração de riqueza real e financeira, determinando políticas
públicas, como a fiscal, as quais os favoreceram cada vez mais. Após a virada
do século, acumularam quantidades imensas de lucros mediante a fraudulenta
explosão dos derivativos, um dos fatores que levou ao colapso.
10. Como o grosso desses
derivativos não tem sustentação real, o prejuízo decorrente foi maior do que
aqueles lucros. Entretanto, foi pago pelos Tesouros e bancos centrais.
11. A consequência disso é
que, além de grandes bancos estarem de novo perto da falência por terem
reincidido na bandalheira dos derivativos, agora também ficaram em situação de
pré-inadimplência os Estados “soberanos”, que salvaram os bancos após a crise
de 2007-2008.
12. Os Estados imperiais ainda
pagam juros muito baixos em suas dívidas públicas demasiado altas (120% do PIB
nos EUA), mas esse não é o caso, da periferia européia, na qual as taxas vêm
subindo e agravando muito as coisas.
13. No Brasil a dívida pública
ainda representa percentual tolerável do PIB, mas o “governo” e o BACEN parecem
fazer questão de que o Brasil entre no rol dos falidos, pela composição dos
juros às taxas absurdamente altas que decretam em prejuízo do País.
14. Voltando à questão nos EUA
e Europa, passada a primeira crise do colapso financeiro, graças à incrível e
imoral ajuda pública, a oligarquia fez elevar exponencialmente, através da
depressão, o grau de concentração. Durante as depressões, o poder relativo dos
concentradores cresce muito, com as perdas das empresas menores e dos assalariados,
e aqueles se aproveitam para adquirir ativos a preços de liquidação, sem falar
nos ganhos com novas especulações financeiras.
15. Com efeito, eles dominam as
economias centrais e ainda mais as periféricas, de cujos recursos naturais se
apossam celeremente, colocando a humanidade na rota da escravização total, para
não dizer do extermínio.
16. Por enquanto, não é o
império nem o capitalismo que está acabando. Quem está com a sobrevivência em
perigo são as vítimas do capitalismo. Mais importante: às centenas de milhões
de pessoas que já se danaram no processo, outro tanto vai sendo acrescentado ao
rol dos destituídos e massacrados.
17. O sistema de concentração
financeira e econômica nas mãos de poucos grupos e famílias oligárquicas (essa
é a definição de capitalismo) prossegue causando estragos em escala crescente:
desemprego, miséria, rebeliões de seu interesse, guerras de grande vulto
planejadas pelos diretores do capitalismo, conscientes da desconstrução
diabólica que estão realizando, a fim de tornar sua tirania cada vez mais
absoluta.
18. Não se pode prever quando
isso vai parar. Mas se poderia inferir a única maneira possível de conseguir: retirando
das mãos dos donos da concentração e da tirania mundial o poder que eles detêm
sobre os governos, os aparatos militares e os serviços secretos que comandam.
19. Embora cada vez mais horrores
sociais e econômicos estejam acontecendo e gerando revolta, também cresce a
repressão policial e o totalitarismo na desinformação. Esses horrores só
acabarão, se as sociedades encontrarem um modo de conquistar o Estado e
organizá-lo sob princípios do bem comum, somente viável sem bancos privados com
direito a criar dinheiro e se forem quebrados os oligopólios e os cartéis.
Título e Texto: Adriano
Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escritura
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