quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Reforma política – IV


Peter Wilm Rosenfeld
Refiro-me principalmente à reforma do sistema eleitoral, que vem sendo discutida há já bastante tempo.
Fico satisfeito por verificar que cada vez mais jornalistas e cientistas políticos estão divulgando e propagando a adoção do sistema distrital puro, descartando o sistema atual e um dos mencionados por políticos mal-intencionados, a verdadeira excrescência do distrital misto.
A propósito vem-me à lembrança a triste frase de um deputado federal gaúcho (sempre os gaúchos...), com base eleitoral na cidade de Santa Cruz do Sul e já reeleito penso que mais de uma vez, “lixo-me para a opinião dos eleitores”. (deixo de mencionar o nome do parlamentar para não ser processado...).
Mas essa frase retrata perfeitamente o que a quase totalidade dos deputados e senadores realmente pensa com relação aos eleitores. Somente durante o período eleitoral é que se lembram de que os eleitores são os responsáveis diretos por sua eleição; sem os votos os parlamentares não estariam no Congresso!
Com o sistema distrital, jamais um parlamentar poderia sequer pensar em expressar algo parecido. Os eleitores acompanham de perto e com interesse sua atuação e como votou determinados assuntos.
Parece-me oportuno mencionar que, durante determinado período, atuei como lobista brasileiro nos EUA, participando de um grupo que viajava àquele País duas vezes por ano para esse fim.
A atividade incluía contatar Senadores e Deputados que, especialmente, se interessavam por assuntos de comércio internacional ou pela América do Sul e o Brasil.

Contatamos muitos deputados e, inúmeras vezes, durante a visita a um deles, ao ser anunciada a votação de determinada matéria, o parlamentar nos pedia licença por alguns minutos pois o projeto que iria ser votado interessava de perto a “seus eleitores”, o que queria dizer, aos eleitores do distrito pelo qual havia sido eleito, e que seu nome tinha que constar entre os que tinham votado a favor (ou contra, claro).
Nenhum parlamentar brasileiro tem necessidade de agir assim pois, como se sabe, a grande maioria dos eleitores não se lembra de em que candidato votou pouco depois de haver votado.
E a fiscalização do eleitorado é fundamental para o tipo de comportamento do parlamentar. Esta, a meu ver, é a primeira grande vantagem do sistema distrital puro.
Essa alteração traz outra em seu bojo: cada voto valerá um voto, ao contrário do que temos hoje, quando um voto em certos estados vale muito mais do que um voto em outros.
Ao mesmo tempo, nenhum estado deixa de ser representado no congresso, nem que seja com um só deputado.
A segunda e grande vantagem são os custos da eleição.
No sistema atual, apresenta-se ao votante de uma cidade qualquer uma lista com centenas de nomes de candidatos, dezenas de cada partido e ele deverá escolher apenas um nome. Não há alternativa senão levar para a cabine de votação um papel com o nome e o número do candidato.
No sistema distrital, em que cada partido teria apenas um candidato por distrito, esse problema é inexistente. As intermináveis listas, com centenas de nomes, seriam substituídas por uma com apenas um nome por partido. Só a economia em papel já seria significativa! E os votantes poderiam acompanhar com facilidade a atuação do que então seria seu representante no Congresso. Esse acompanhamento é importante para os votantes que votaram no candidato e para os eleitores da oposição!
Os candidatos/partidos também economizariam. Repito aqui o que já escrevi mais de uma vez em artigos anteriores: a resposta dada pelo Sr. Harold Wilson, político famoso filiado ao Partido Trabalhista Britânico (Labour Party), que foi Chefe de Governo durante alguns anos, quando lhe perguntaram quanto havia gasto na campanha eleitoral anterior: “Minha despesa correspondeu ao de três solados de sapatos”. E isso porque tinha percorrido a pé, várias vezes, todo seu distrito eleitoral (que evidentemente, tinha grande densidade eleitoral, com grande número de eleitores por quadra).
O custo milionário de campanhas eleitorais desapareceria completamente em distritos densamente povoados e seria pequena nos demais distritos.
E desapareceriam os famosos “caixas dois” e tudo o que elas representam de ruim.
Morreria a discussão de financiamento público de campanhas eleitorais, pretendida por alguns partidos, notadamente o PT, que é de um descaramento vergonhoso!
Outra alteração necessária é a de terminar com os suplentes. Aliás, com essa alteração vem outra, igualmente importante: se um parlamentar for convidado e aceitar assumir um ministério, ou outro qualquer cargo no poder executivo, deve renunciar a seu mandato. Ou a pessoa integra e representa o poder executivo, ou prefere ser parlamentar e exerce o mandato.
O que temos hoje, no Brasil, é verdadeiramente indecente: um parlamentar (senador ou deputado, dá no mesmo) aceita um cargo no executivo, licencia-se e assume um cargo no poder executivo. A partir daí realmente não se sabe se é membro do poder executivo ou do legislativo, até porque, como acontece frequentemente, o membro do legislativo licenciado se licencia de seu cargo executivo para poder votar determinada matéria que interessa ao executivo; logo após votar, licencia-se de seu mandato e reassume seu cargo no executivo. Como diria um de nossos mais famosos frasistas já falecido há muito, Stanislau Ponte Preta, isso é um “samba de crioulo doido”!
Haveria que discutir seriamente se deve ser mantido o sistema bi-cameral, com câmara e senado.
Em princípio, penso que sim, deve ser mantido. Até porque, com o voto distrital, é possível que determinados estados tenham apenas um, ou dois, representantes na câmara.
Para assegurar que haja um certo equilíbrio federativo, no senado todos os estados terão igual número de senadores, não importa quão grande ou quão pequena seja a unidade federativa.
Mas isso impõe que o senado seja a casa revisora e não o que temos hoje, em que projetos podem tramitar inicialmente tanto na câmara como no senado.
No caso da suplência, tem que valer a mesma regra que a proposta para a câmara: sem suplentes. No caso de vacância, haverá eleições suplementares para eleger o novo parlamentar. E basta que haja um senador por estado!
Não desejo me alongar nessas considerações. Penso que o fundamental de minha idéia está expresso.
Não posso encerrar, porém, sem uma consideração sobre a entrevista que a Presidente, Sra. Rousseff, concedeu à jornalista Patricia Poeta no programa Fantástico de domingo à noite:
Que pobreza e quanta mentiram! Era o Sr. da Silva, mas com muito melhor aparência...
Título e Texto: Peter W. Rosenfeld, Porto Alegre, RS, 14 de setembro de 2011
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